Há quase cem anos, Fernando Pessoa escrevia o célebre slogan com que a Coca- -Cola pretendia entrar em Portugal. O poeta dos heterónimos glosava com a capacidade adaptativa dos seres humanos perante as novidades, sejam adversas, benéficas ou nem uma coisa nem outra. Realidade que é extensível a todos os seres vivos, residindo nela o segredo e a maravilha da biodiversidade e da evolução. É bom não a esquecer, para o bem e para o mal. Após um período de bom comportamento generalizado, assistimos ao retrocesso em vários locais. Qualquer um de nós, antes de apontar o dedo a quem usa máscara com o nariz destapado, afastando-a da boca e empurrando-a para o pescoço, deveria fazer um pequeno exercício e lembrar-se de gestos que infelizmente se esqueceram rapidamente, com o avançar do desconfinamento, mesmo que, felizmente outros se tenham enraizado. O à vontade com que começamos a lidar com o vírus que, apesar de invisível, continua presente, é o novo risco, passada que foi a temporada das contaminações exponenciais com que nos apanhou de surpresa. O risco do relaxamento tão natural, quanto perigoso, contrasta com o avanço do conhecimento e das descobertas que a ciência continua, diariamente, a fazer, sobre este intruso que veio, de surpresa, para se instalar e reclamar o seu lugar, nas nossas vidas. Das muitas que vão surgindo e que, lembrá-las a todas seria desvalorizar cada uma, há duas que me mereceram devida e apropriada atenção, talvez, porque não?, por me chegarem através de instituições que muito me dizem, já há vários anos. Zachary Mainen, um dos investigadores de referência do Centro de Investigação em Neurociências da Fundação Champalimaud anunciou estar a coordenar em Portugal um amplo projeto internacional, liderado por uma equipa de cientistas israelitas, que tem por tema a avaliação da capacidade olfativa, sendo a sua diminuição ou perda, um alerta precoce para a infeção por COVID-19. Este programa acessível a todos permite que, por comparação diária dos cheiros de várias substâncias, se possa avaliar o estado dos interessados. Miguel Che Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciência, em declarações à TVI veio esclarecer alguns aspetos fundamentais e há muito conhecidos da pandemia e, igualmente, descobertas recentes e preocupantes. O vírus, quando infeta uma pessoa, se não conseguir transmitir-se, morre. “Se pararmos a transmissão, matamos o vírus e ele desaparece.” – disse. Disse também que a transmissão se faz por partículas de 5 micrómetros expelidas quando alguém infetado fala ou tosse e que podem ser projetadas até dois metros de distância, antes de caírem no solo. Daí se ter fixado essa distância como padrão do afastamento social seguro. Porém, investigações recentes vieram demonstrar que as referidas partículas, em ambientes quentes (entre 25 e 35 graus celsius) e relativamente secos (entre 10% e 40% de humidade relativa) as mesmas gotículas dividem-se em outras mais pequenas que, sendo mais leves, permanecem no ar durante mais tempo, atingindo distâncias perto de dez metros, antes de caírem de vez. Como o vírus mede entre 0,8 a 0,9 micrómetros, há perto de cinquenta em cada uma das primeiras, permanecendo nas segundas em número suficiente para infetar quem as inale. Daí a perigosidade da concentração de pessoas em locais de fraca ventilação, temperaturas elevadas e baixa humidade, como os transportes públicos onde, precisamente, se aglomera mais gente!!! Como nota positiva, o investigador confirmou que o tratamento por ultravioletas tem apresentado bons resultados na eliminação do coronavirus pelo que seria bom dotar os sistemas de ventilação de equipamento com essa tecnologia.