A República em Bragança foi vivida, quase diariamente, de forma dramática, como em todo o norte do país. Se a fase final da monarquia nos trouxera a dinamite – utilizada em Dezembro de 1909 nas cocheiras episcopais – pelas mãos da maçonaria e da carbonaria, aqui articuladas por Alves da Veiga e Luz d´Almeida, a República proporcionou uma conflitualidade social permanente, só resolvida sob a ditadura.
O 5 de Outubro foi recebido de braços abertos por poucos republicanos, como Augusto Moreno (esquecido dicionarista bragançano), António Augusto Teixeira, Augusto Pires e poucos políticos da oposição à monarquia. Mas o poder local só efemeramente lhes pertenceu, andando sempre pela mão conservadora, muitas vezes aparentemente republicana e mais ou menos monárquica. Não é de estranhar, pois, que Bragança se transforme num centro de conspiração permanente contra a jovem República, em que as estruturas religiosas e militares se articulam e defenderão a sublevação e a guerra civil.
Logo em 1911 estas chefias se articulam para receberem de braços abertos a invasão nordestina de Paiva Couceiro, entrada pelo Portelo quando se comemorava, no Teatro Camões, o 1.º aniversário da República. A falta de apoio popular, a desorganização militar, o papel dos voluntários bragançanos obrigaram Paiva Couceiro a inflectir para Vinhais e, depois de rechaçados também aqui, para a linha de fronteira. Houve gente presa, nomeadamente alguns clérigos, mais tarde libertados por insurreição popular, em Macedo de Cavaleiros, optando alguns pelo exílio.
Em Bragança esta conspiração torna-se permanente, estrutura-se à volta do Paço Episcopal, de algumas chefias militares e de parte da elite conservadora da cidade e região e radicaliza-se ideologicamente, defendendo a luta armada e o terror dos atentados à bomba. Ainda em 1912 é capturada pela polícia a bandeira monárquica que, em Bragança, se passeava como símbolo da vontade antirrepublicana, assim como treze bombas de dinamite que, mais tarde, já em 1913, foram desarmadas. A primeira, e maior, a ser capturada foi entregue no Museu Municipal para documentação futura, mas será devolvida à polícia pelos medos propiciados pelo clima e ambiente bombista alarmantes criados à volta destas descobertas no Fervença – para além de outras adivinhadas em casas de particulares. Já em 1914, a tentativa de assalto deste organismo para a reconquista da bandeira monárquica apreendida, leva a que o seu dirigente, Albino Lopo, a transfira, com algumas moedas de ouro, para o Grupo de Metralhadoras, instalado no antigo Seminário e actual Centro Cultural.
Pouco depois do novo aniversário da República, a 19, foi praticada uma nova intentona – no dizer da época – comandada pelo coronel Adriano Beça, já anteriormente programada para o verão e adiada por causa do conflito europeu. Não teve a adesão militar que esperava, nem o levantamento das aldeias pelos párocos, conforme concertado, e, após algumas cenas algo caricatas, acabou por ser preso, conjuntamente com o seu criado, na pressa da fuga. Outras figuras ilustres conseguiram fugir, para Espanha obviamente, juntando-se às hostes de Paiva Couceiro…
O espírito conspirativo organizado mantém-se activo à espera de novas incursões monárquicas e rejubila com a implantação da Monarquia do Norte que, em Bragança, usufrui do poder durante 3 dias, de 21 a 23 de Janeiro de 1919, sendo 3 dias de perseguição e vinganças politicas, tanto nos republicanos que não puderam ou quiseram fugir, como sobre os seus bens e propriedades, sendo Governador Civil o coronel Leitão Bandeira, antigo membro do PRP de Bragança, mas afastado em 1915. Basta ver a lista das pessoas presentes no acto da sua posse como Governador Civil para se fazer ideia do peso do antirrepublicanismo em Bragança e do papel que algumas dessas figuras irão ter no Estado Novo, muitas delas primeiros aderentes do Partido Republicano Português em Bragança.
Por João Manuel Neto Jacob