Da última vez escrevi como título “Com um sorriso de orelha a orelha” e hoje não é com um sorriso de orelha a orelha mas é com um grande orgulho nos nossos atletas olímpicos.
Muito se falou nestes dias e muitas opiniões foram vertidas sobre o tema, umas de pessoas mais realistas e outras mais desconhecedoras da realidade.
Há uma grande tendência para se avaliar os resultados através do número de medalhas alcançado. E há a tentação de exigir algumas ou muitas embora sem ter a noção da realidade.
Talvez sejamos um povo de extremos pois passamos do “oito ao oitenta” e do “oitenta aos oito” num ápice. Parece que nos fizeram mal os últimos êxitos que conseguimos a nível desportivo. Esses êxitos, com os Jogos Olímpicos à porta aumentaram as expectativas, embora algumas delas irreais.
Após a conquista do título europeu da meia maratona, por Sara Moreira, e do 3º lugar na mesma prova, Jéssica Augusto, alguns foram compelidos a pensar que, pelo menos, uma destas atletas traria uma medalha da maratona dos Jogos. Mas não é a mesma coisa. A concorrência é muito maior e as provas são diferentes.
É necessário analisar toda esta participação com alguma distância, com frieza e objectividade. Convém ter a noção do que se investe e do que se poderá esperar desse investimento.
A grande maioria dos balanços feitos à participação da delegação portuguesa no Rio 2016 é positiva, e no que diz respeito ao atletismo também.
Em 2012, em Londres, Portugal consegui uma medalha de prata na canoagem, com Emanuel Silva e Fernando Pimenta na prova de K2 1000 metros, e em 2016 uma de bronze no judo por Telma Monteiro. Objectivamente, em termos de medalhas, as diferenças não foram muito grandes, embora tenhamos piorado de prata para bronze.
Mas em 4 anos houve alterações significativas em termos de apoios, estruturação e promoção da prática desportiva e do desporto? Penso que não.
Nalgumas modalidades houve algum aumento de investimento e evolução mas na maioria dos casos nada mudou. É necessário alterar desde a base. É necessário aproveitar, e melhorar, o trabalho que se faz no Desporto Escolar, que exista verdadeiro desporto universitário e fomentar o desporto federado.
Para além disso é necessário que se promova uma melhor cooperação e entendimento entre o desporto escolar e os clubes nos escalões mais jovens, que haja cooperação e não concorrência. O estado também terá que fazer o que lhe compete e apoiar mais.
Todos temos o direito de tecer as nossas considerações e opinar sobre o assunto, temos o direito de criticar o que não está bem e os resultados menos conseguidos. Os atletas não são “bibelôs de cristal” e por conseguinte não estão isentos de críticas, quando fazem bem o seu trabalho devem ser elogiados e quando assim não é podem (e devem) ser criticados. Mas há que saber analisar as diferentes situações.
Na maratona ficámos desiludidos? Mais ficaram os atletas e as atletas. No entanto na maratona feminina houve um erro de “casting”, não me pareceu que a opção da Sara Moreira correr a prova estando lesionada fosse a melhor.
O Rio 2016 terminou e já lá vem Tóquio 2020, que saibamos corrigir alguns erros, apoiar e incentivar os atletas e com certeza que obteremos melhores resultados.
Escrito por Carlos Fernandes – Professor de Edução Física e treinador de atletismo do GCB