PUB.

O desafio

PUB.

A verborreia retórica e as mentiras a que Putin já nos habituou, não nos deixam levar muito a sério o que ele frequentemente verbaliza, principalmente quando se dedica a vangloriar as suas ações e as do exército que ele faz questão de comandar a seu bel-prazer. Na verdade, o povo costuma dizer que quer se quer matar não o diz a ninguém nem ameaça fazê- -lo e o mesmo é válido para os que ameaçam constantemente realizar qualquer maldade e nunca passam da ameaça. Penso que neste caso será o mesmo. Quantas vezes já ameaçou Putin os países ocidentais com o nuclear de que tanto se orgulha? Ele sabe que no momento em que o fizer, a Rússia e Moscovo desaparecem igualmente do mapa e milhões de pessoas desaparecem da face da Terra. Ele não quer isso seguramente. No entanto, o show-off da política russa, especialmente para consumo interno, leva-o a dizer o que lhe apetece, intimidando o ocidente com uma série de ameaças e desafios, como se isso fosse de tal modo impactante que o ocidente tremeria de medo perante tais ameaças. Como é evidente, não mereceu qualquer resposta o desafio que recentemente fez ao ocidente. A semana passada numa conferência de ministros e líderes russos, em que foi permitida a televisão russa estar presente para divulgar o que interessava divulgar, Putin lançou um desafio ao ocidente, ao referir que os ocidentais lutariam contra a Rússia até parar a guerra na Ucrânia nem que fosse até ao último ucraniano, acrescentou “eles que tentem”, “nós ainda não utilizámos quase nenhum do nosso potencial bélico”. Enorme desafio. Contudo, logo acrescentou que “evidentemente estamos abertos ao diálogo, mas quanto mais tarde pior”. O desafio talvez tenha caído em saco roto, no entanto, para o ocidente será sempre de levar em conta quando um louco como aquele atira atoardas ao ar e não se sabe se magoam alguém. A verdade é que ele necessita de dizer alguma coisa deste género para que a população russa acredite nos seus objetivos e na sua política, mas talvez não seja tanto assim. A opinião pública tem um peso enorme nas políticas e nas decisões que se tomam e a única forma de controlar esta força popular é tentar moldá-la mentalizando-a do que é melhor segundo o líder. Daí que toda a informação russa seja controlada e sejam proibidas as comunicações que critiquem as atitudes do governo. Quem o fizer, é preso e condenado. Isto é a democracia russa. A juventude russa que se vem manifestando aos poucos em toda a Rússia, está a ser altamente controlada e reprimida para que se contenha nessas suas manifestações. Mas a realidade vem sempre ao cimo como o azeite. A situação na Rússia está muito mal economicamente, muito embora eles não deixem passar essa mensagem. Então um dos maiores produtores de batata não tem batatas para a cadeia nova do Mac Donald? Desapareceram as batatas? Já não há batata frita nos pacotes de hambúrguer? Isto é um pequeno exemplo do que se está a passar a nível económico e até alimentar na Rússia. É necessário distrair o povo russo com a guerra, com as supostas vitórias nas terras ucranianas e com as destruições que conseguem fazer nas cidades que não lhes pertencem. É um abuso. Algumas fações russas exultam com estas notícias e terão ficado radiantes com o desafio feito por Putin ao ocidente. São as que o apoiam incondicionalmente e vivem à sombra dos grandes ordenados e cargos que ocupam. Outras estarão altamente receosas das loucuras de todos estes desafios. Na sua passividade, o ocidente resolveu levar a cabo mais um pacote de medidas de sanções contra a Rússia. O aperto é enorme, mas Putin parece não se amedrontar. Não o pode fazer, pois não dá sinal de fraqueza nunca. Contudo, ameaça e desafia, não um país, não um Estado, mas todo o ocidente, como se isso fosse coisa pouca. Ninguém leva a sério as palavras de um louco, mas estou certo que os países ocidentais ficarão mais alerta do que nunca à medida que o tempo passa. No estertor da morte, nem o louco quer morrer. Com o objetivo de ocupar 20% do território ucraniano, Putin continua assim a sua caminhada de destruição, de morte e de ameaças a tudo e todos os que se põe no seu caminho. Pasma, no entanto, que o ocidente não desafie nem ameace Putin da mesma forma que ele o faz. É um jogo que parece só ele saber jogar, mas a Europa e todo o ocidente estará a aprender. Preze aos céus que não seja tarde demais. Nunca fiando! A brutalidade do que está a acontecer na Ucrânia é uma vergonha para todas as democracias, mas nem por isso elas tentaram ameaçar as intenções de Putin. A verdade é que ele invadiu um país soberano, sem razões legais para o fazer. Da mesma forma, a Ucrânia ou outro país poderia fazer o mesmo à Rússia com o pretexto de acabar com um governo ditatorial e antidemocrático e, com alguma possibilidade de acertar, acabar com o nazismo que ainda por lá anda. Desafio por desafio. Claro que o desfecho seria catastrófico, possivelmente. Seria só mais uma ameaça e um desafio. Afinal, todos têm esse direito. As razões seriam as mesmas para justificar os desafios. Enfim!

Luís Ferreira