“Palavras que rimam resultam sempre”

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"Palavras que rimam resultam sempre”. A frase não é minha, como conseguem perceber pelas aspas. Mas é um conselho sábio, lá isso é. A rima conquista, é uma verdade, porque nos fala ao coração. E nota-se que perdemos algum tempo no dicionário. Ainda que a poesia nunca tenha sido a minha cena na escrita (porque exige uma sensibilidade que eu, claramente, não possuo), gosto dela e de palavras que rimam. E gosto mesmo quando não rimam. Gosto de trava-línguas e lengalengas. Gosto de ditados populares e de slogans. Gosto, em resumo, da palavra. Misturada, triturada, amassada, cozida, assada, frita, com arroz ou só uma saladinha verde. Usando palavras repisadas por aí - “um gesto vale mais do que mil palavras”. Será? É capaz uma acção de apagar mil palavras? Isto é um contra-senso, quando firmamos palavras em papéis, para tornar a imortalizar. E onde fica o “palavra de honra”? Ainda que tudo o que acabei de descrever seja um acto. Como é, afinal? Ficamos com as palavras e esquecemos os actos? Ou ligamos só ao que é feito e nunca ao que é dito? É pena que ninguém tenha feito - ainda - um manual. Assim saberíamos quando deveríamos falar ou quando deveríamos fazer. Este plano tem buracos: algumas coisas não se podem fazer sem se explicar e outras fazem-se mas não se explicam. Mas eu cá não gosto do que não se explica. Por mim, o ideal seria, e até já vos disse, que a vida tivesse legendas. Um acompanhamento feito por palavras que seja capaz de entender. Se eu escrevesse poesia, todas as minhas palavras seriam clichês. Onde o “amor” rima com “calor” ou “dor” ou “ardor”. E “paixão” com “atenção”. Por extenso, não tenho limites. Gosto, afinal, da palavra solta. E gosto que me falem a cantar, com métrica e léxico rico. Acima de tudo, gosto que me falem com detalhe. Tudo explicadinho, como numa receita culinária, não gostasse eu tanto da palavra cozinhada. Afinal, se calhar o que o mundo precisa, em geral, é que nos digam rimas por- menorizadas e que não tenham atitudes que nos façam mal. Se assim fosse, viveríamos um eterno poema. Com rima ou sem rima.

Tânia Rei