1-Para além dos jornais e revista da especialidade todos os jornais generalistas, diários ou semanários, têm artigos de opinião sobre matéria económica. Além disso todos têm cadernos, separatas, revistas, “vulgatas ”etc sobre o tema. A profusão de textos sobre economia é enorme. Mas nem por isso estamos mais elucidados sobre o porvir económico. Porque os articulistas ao puxarem a brasa à sua sardinha partidária tornam os artigos contraditórios entre si. Ficamos sem saber para que lado nos havemos de voltar, afogados, que ficamos, num mar de chavões ou presos numa Babel de siglas. Números como os do desemprego ou do crescimento económico que me parecem objetivos têm da parte desses analistas apreciações múltiplas fazendo jus à velha máxima “os números quando bem torturados confessam sempre”. Veja-se o caso mais presente: os partidos que são hoje oposição, eram poder quando Victor Gaspar anunciou “ a brutal carga de impostos”, falam agora da “caça ao contribuinte”. Já não sei se é abusar da memória se é abusar da paciência.
Outra perplexidade que se me coloca é a seguinte: a crise Portuguesa “é-nos vendida” como consequência dos gastos sem controle, do esbanjamento com que diversos Governos encararam a governação o que provocou uma grande dívida pública. Essa dívida pública causaria receio nos mercados que por sua vez puxavam os juros para taxas incomportáveis. A dívida pública era, pois, a razão do pedido de ajuda externa. Ora chegados ao fim da intervenção da Troika com uma taxa de desemprego alarmante, com uma “brutal Carga de impostos”, com cortes diretos nos salários e pensões, depois de termos vendido os anéis do Estado, REN, EDP, ANA, CTT, etc e apesar de todo este sinistro algoritmo, a dívida em vez de diminuir, como era pretendido, aumentou. Pareceu-me então que o procedimento adoptado teria sido um “frango” em matéria económica. Mas ao ouvir, da boca de reputados economistas, que o País estava muito melhor tenho de reconhecer que qualquer coisa me escapa, qualquer coisa que dê sentido lógico à apreciação de tão doutas pessoas. A comparação também pode ser feita entre o início da crise e os tempos de hoje, já com um ano de governo Costa. Costa, com a reposição dos salários e pensões e com a reversão de algumas medidas do anterior Governo, pôs fim ou atenuou a crispação política e o País vive hoje uma espécie de diástole social. Isto, para mim, é um País melhor porque para mim um País são as suas gentes e essas andam inegàvelmente mais descontraídas. Mas para aqueles para quem um País é a análise fria dos números, não, para esses o País não devia estar melhor. Mas dizem que sim, que temos acesso aos mercados, que temos dinheiro a juros aceitáveis, etc. Então que me expliquem como é que, estando a produzir menos, com dívida mais elevada e já não possuindo os activos importantes, que entretanto vendemos, estamos melhor? Como é que nesta situação temos mais e melhor crédito?
Por Manuel Vaz Pires