Se um deputado incomoda muita gente...

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A democracia não é um sistema político vergonhoso contrariamente ao que os políticos portugueses induzem os seus concidadãos a pensar. Bem pelo contrário! É o único sistema que verdadeiramente dignifica e engrandece o ser humano. Vergonhosas, sim, são as autocracias, socialistas ou fascistas, que não respeitam a liberdade, não têm em conta a vontade dos cidadãos, usam a justiça como mero instrumento de poder e fazem tábua rasa dos direitos do homem. O regime político português, pese embora o facto de se enquadrar na matriz democrática é, em matérias fundamentais, vergonhoso por muito que custe admitir aos machuchos que o tutelam. A governação incompetente e facciosa, os vícios crónicos da Administração Pública, a corrupção endémica, o funcionamento obscuro da justiça, a dívida pública relapsa, a lei eleitoral enviesada e os persistentes índices de pobreza, citando apenas alguns dos males mais evidentes, criaram no cidadão comum sentimentos de profundo desagrado como o demonstra o uso recorrente da expressão popular “ Isto é uma vergonha!”, dirigida a actores e a actos políticos. Assim se explica que o deputado André Ventura incomode tanta gente, só porque se atreve a invectivar, alto e bom som, os vícios sistémicos da governança e faz uso, em sede de democracia, dessa mesma expressão consagrada popularmente, muito embora não tenha sido ele que a inventou. Mais honroso e sensato seria que, face a tantas vilezas do Regime e do Estado, todos os deputados sem excepção, gritassem em uníssono “isto é uma vergonha!” e se congraçassem para pôr termo a tamanho despautério. Até porque se trata de matérias que não colidem com os ideários que apregoam, embora não constem das suas boas práticas políticas. Mas não. Entendem escandalizar-se, quais virgens ofendidas, com as intervenções do deputado atrás citado que, até mais ver, se tem limitado a mostrar que o rei vai nu. Muito em especial os deputados do statu quo que, incapazes de lançar a reformas indispensáveis para colmatar tamanhas vergonhas públicas, continuam a varrer o lixo para debaixo do tapete e a iludir o povo com as migalhas e arganas que sobram do banquete político. A maior vergonha, porém, é não ter-se vergonha nenhuma e a Assembleia da República envergonha mais a democracia do que a dignifica. Só assim se compreende que o deputado André Ventura, que mais parece um solitário cavaleiro- -andante, incomode tanta gente. Notório é o nervoso miudinho que as suas intervenções causam no primeiro- -ministro e que os correligionários deste, sistematicamente procuram abafar com aplausos ruidosos e patéticos. Mais triste, ainda assim, foi a desastrada reação do Presidente da Assembleia da República que, porque enfiou a carapuça, só pode ser, censurou, em pleno plenário, o deputado em causa, com evidente propósito de o silenciar, quando em situações, essas sim graves e escandalosas, não levantou um dedo sequer. O que só vem confirmar que Ferro Rodrigues não possui suficiente estatura e competência democrática para o cargo para que foi cooptado. É por demais óbvio que o actual Regime, agora dominado por uma esquerda renegada, estava a precisar de abanões deste teor. Se um deputado incomoda muita gente, os demais incomodam muito mais. Boas Festas Vale de Salgueiro, 18 de Dezembro de 2019.

Henrique Pedro