O tramposo estilo Trump

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A multidão de comentadores criticou acerbadamente o estilo acídulo e grosseiro do presidente dos Estados Unidos no primeiro debate relativo à campanha eleitoral para as presidenciais nas quais ele é candidato. Têm razão os comentadores em denunciarem o grotesco «cavalheiro de indústria», porém esqueceram-se de fazerem pedagogia enaltecendo as virtudes da contenção expressa no provérbio quando fala um burro, o outro baixa as orelhas. Ora basta assistirmos a uma sessão de uma Assembleia Municipal para verificarmos a consolidação do estilo tramposo assente na arrogante desqualificação do adversário, quantas vezes da mãe dele, e da Instituição que representa. Desde a Antiguidade que os fanfarrões eivados de pesporrência procuram suster a argumentação dos outros recorrendo a toda a espécie de ardis, felizmente, chegaram até nós suficientes textos a referirem uns e outros sem esquecer as frases mortíferas amiúde utilizadas ao modo de muletas de pão de marmeleiro a zurzirem os costados do interlocutor. O grande orador António Cândido, a Águia do Marão, deixou-nos páginas de enorme brilhantismo na arte de desventrar, de demolir, de reduzir a cacos os incautos que se atravessavam à sua frente no Parlamento utilizando magistralmente a nossa língua sem recorrer à linguagem de sarjeta ou taberna. Agora, vale tudo, mesmo tudo, se considerarem um exagero as minhas palavras recordem-se das podres peixeiradas nas televisões a propósito do futebol. O truque obsceno de Trump no interromper a toda a hora e momento o contraditor é velha arma de arremesso nas tertúlias e comandita, na época em que podia frequentar os cafés e locandas em Bragança vigorava, com raras excepções, o falar alto abafante dos educados, fosse no Chave d’Ouro, fosse no Moderno, no Central ou no Flórida, não era preciso muito para prevalecer o grito engalanado tal como o andor do S. Bartolomeu no dia 24 de Agosto, de palavrões suaves e ásperos. Há um saco de anos participei num debate que tudo indicava ser cordato, civilizado, embora duro e aguerrido, a tempestade iniciou-se quando uma senhora inglesou um termo genuinamente latino, não latão. A senhora não aceitou o reparo, desceu ao patamar do mais abjecto calão e o debate soçobrou antes de principiar. A criatura foi deputada vários anos, ensaísta e os maldosos acrescentavam ser boca infecta ao estilo do libelista italiano Pietro Aretino. A má educação exibe-se planturosamente nos múltiplos remoques no decurso dos debates na Assembleia da República, antes da liderança de Rui Rio, o deputado Duarte Marques rivalizava com o socialista João Galamba e a inefável Senhora Cristas, sem esquecer a inefável Teresa Leal ao Coelho, nesta legislatura apareceu um deputado socialista a empregar o termo «chafurdice» a ilustrar quão educado é o honorável representante do povo. No dia 1 de Outubro, a TVI levou a efeito um frente a frente a propósito da disciplina de cidadania e troca o passo, os inter-locutores foram o eurodeputado Nuno Melo e uma senhora apresentada como professora e (missionária da doutrina ministrada na referida disciplina) a qual evidenciou ridente talento trumpista na algaraviada função de não respeitar as regras do asno que fala e o jumento que ouve. O astucioso Nuno Melo não perdia ocasião de lhe avivar a falta de chá e carência de maneiras. A «educadora» que se vangloriou de visitar Escolas na missão de catequista da «cidadania» demonstrou à saciedade o desconchavo pois não possui autoridade para avisar os pequerruchos de dez anos de nunca esquecerem o emprego de boas maneiras, porque a doutrina da vulgata do género a cavalheira deixou indicações de ser especialista na matéria. Ao torto e ao direito, à destra e à sinistra, a referida disciplina motiva chamamento à liça da lei de bases do sistema educativo, por descargo de consciência pedi opinião ao principal autor dessa lei onde participei ao modo de cigarra dorminhoca, o eminente especialista na área das ciências da educação salientou a falta de literacia no estudo desse normativo estruturante ao modo do manga-de-alpaca de um centro laboratorial a perorar pseudo-cientificamente acerca do vírus e suas mutações que no inferniza a vida, quando não a retira aos mais fragilizados de tudo. Os males apoquentam-nos e metem- -nos medo, Medo como o Padre a clamar (descalça-me a bota) infligia a todos quantos se atreviam a passar à meia-noite no monte da forca existente entre Espinhoso e Rebordelo, porém existem fortes probabilidades de as nuvens negras se dissiparem brevemente ao ser executada a directiva do ministro Cravinho no tocante à extirpação da linguagem de caserna…nas casernas. Este governante filho de mãe inglesa nunca foi recruta em lado nenhum e o calão utilizado na linguagem castrense não deslustra ninguém e como a chuva civil, não molha militar.

Armando Fernandes