O universo da precarização laboral cresce continuamente, por cá a regularização de alguns milhares de precários existentes na função pública coloca termo a situações escandalosas, no entanto, a árvore não pode, nem deve tapar a floresta. Já escrevi acerca da revolução tecnológica em curso, cujos efeitos no domínio da manutenção do emprego é, proporcionalmente, de custos bem mais elevados dos que gerou a Revolução Industrial.
A Amazon a maior empresa de livros no Planeta sem ser editora, ou a Ali Babá imenso escaparate desprovida de suporte físico, revelam o vai vem das compras desenvencilhando-se de profissionais de várias categorias do «clássico» sistema organizacional do comércio. No caso da comunicação social o problema é mais avantajado, mais bicudo, mais preocupante, isto porque a mola real da sua sobrevivência assenta na publicidade e esta foge continuamente para as redes sociais e canais on-line. O Facebook concentra 80% da publicidade digital sem gerar conteúdos e contratar jornalistas.
Há anos o Doutor Alexandre Manuel, antigo jornalista e editor, agora professor no ISCTE, no decorrer de um colóquio em Bragança afirmou só acreditar na sobrevivência da imprensa regional tendo explicado a causa da sua opinião. Recentemente, o Dr. Balsemão na esteira de outros empresários deixou indicações de pretender alienar várias publicações periódicas, exceptuando o Expresso por antes de ser a joia da coroa, é lucrativo.
Há dias um rapaz ficou sério e mal disposto quando lhe disse ser candidato ao desemprego ao ter escolhido o curso de comunicação social, ele ou anda distraído ou não gosta de perceber a realidade, só em Espanha foram dispensados 15.000 jornalistas nos últimos anos e mesmo o gigante El País enfrenta dificuldades, a venda da TVI é consequência do enorme endividamento do jornal.
A comunicação social das regiões sempre me atraiu, escrever no Diário de Notícias concedeu-me maior visibilidade, porém os jornais de vinculação local têm uma maior tempo de vida nas casas dos leitores, além desta fidelização, para o bem e para o mal, quem os lê joeira em crivo apertado o ponto de vista de quem escreve e se respeita a sua matriz intelectual. Sendo assim, e é, o escrevente não pode debitar sentenças impossíveis de cumprir, menos ainda proposta de actuação ou acção dos poderes públicos irrealizáveis, esbanjadoras, delirantes.
Ora, os despropósitos têm levado ao fenecimento de órgãos de comunicação social aumentando a precaridade redundante – os jornalistas, dos referidos órgãos – empobrecendo a nossa capacidade de expressão do pensamento pois os investidores não estão dispostos a sustentarem bagatelas de nefelibatas desprovidos do sentido da medida.
Sim, eu sei, nós sabemos quão grande é a transformação do Mundo minuto a minuto, dia da dia, em cruel competição a levar à aceitação da precaridade, os recursos são finitos, os candidatos a uma ocupação milhentos, longe vão os tempos dos empregos para uma vida.
Se me é permitido direi que ainda persiste na sociedade portuguesa o desejo de arranjarmos emprego à mesa do orçamento, como quem diz, na teta do Estado.
As clientelas partidárias ajudam à manutenção da referida ideia, daí a projecção das juventudes jotas no círculo dos jovens, apontando-se exemplos, ouvindo-se impropérios dos jotas quando não conseguem um lugar solarengo nas listas candidatas a eleições autárquicas e legislativas. Os contemplados bufam de alegre bazófia prestando-se a executar tarefas eivadas de truques e a transportarem a pasta dos seus «apoderados», muitos deles provindos de fornadas amais antigas de jotas.
A precaridade só se combate através do insano trabalho dos empresários geradores de riqueza, logo de emprego, e no espaço estelar dos jovens quando são competentes, empreendedores e atrevidos no explanar ideias brilhantes nos domínios inerentes à sua formação académica. Neste jornal vou lendo os sucessos de alunos do Instituto Politécnico de Bragança, eles não se deixam derrotar pelo fatalismo, são propensos à paciência de estarem anos no periclitante sistema das bolsas, todavia, em função do seu excelente currículo acabam por ter a «sorte» de obterem o sonho ou desejo que perseguem. Todos sabemos que a sorte dá um trabalhão, um trabalho dos diabos, mesmo no mês de Setembro!
Precários
Armando Fernandes