Não falta quem se entretenha, nestes dias de chumbo, a enegrece-los ainda mais procurando encontrar, nos responsáveis da saúde pública, nas autoridades locais e demais agentes de segurança, afirmações, resoluções, indicações e atuações pretéritas que, à luz do que hoje sabemos, são polémicas, duvidosas e até erradas.
Mesmo sabendo que, de algumas delas, podem resultar consequências graves e, mesmo, dramáticas, não podem, nenhuma delas, ser analisadas, retirando-as da envolvente temporal e das alternativas então em confronto.
Admitindo que a propósito da pandemia possa ter havido abusos (o estado de emergência aligeirou os procedimentos mas não suspendeu a democracia) e desses haverá que dar a devida conta, no que diz respeito especificamente à COVID 19 e seu combate, não acredito que tenha havia quem possa ter agido de má-fé ou, tão pouco, negligentemente, sabendo ser assim. Nesta guerra estamos todos do mesmo lado da trincheira. Não se entendem, por isso, as acusações públicas a determinadas personalidades. Não é com divisões, muito menos expostas na praça pública que reforçamos a unidade tão necessária neste combate que é de todos. As alterações de estratégia de combate à pandemia são naturais e, nem sempre, representam assunções de que as anteriores estavam erradas. Vejamos um exemplo simples: o uso da máscara.
Havia, neste caso, em concreto, duas recomendações que se analisadas e levadas à risca se contradiziam. As máscaras só devem ser usadas por agentes públicos de saúde e outros bem como por quem esteja infetado. Uma minoria, portanto. Sabendo que ninguém tem a certeza de não estar infetado (os sintomas demoram uma semana, normalmente duas a manifestarem-se e a serem detetados pelos testes) cada um deve comportar-se, sempre, como se estivesse infetado... ou seja, deve usar máscara. Contudo, como facilmente se verificou, não havia máscaras suficientes e, portanto, a decisão certa era reservá-las para quem mais delas precisava e de cujo uso maior benefício trazia para tarefa: os agentes de saúde, os infetados e demais agentes públicos ativos.
Com o decorrer do tempo esta “norma” foi sendo ajustada e começa agora a ser “tolerada” e até mesmo recomendada. Ora, numa análise simples, o uso generalizado de máscaras era mais eficaz no início da pandemia do que agora. Por uma razão muito simples: o vírus não viaja de forma autónoma e se todos usassem máscara, quem quer que estivesse contaminado não o espalharia, sendo essa a forma mais bem-sucedida de evitar a contaminação. A função da máscara serviria para não contaminar nada nem ninguém. No que a máscara é mais eficaz pois bastaria cobrir adequadamente a boca e, complementarmente o nariz. Hoje que o agente patogénico já se espalhou e pode estar, mesmo que temporariamente, em qualquer objeto de uso comum, a máscara serve para proteger o seu utente de ser infetado e já não é tão eficiente pois a proteção facial tem de ser completa na boca, nariz e olhos e podemos ser contaminados pelas mãos, principalmente, mas também pela roupa e calçado.
Sabendo tudo isto, contudo, podendo as recomendações oficiais ser outras, não é líquido que fossem mais eficazes ou mais adequadas ao combate concreto.
Igualmente há razões para questionar, se não no curto prazo, pelo menos no médio e longo prazo, as imposições de isolamento social. É uma questão que não pode já ser analisada (faremos isso num próximo texto se ainda for útil) mas é difícil sustentar uma opção diferente da tomada pelo Governo Português, como a Inglaterra veio comprovar.