Nas conversas com os residentes, nas minhas frequentes viagens ao nordeste, não encontro qualquer anseio em ter, na região, um aeroporto internacional, nem sequer, poder desfrutar de uma viagem a Madrid, em alta velocidade. Gostam de ver passar a volta, apreciam as feiras medievais e outros eventos mediáticos e, claro, não perdem as festas de verão, mas no que preocupa a nossa gente, sobressaem a apreensão com a educação e futuro dos filhos e, sobretudo a ansiedade com a saúde dos pais e demais membros da família. Das duas uma, ou as pessoas com eu falo não são ouvidas pelos responsáveis regionais ou quem os ouve não lhes dá a importância devida. Ao contrário do que acontece localmente, estes temas despertam a atenção governamental e não escapam ao escrutínio da oposição, sendo motivo de disputa verbal e pública, com propósitos e análises polémicas de variada interpretação e aceitação. Por razões óbvias: Quando a lista de utentes à espera de uma operação para lá do tempo máximo estipulado na lei aumenta (atingido um valor superior a 74.000), quando o programa para acabar com este excesso em doentes oncológicos deixa de fora 8.000, quando cresce o número de urgências encerradas e o plano conduzido por Fernando Araújo (homem de reconhecido mérito e competência com provas dadas) foi suspenso e ainda não há plano alternativo… os cuidados de saúde não estão melhores, diga o que disser o Primeiro Ministro. Quando, recorrentemente, não é possível contratar os especialistas que o SNS necessita e que nem as vagas abertas são preenchidas, quando os licenciados não compensam (a situação vai agravar-se nos próximos anos) as saídas para a reformas e para o crescimento natural das necessidades… não há médicos suficientes em Portugal, diga o que disser a Ordem dos Médicos. Quando, apesar do tremendo erro do abandono de um plano que estava já a dar sinais de estar no bom caminho, por questões de ordem pessoal ou política, que não de competência e empenho, o governo reconhece que, sejam quais forem as medidas no curto prazo, a médio e longo prazo a situação do SNS passa, necessariamente, pelo aumento da formação em saúde (licenciaturas, especializações e, é bom não esquecer, doutoramentos)… a política governamental está no bom caminho, diga o que disser a oposição. É bom ter na devida conta que não é o governo que aprova os cursos superiores, sejam licenciaturas, mestrados ou doutoramentos. Essa decisão é da competência da A3ES (Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior) e o processo não é simples nem imediato nem é expectável que seja, sequer, célere. Não se espere que haja fumo branco antes de dois anos. Com um ensino tradicional (tudo indica que será esse o modelo de opção da UTAD) só dentro de uma década é que poderá começar a sentir-se a necessária e urgente mudança. De qualquer forma é motivo de alegria para os transmontanos, sendo devido um elogio às forças vivas de Vila Real que, por ação eficaz ou aproveitando a falta dela, em putativos concorrentes conseguiram a indicção do Primeiro Ministro. Enquanto nordestino, estou dividido: é bom ter o próximo curso de medicina em Trás-os-Montes, mas seria muito melhor tê-lo em Bragança. Porque a concentração de valências se opõe à necessária política de discriminação positiva pelo interior, por- que podia e devia ser um motivo de união das vontades nordestinas à volta de um motivo real e mobilizador, mas, sobretudo porque, sendo no IPB era o primeiro a ser atribuído a um Instituto Politécnico onde haveria abertura a um modelo capaz de formar competentes profissionais de saúde num prazo mais curto e, por consequência, mais adequado às necessidades.