São dramáticos os passos do Pedro. Do Pedro Passos.
Henrique Neto, ex-deputado pelo PS, quando candidato à Presidência da República reclamava como crédito a seu favor a capacidade de antecipação e previsão exemplificando com vários casos em que as suas previsões se vieram a concretizar. Não me parece que esse possa ser um requisito essencial para ascender ao mais alto cargo da Nação. De igual forma pensam a maior parte dos portugueses pois não havendo mais nenhum aspirante a ocupar o Palácio de Belém a reclamar de tal capacidade nem assim foi o empresário contemplado com a confiança dos cidadãos eleitores. Temos contudo de reconhecer que apesar de não ser indispensável seria uma mais valia a acrescentar a outros atributos, obviamente.
Prever o futuro, sendo útil, não é fácil e, sobretudo, só é verificável no futuro, pelo que avaliar tal capacidade no presente não é tarefa fácil nem o facto de ter acontecido no passado chega para a certificar. Se é verdade que muitos acertaram em previsões feitas a seu tempo também é verdade que muitos outros, com reconhecido mérito, as falharam e é frequente um misto de acontecimentos, acertando numas enquanto se erra noutras como aconteceu com Henrique Neto que não soube prever o resultado da sua candidatura que era, na altura, para ele, o que mais lhe interessava. Não é pois matéria enriquecedora de curriculum tal propensão. Mas ser incapaz de reconhecer o presente, sendo vulgar em muitos concidadãos, pode ser desastroso para os que ascendem a lugares cimeiros na estrutura do Estado. Temo bem que seja esse o caso de Pedro Passos Coelho e, por tal motivo, a sua vida pública e política esteja a tornar-se num drama.
Quando já era evidente que havia uma maioria de esquerda geringonçada ou não que estava pronta e decidida a instalar-se em S. Bento, ainda o antigo Primeiro Ministro andava em conversações para formar governo que não resistiria tempo nenhum à censura parlamentar. Convenceu-se que o acordo seria breve e frágil, sem se aperceber que teria de ser duradouro pela sua própria natureza pois dele dependia o futuro político dos seus autores e atores. Insistiu em fazer birra empurrando o Partido para um beco de que não havia saída possível como acabou por constatar pouco tempo antes do Congresso. Expôs-se de forma inábil ao impor uma votação sem nexo nem objetivo na apreciação do Orçamento de Estado, vendo-se obrigado a recorrer a estratagemas para ter de apoiar precisamente o único ponto que poderia desunir a esquerda, quando o seu objetivo era demonstrar que a esquerda não estava tão unida como parecia! Propõe que o grupo parlamentar se “faça de morto” à espera dos deslizes da maioria. Entretanto desdobra-se, ele, em declarações públicas e entrevistas anunciando o pré-apocalipse sobre a gestão socialista. Ora esta atitude adensa e aprofunda o drama. Perante tal torrente de profecias catastróficas sobre o futuro próximo só duas coisas podem acontecer:
1. As mesmas não se concretizam e então o seu descrédito será total porque fica demonstrado que há alternativa à política austera que conduziu e o anúncio da sua suavização era apenas conversa fiada para iludir os eleitores;
2. As mesmas concretizam-se e que crédito pode colher junto dos seus possíveis apoiantes quem só lhe traz más notícias e não lhe dá, nem na oposição (onde não tem que provar, pelo menos nesta fase, a viabilidade das propostas alternativas) um mínimo de esperança e confiança no futuro comum?
Melhor fora que se “auto-adormecesse” e desse espaço aos novos talentos emergentes no partido laranja.
A menos que o atual líder queira fazer ele mesmo a travessia do deserto reservando o lugar de candidato a Primeiro-Ministro a um correligionário que não esteja comprometido com o passado recente e, nesse caso, ganhará junto do partido crédito elevado que todos teremos de reconhecer e louvar.
Por José Mário Leite