Há muitos anos não era habitual sofrer-se de stress e ansiedade. Pelo menos nestes termos e na versão diagnosticada de outras problemáticas a que nos fomos habituando como a hiperatividade, a depressão ou o esgotamento. Atualmente, acedemos a mais informação e a grande tarefa é saber separar o “trigo do joio”, o conhecimento fundamentado ou o saber científico devidamente alicerçado.
As fontes de informação fazem parte da nossa vida. Tendo, como julgo, aspetos fortemente positivos, torna-se uma dependência orgânica, difícil de gerir. Os contactos, as relações, a disponibilidade imediata faz parte da vida de milhares. Experimentem deixar um dia o telemóvel em casa. Aposto que, de forma repetida, o vão ouvir tocar, procurar atender, ir às redes sociais ver as novidades…enfim, um cem número de tarefas incluídas no “pacote virtual”. Um pequeno objeto tornou-se mais importante que outros adereços, só ultrapassado por necessidade de leitura, pelos óculos graduados.
Uma revolução tecnológica que veio revolucionar a nossa relação com o Mundo e do Mundo connosco. A relação é recíproca e vem alimentar espaços vazios que se foram construindo.
A nova febre dos Pokémons veio transformar mais ainda esta visão virtual. Tratam-se de ruas reais em espaços virtuais, figuras virtuais em espaços reais. É realmente estranho, mas percebe-se bem quem “anda à caça de Pokémon”. Absortos, sozinhos ou em grupos relativamente reduzidos, vão até onde há pokémons para caçar. Mudam-se rumos e caminhos, não se vá perder um ou outro mais “valioso”.
A empresa Niantic, startup da Google criou o “Pokémon Go” para a Nintendo. Sem muitas instruções sobre como jogar, são os próprios jogadores que pelas ruas, ensinam outros. Dizia uma amiga que pelo menos agora o filho sai de casa, permitindo que se tornasse mais ativo em vez de passar horas no quarto a jogar. Há sempre o lado positivo de novas situações e inovações tecnológicas. É preciso, como tudo na vida, saber usar com moderação.
O jogo completou 6 meses de vida, provocando nos jogadores alterações comportamentais. Pesquisando sobre esta nova realidade, constatei ser possível caçar mais de 150 monstros coloridos em locais bem diferentes, podendo ser classificadas situações distintas como divertidas ou realmente arriscadas.
"Caminhe, pedale ou ande num comboio para caçar todos!", diz uma empresa no perfil da conta, antes de advertir os fãs para estarem sempre atentos ao que se passa à sua volta. Existem também as Pokétours. Desta vez são motoristas que levam os passageiros a caçar monstros raros e altamente procurados.
Numa visita de alunos da secundária do nosso distrito a diversão também passou por saber e conhecer os Pokémons sedeados na Assembleia da República. Pelos vistos, no exterior, existiam vários, mas o melhor de todos foi no Marquês, em Lisboa. Pena que o autocarro não permitisse dar uma volta diferente para que fosse possível dar caça integral às ambicionadas criaturas.
O stress e a ansiedade, a hiperatividade e todas as formas e sentimentos negativos são fortemente penalizadores nos nossos jovens, mas também em adultos, que vão sendo “testados” a novos perigos e mais e novas “dependências”. Um jogo de monstros coloridos, os espaços virtuais em ruas reais e figuras virtuais em espaços reais…os novos Pokémons.
Os novos Pokémons
Júlia Rodrigues