Quem diria.

PUB.

Muito boa tarde a todos. Então esses dias como vão? Já chegou o Outono ou agora o Verão passa o testemunho directamente ao Inverno sem passar cavaco a esta estação do ano? Apanhar castanhas em mangas de camisa não é lá muito agradável, sobretudo porque tem reflexos no preço de venda. São Pedro que faça bem o seu trabalho e traga de lá o frio e as chuvadas que se querem por esta altura, pelo menos até deixar São Martinho tomar conta do boletim meteorológico durante uns dias. Este Verão trasmontano, onde a castanha é o astro-rei, é movido a chuva e a frio quanto baste. Por isso oxalá esteja tudo em conformidade e não falte castanha de qualidade nem bons convívios à volta dela. Força! É por aí, neste meu bom convívio convosco, que hoje vou falar um pouco de como as pessoas vivem e convivem nos tempos que correm. No outro dia estava a dar uma vista de olhos pelas notícias no site da BBC e achei piada a uma daquelas tiras de cartoons ou desenhos animados em que alguém mais velho dizia para um jovem algo do género “antigamente é que ser emigrante era difícil, demorávamos dias a viajar, recebíamos uma carta de quando em quando, vivíamos isolados, etc.” e depois surge uma foto do jovem com o telemóvel na mão e a dizer “ok pai, desculpa mas agora vou ficar sem bateria, falamos mais tarde.” Sem mais demoras dois nomes estrangeiros mas que quase toda a gente aprendeu a pronunciar na perfeição. Skype e Whatsapp. Muito provavelmente as melhores invenções do século vinte e um. Pois, bem me parecia que muitos de vós concordáveis comigo. Quão importantes se tornaram para nós comunicarmos. Como vieram aproximar as pessoas, se está frio, se está calor, o que é que se comeu, o que é que se bebeu, aí vai a foto do domingo em família e dos rapazes que já vão criados. Reparem que agora logo é notícia que alguém anda desaparecido se passou dois ou três dias sem dar sinal de vida. Sem dar sinal de vida virtual, bem entendido. Algo de errado se passa se não se está ligado. Interessante como vemos e sabemos dos outros, como no controlamos. É verdade sim senhor, tudo tão igual desde há tantos anos a esta parte. Às vezes imagino quanta gente viveu décadas sem luz eléctrica até aos anos 70 e que hoje se tornou um ás destas ferramentas. Quando digo “quanta gente” leia-se meus pais, pelo menos. Como as coisas mudaram e de forma tão imprevista. Aos 20 anos à luz das velas – creio que não era tão romântico como esta frase acabou de soar – e aos 60 de “cacharrico” na mão – um dia hei de vos falar sobre as palavras estranhas que a minha mãe sabe – a escrever mensagens e a enviar fotos para o outro lado do globo. É realmente incrível quando penso nestas coisas, em como hoje é fácil estar em contacto. Sabem que eu gosto sempre de fazer a ponte ou de dar a conhecer um pouco dos hábitos por estas bandas. Os chineses não usam as nossas redes sociais, algumas até estão censuradas, têm as suas próprias, e como são tantos, costumam ter mais usuários do que as ocidentais. Em abono da verdade os chineses são muito mais tecnológicos do que nós. Compra-se um telemóvel numa loja e passado três meses já lá não está. Quando vou a uma das nossas lojas de telemóveis sinto-me num local com dispositivos a caminhar para o pré-histórico. Aqui há muitas marcas, muita oferta, muita procura. Vai-se no autocarro, novos, velhos, não há ninguém que não vá de olhos baixos no ecrã. Normalmente a ver as novelas deles. Por exemplo, é sabido quão útil é o Whatsapp, mas os chineses têm uma aplicação idêntica mas ainda melhor. Toda, mas toda a gente sem excepção a usa para comunicar. Não se dá o número de telemóvel, dá-se o número do Wechat. Tem dezenas de funções, inclusive partilhar carros. Estamos numa rua movimentada, pesquisam-se os carros aderentes e “pede-se” boleia. Apanha-se um carro na hora, num par de minutos, muito mais rápido do que demora um táxi a passar. Para que não haja dúvidas sublinho que isto se passa na China. Na eventualidade de algum caro amigo taxista estar a ler, queira ficar descansado. A função mais comum é o pagamento ou transferência de dinheiro. Sou um bocado conservador nestas coisas mas durante uma destas semanas decidi experimentar. Percebi porque há pessoas que nem sequer usam carteira. Em todo o lado se pode pagar com esta aplicação. Quando digo todo o lado é mesmo todo o lado. Desde a mulher que vende legumes na praça, ao hipermercado, loja de bairro, centro comercial, todo e qualquer restaurante. Gostei da experiência, bastante exótica para mim, mas a coisa mais comum do mundo para eles. Quem diria. Um abraço!

Manuel João Pires