Há países, grandes e pequenos, com perigosas políticas de armamento a que atribuem somas astronómicas. Portugal insiste em gastar milhões numa perversa política de ermamento, ou de despovoamento, como se preferir. Dá vontade de os insultar: todos os governantes lusos defendem a coesão nacional mas aplicam verbas avultadas no aprofundamento das assimetrias reginais e no ermamento do território! O ermamento, note-se, não é um fenómeno natural mas o resultado de políticas deliberadas. Salazar, no que ao Interior diz respeito, dotou as sedes de concelho com hospitais, tribunais, postos de GNR, e as freguesias com escolas e humildes mas inovadores fontanários. O regime saído do 25 de Abril, com recursos muito superiores e beneficiando do factor modernidade, faz precisamente o contrário: concentra serviços e investimentos em Lisboa e no Porto, talvez para fazer birra ao ditador. Salazar que, apesar de ter morrido há mais de 50 anos e o salazarismo ter morrido com ele, continua a ser evocado, ironia do destino, sobretudo por políticos de esquerda, talvez com o intuito de disfarçarem incompetências e mais sinistros propósitos. Stalin e Mao também já morrerem há muito, mas o comunismo puro e duro continua firme na Coreia do Norte, em Cuba e na Venezuela. A Rússia e a China, agora mais próximas do nazismo/ fascismo, parecem ter recolhido de Hitler e Mussolini os piores ensinamentos. O mal, em Portugal, porém, não está no sistema democrático. Está no regime político que é, cada vez mais, um arremedo de democracia. Está na asfixiante hegemonia partidária. Nos governantes incompetentes e desonestos, que servem outros interesses que não os da Nação. No favorecimento da alta corrupção. Na viciação da Justiça. No perigoso endividamento do Estado. Nas políticas que expulsam nacionais qualificados. Nos autarcas subservientes que se vergam à vontade dos machuchos partidários em detrimento das populações que é suposto servirem. No sistema eleitoral que mascara e distorce a vontade do povo e que mais agrava as assimetrias. Muitos mais são os males crónicos que afectam o debilitado Portugal. Um, porém, merece o maior destaque porque é demolidor: o défice demográfico. Dois terços do território nacional estão transformados num imenso ermo. Não num deserto, note-se, porque a Mãe Natureza, no pretenso Interior desertificado, está mais pujante do que nunca. Matos, poulos, cobras, lagartos, aves e feras crescem e vivem livremente, apenas ameaçados pelos incêndios florestais que ganham especial gravidade com o despovoamento rural. Lamentavelmente o autodenominado Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) não se propõe resgatar as assimetrias regionais, económicas e culturais, porque não promove o investimento em áreas e matérias reconhecidamente essenciais para a recuperação demográfica. Em Trás-os-Montes, por exemplo, o triângulo central Mirandela, Valpaços, Macedo de Cavaleiros, em que vivem actualmente pouco mais de 50 000 habitantes, tem água, factor fundamental, e recursos naturais bastantes para suportar até 200 000 almas, com elevada qualidade de vida, privilegiando uma agricultura moderna e lucrativa e, porque não, parques de alta tecnologia apoiados em universidades de excelência. Tudo leva a crer, porém que irá continuar confinado aos enchidos e à emigração. O mesmo se dirá do eixo Chaves-Vila Real que possui, para lá do mais, raras potencialidades termais e turísticas. Outros exemplos se poderão encontrar por todo mal tratado Interior. Falta o investimento púbico indispensável para motivar maior investimento privado, alavancas de repovoamento, progresso e coesão nacional. A política de ermamento do Interior é intencional, portanto, ainda que disfarçada. Serve, obviamente, o centralismo económico, social e cultural de Lisboa. E a soberba de uns tantos. Sejam honestos senhores governantes.