Lá no palácio de São Bento que, como se sabe, é sede da Assembleia da República e residência oficial do primeiro-ministro, paira uma assombração que muito mal tem vindo a causar à democracia e à nação portuguesas. Não se trata de nenhum espirito maligno do tempo da outra senhora, porque esses já não fazem mal a ninguém, muito embora continuem a ser esconjurados pelos acólitos da dita esquerda que não param de meter medo às criancinhas com histórias de capitalistas, fascistas, racistas, colonialistas e outros que tais. Trata-se mesmo de um espectro sinistro recente que tem impedido que o Portugal democrático cresça e apareça de uma vez por todas, que saia dos subúrbios da Europa e se coloque a par dos parceiros mais ricos e socialmente mais justos. É o espirito do político fujão que em passado recente assombrou os ex-primeiros ministros António Guterres e Durão Barroso e os ex-ministros Victor Constâncio e António Vitorino, de entre outros destacados políticos que tiveram habilidade e descaramento bastantes para bater a asa e voar para poleiros de maior destaque na ONU e na União, abandonando o país caído na desgraça, entregue à pardalada partidária. Políticos estes que, possuídos pelo tal espirito fujão, renunciaram aos cargos para que haviam sido eleitos e optaram por fugir logo que oportunidade favorável se lhes deparou, apesar de terem jurado solenemente servir o povo português com total entrega e devoção. Claro que este espirito maligno do político fujão só encontra ambiente propício nos estados subservientes de instituições transnacionais de maior gabarito e em que reinam regimes políticos de duvidosa democraticidade. Tudo leva a crer que foi este espírito maligno do político fujão que o Presidente da República quis esconjurar com uma reza de mau presságio na tomada de posse do novo governo, porque se lhe terá metido na cabeça, sabe-se lá que por artes ou manhas, que também o empossado primeiro-ministro António Costa, já estaria possuído, ou em vias disso. Verdade ou não, certo é que António Costa não tugiu nem mugiu e se limitou a dizer o que sempre disse em circunstâncias tais, sem tirar nem pôr. Que ninguém duvide, porém: se por acaso António Costa, contra todas as rezas e esconjuras de outrem e juras do próprio, vier a ser tomado pelo tal espirito do político fujão, não fugirá sem primeiro garantir que a sua trupe fica confortavelmente instalada nos cadeirões da administração pública central e local. Ainda que deixe Portugal mais pobre, injusto e marginal, que é o mais certo. Essa nem será, sequer, a sua preocupação maior e muito menos o Presidente da República se afoitará com tal. Em Belém reina um espirito palrador e espectaculoso, vagamente patriótico e nada reformista, pelo que se António Costa decidir abandonar o barco e fugir, seguindo as pisadas de Guterres e Barroso, não será Marcelo de Sousa, que o aturou, apoiou e com ele coabitou, enquanto lhe interessou assegurar a própria reeleição, quem o irá impedir. Fica-lhe bem dizer agora que António Costa está refém, tão- -somente. Trata-se de um bonita figura de retórica, nada mais. A seu tempo se verá, porém, que António Costa não está refém de nada nem de ninguém, muito menos do espirito tagarela de Belém. Só mesmo uma lei para tanto competente, se existisse, poderia obstar a que António Costa, ou qualquer outro político do mesmo calibre, se pudessem dar ao desfrute de abandonar o País a meio do mandato para deliberadamente assumirem cargos estrangeiros pessoalmente mais aliciantes. Não é António Costa que está refém. São os portugueses que vergonhosamente mantidos na cauda da pródiga mãe Europa pela mão dos políticos fujões e dos oligarcas político- -partidários, estão reféns, não da democracia, mas de um regime político corrupto avesso a reformas. Não é António Costa que está refém! É Portugal que está refém de António Costa!