Numa divertida expressão popularizada nas redes sociais, os amigos, simpatizantes, ou simplesmente fãs do déspota Vladimir Putin são designados por “putinófilos”, como se de um qualquer cantor ou futebolista se tratasse. Convém lembrar, por isso, que Vladimir Putin governa a Rússia desde a renúncia de Boris Iéltsin, em 1999, já lá vão 23 anos, portanto, e que entre os eventos notáveis de seu sinistro consulado estão os assassinatos, nunca devidamente esclarecidos, de vários opositores políticos, designadamente de Anna Politkovskaia e de Alexander Litvinenko, Foram estes factos e outros ainda mais graves, que celebrizaram Putin, não as cantigas ou o desporto, nem mesmo tocar piano para mundo ver enquanto esperava pelo presidente da China, Xi Jinping. Talvez também por estes dias se esteja divertindo a tocar a Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner, enquanto pelas janelas do Kremlin entra o som das explosões das bombas em Kiev. Vladimir Putin, que os pusilânimes líderes do Mundo Livre nunca tiveram discernimento e coragem suficientes para o enfrentar como merece, é uma personalidade sinistra que não canta, não chora, nem ri, como melhor agora se manifesta com as atrocidades que as suas tropas estão a cometer ma martirizada Ucrânia. Vladimir Putin que governa como lhe dá na real gana, prende e mata a eito, e manda despejar bombas a esmo sobre escolas, hospitais, bairros residenciais e até centrais nucleares como em Zaporíjia, para lá de ameaçar varrer a Terra com as bombas atómicas como se isso fosse a coisa mais banal deste mundo. Vladimir Putin que, ninguém duvide, entusiasmado com a patente inutilidade da NATO, a fraqueza dos governantes europeus e se acaso a heroica Nação ucraniana se lhe tivesse submetido sem disparar um tiro, como projectou, aproveitaria a oportunidade para, na passada, avançar sobre Berlim e Paris. Os fãs, amigos e simpatizantes do sinistro Putin, os divertidos “putinófilos”, não são, portanto, vulgares amigos, fãs, simpatizantes como os de um qualquer cantor, desportista ou indiscriminado perfil do Facebook. Os “putinófilos” são, isso sim, apoiantes, apologistas, cúmplices das atrocidades do sinistro “big brother” Vladimir, mesmo se disso não têm consciência. Os “putinófilos” são uma espécie rara, venenosa, da exuberante fauna do Mundo Livre, que não deve ser confundido com Ocidente porquanto este é um conceito meramente geográfico cuja associação apenas serve os maléficos desígnios do dito cujo e de outros que tais. Assim é que do Mundo Livre, em que a democracia é lei, fazem parte, entre outros, o Japão, a Coreia do Sul ou a Austrália situados bem lá no Oriente, em contraposição com a China de Xi Jinping, a Rússia de Putin ou a Coreia do Norte de Kim Jong-un, que são partes integrantes do oposto Mundo da Tirania, a que também pertencem a Venezuela de Nicolas Maduro ou a Cuba de Mario Díaz-Canel, muito embora situados no hemisfério ocidental. Os “putinófilos” vegetam livremente nas democracias do Mundo Livre que, diga-se em abono da verdade, não possui apenas virtudes porquanto também enferma de grandes maldades, como sejam a corrupção generalizada ou o aborto livre que só no ano passado ceifou a vida a mais de 200 milhões de nascituros, almas que boa falta lhe faziam. Os “putinófilos” mais fervorosos trazem no cérebro um martelo e uma foice no coração com que martelam a liberdade e ceifam a democracia a seu jeito, relevando os genocídios perpetrados por Josef Stalin, Mao Tsé-Tung ou pelo mais recente Pol Pot que, entre 1975 e 1979, promoveu a execução de cerca de 2 milhões de pessoas. Mas também há “putinófilos” que trazem a cruz gamada ao peito, o que não é de espantar dado que fascismo e comunismo são farinha do mesmo saco, embora amassada e cozida com receitas diferentes. E também há, entre nós, jornalistas, intelectuais de pacotilha e até generais de aviário que são “putinófilos”. Compõem lindos ramalhetes de intelectualidade, neutralidade e tolices sem nexo, que embrulham em lustroso papel de celofane para presentear o camarada Vladimir. Já se tornou fastidioso vê-los e ouvi-los perante as câmaras de televisão, a adoçar subtilmente as bombas amargas que incessantemente martirizam os povos da Ucrânia. Reduzem a geopolítica a uma contabilidade desapiedada, ao deve e haver dos tirânicos donos do mundo para concluir, como é óbvio, que o saldo é positivo para o seu tirano preferido. Os “putinófilos” usufruem da sacrossanta liberdade de expressão que é apanágio da democracia para difundirem a propaganda de guerra do seu sinistro amigo Vladimir. Os “putinófilos” ignoram, ou fingem não entender, que a injustificada, e bárbara, invasão da Ucrânia pelas tropas do paranóico Putin, para lá dos irracionais factores geoestratégicos que a possam explicar, é uma tenebrosa batalha entre o Mundo Livre e o Mundo da Tirania. É isto que importa realçar.