Em conversa amena com um velho amigo, veio à baila o editorial que o diretor do Jornal Nordeste, onde ambos cronicamos, publicou a 11 de outubro deste ano. Feito a propósito da notícia da festa de inauguração do novo MAAT, na capital, glorificando a rica EDP cuja parte significativa da energia que vende é produzida na bacia do Douro não se vislumbrando por cá grande coisa, como contrapartida. A poderosa Fundação dirigida e financiada pela elétrica nacional construiu um vistoso museu na capital engrandecendo, é certo, todo o país, mas, de maneira especial, a cidade ribeirinha do Tejo.
Teófilo Vaz afirma ainda que também nos cabe a nós exigir que os recursos que nos são sequestrados sejam devidamente valorizados. Sendo verdade que as barragens durienses e dos seus afluentes são fontes de riqueza e desenvolvimento, também é verdade que a maior valia vai para as grandes urbes cujo bem estar se faz à custa de privações nordestinas. Para que haja ar condicionado confortável, iluminação suficiente, força-motriz adequada na indústria e nos transportes públicos, programas lúdicos, telecomunicações e tantas outras regalias providenciadas em abundância e com comodidade aos alfacinhas e a todos os que os visitam, milhares de nordestinos tiveram de abdicar de incontável número de oliveiras, amendoeiras e outras árvores, de muitas praias fluviais e de uma incomensurável grandeza de paisagem perdida para sempre. Em boa verdade muito do encanto lisboeta faz-se com pesadas contribuições do interior. Uma enorme fatia do seu céu, é composto de pedaços arrancados ao firmamento nordestino.
É natural esperar que os sacrifícios sejam devidamente valorizados e recompensados.
Não será, concerteza, para responder ao excelente editorial do Diretor do Jornal Nordeste, nem tão-pouco com a rapidez que se deseja, muito menos no valor merecido, mas houve notícia recente da implementação de alguns projetos marcantes integradas no largo pacote das medidas compensatórias com que a EDP se comprometeu.
Um texto do Jornal Público de 15 de outubro do ano corrente deu conta da concessão da exploração turística da albufeira do Tua e de parte da linha férrea sobrevivente, em exclusivo, ao empresário duriense, Mário Ferreira. Não terá sido fácil, garante o empreendedor. Tal acordo só foi concretizado depois de a EDP ter sido “obrigada” a fazer vultuosos investimentos para que o empreendimento fosse sustentável. Segundo o dono da Douro Azul a elétrica teve, na prática, de duplicar o seu investimento inicial de dez milhões de euros para tornar o projeto apetecível.
O Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo anunciou recentemente um projeto turístico, embora sem se revelar os valores envolvidos, que vai catapultar a região do Baixo Sabor para um patamar cimeiro na oferta turística de qualidade. Trata-se do Sabor Lake Resort um conceito inovador de exploração da albufeira, com base em casas flutuantes que percorrerão os diferentes lagos que a barragem criou em Moncorvo, Mogadouro e Alfândega.
PEDAÇOS DO NORDESTE NO CÉU DE LISBOA
José Mário Leite