OS CARETOS DE PODENCE

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Os Caretos de Podence são hoje uma imagem de marca, conhecida internacionalmente que atrai, de forma consistente e sustentada, milhares de turistas, interessados, curiosos ou simples foliões àquela aldeia de Macedo. Trata-se, sem sombra de dúvida, de um paradigma de desenvolvimento e combate à desertificação do interior, pela valorização da cultura autóctone, por contraponto aos “enlatados” que, imitando festas e romarias comerciais (e comercializadas) podendo ter algum sucesso no imediato, não tendo raízes, não garantem a sustentabilidade necessária e requerida na utilização dos dinheiros públicos. Desde há muito que defendo que o lastro necessário para as políticas de combate ao empobrecimento humano, social e económico do nordeste está, precisamente, nas iniciativas genuínas e diferenciadoras. Estranhamente (ou talvez não), quando realço este sucesso macedense, noutras localidades da nossa terra, esperando obter um comentário de congratulação e regozijo por este feito que a todos deveria orgulhar, ouço, com frequência, críticas e reparos de difícil entendimento. Que os caretos não são exclusivos de Podence, que é um fenómeno extensivo a todo o nordeste, quiçá com manifestações mais expressivas noutras localidades, tendo havido, neste caso, uma apropriação (indevida?) de um património comum. É verdade que os rituais festivaleiros dos mascarados com trajes garridos e chocalhos à cintura não se restringem a esta freguesia nordestina. Mas foi ela que, com o apoio da autarquia e de outras forças vivas da região, fez o trabalho de promoção, divulgação e sistematização, conducente ao reconhecimento internacional do fenómeno. Que é seu. Não é exclusivo, mas tam- bém não foi enxertado! Dando uma pancadinha na base de um ovo, de forma a provocar um ligeiro achatamento, qualquer um pode colocá-lo, de pé, sobre uma superfície lisa. Porém a autoria do feito é, desde há séculos, atribuída, e bem, a Cristóvão Colombo por ter sido o primeiro a fazê-lo. É, igualmente, justo pois que seja a gente de Macedo, liderada pela sua autarquia, a beneficiar do sucesso da festa dos gar- ridos mascarados chocalheiros. Não é correto, nem tão pouco útil, para quem quer que seja, a crítica de quem, podendo, não fez o que ali foi feito. A atitude certa não passa pela disputa (inútil) da primazia de um fenómeno que já atingiu o topo da notoriedade, bem pelo contrário, o adequado é a associação ao evento, incorporando o que puder enriquecê-lo (ganhando Macedo, em maior ou menor proporção, ganhamos todos) e, se houver engenho e arte, aproveitar o exemplo, seguir a boa prática, identificando e trabalhando outras especificidades locais que, felizmente, abundam na cultura tradicional da nossa terra. É de referir que, Benjamim Rodrigues, um dos autarcas que não “beneficiou” da limitação de mandatos (havemos de falar nisso, brevemente), apesar do estrondoso êxito com os carnavalescos personagens, não ficou à sombra deste troféu. O Geopark Terras de Cavaleiros e a distinção internacional do Parque Urbano são um bom exemplo. Estou certo que, antes que a perversa lei do “iluminado” Relvas o afaste do Jardim 1.º de Maio, ainda irá acentuar a marca da sua originalidade, competência e eficácia no progresso de Macedo e, por arrasto, de todo o nordeste.

José Mário Leite