SETE!

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Este ano as vagas nos cursos de Medicina vão aumentar. Vai haver mais SETE! Se não fosse dramático, seria anedótico! Mais sete? A sério, senhora Ministra? Elvira Fortunato justifica a “frugalidade” com dois argumentos: o custo e a qualidade! Formar um médico é caro, sem dúvida mas a situação catastrófica do SNS é ainda mais, quer seja contabilizada pelo sofrimento indevido e adiado, pela deterioração da força de trabalho e até pelo custo adicional das horas extraordinárias (mais caras e menos eficiência por razões óbvias) bem como pelas verbas sistematicamente requeridas para as contratações em regime de prestação de serviços de empresas e médicos estrangeiros. O risco de diminuição de qualidade prende-se, paradoxalmente, pela “escassez” de enfermarias na proximidade das Faculdades de Medicina. Obviamente que as aulas práticas, em ambiente real, são importantíssimas mas esta constatação só vem evidenciar o óbvio: as novas vagas, necessárias e urgentes, devem ser abertas longe das atuais Escolas Médicas. Inexplicavelmente, a ministra do Ensino Superior veio dizer à RTP que é necessário avaliar se não haverá médicos mais do que suficientes e, como tal, advogou a constituição de uma comissão para analisar a situação. Oh senhora Professora Elvira, não quero crer que o desiderato advogado seja apenas a tristemente célebre maneira de adiar para as calendas um qualquer problema de difícil ou trabalhosa solução. A escassez de profissionais de saúde é uma realidade que resulta da circunstância de se estarem a reformar milhares de médicos em número substancialmente superior ao dos licenciados que, nos mesmos anos, vão sair das Faculdades Médicas. De tal forma previsível que vem sendo alertada por vários responsáveis, como recentemente avisou o especialista em gestão de saúde e antigo ministro da pasta, António Correia de Campos. Mas, mesmo que a investigadora da Universidade Nova, por estranho e inverosímil acaso, desconhecesse tais avisos à navegação, bastar-lhe-ia meter-se no carro e percorrer as várias urgências das regiões metropolitanas ou, melhor ainda, as Unidades de Saúde do interior. E, neste último caso, teria, como bónus, a evidenciação de que os Cursos de Medicina terão, por estas bandas, enfermarias suficientes e aptas a receber dezenas de estudantes clínicos. Portanto, senhora Ministra, a solução passa pela criação de novos Cursos, mas não nos locais do costume, antes, nas Unidades de Ensino de qualidade que também as há, longe do litoral, como é o caso mais do que provado do Instituto Politécnico de Bragança ou a Bragança Polytechnic University, como passou a denominar-se. E que, tal como as restantes instituições de ensino superior, passou a poder lecionar e atribuir doutoramentos o que, nos tempos que correm, já não é bizarria nenhuma, antes uma necessidade do ensino avançado de qualidade e, no caso concreto, a resposta aos avanços do conhecimento científico em biomedicina. O que desespera é a morosidade na tomada de decisão que agrava o problema e dramatiza o futuro. A formação de um médico leva seis anos até à conclusão da licenciatura e mais quatro a seis, de formação avançada. A formação de uma Escola de Medicina, “tradicional” demorará perto de uma dezena de anos a estabelecer dentro dos parâmetros aceitáveis e necessários. Tempo demasiado para ser útil na resolução da emergência que nos assola. Há que encontrar outras vias e outras soluções que seja capaz de “produzir” profissionais competentes e de qualidade em menor tempo. O IPB, ou seja a BPU, está a programar, para o final de maio, uma conferência onde estes assuntos serão abordados e onde se espera surjam boas soluções.

José Mário Leite