Ernesto Rodrigues publicou mais um livro. Trata-se de uma edição do CLEPUL, dirigido até há pouco tempo, pelo escritor de Torre de D. Chama – Mirandela. “LITERATURA EUROPEIA E DAS AMÉRICAS” traz-nos o olhar crítico do ensaísta sobre vários dos principais escritores mais recentes dos lados de cá e de lá do Atlântico. Recebi um exemplar diretamente das mãos do autor e não resisti – comecei de imediato a folheá-lo, agradado com as várias referências que iam saltando do interior das páginas à medida que as ia desfolhando fossem europeus (Sartre, Dino de Buzzati) ou latino-americanos (Vargas Llosa, Machado de Assis, Drummond de Andrade e Jorge Amado). E, claro o grande Jorge Luís Borges cujo texto li, de uma assentada, ao serão do mesmo dia em que recebi a obra deste meu velho amigo. Antes, tínhamos tido a oportunidade de relembrar os cento e vinte anos do seu nascimento, cumpridos a 24 de agosto do ano findo, sem que tal tivesse sido motivo para a merecida homenagem, na terra de onde, segundo o próprio, partiu no final do século XVIII, o seu bisavô Francisco Borges em direção à América do Sul.
Ernesto Rodrigues dedica-lhe um dos textos mais extensos e completos. Analisa não só a obra do autor argentino mas também vários ensaios entretanto publicados sobre ele, bem como alguns aspetos da sua vida, nomeadamente, as suas vindas a Portugal, com especial destaque para a de 1984, presenciada pelo mirandelense, tendo sido visitado por uma delegação de moncorvenses que lhe levou o título de Cidadão Honorário de Torre de Moncorvo e a quem terá dito a famosa frase «Mi bisabuelo vos saluda!»
Entre algumas “revelações” ressalta uma expressão usada pelo ficcionista sobre o maior romancista português «yo no sé português y he leído a Eça de Queiroz. Cuando no entendia una frase la leia en voz alta y el sonido me revelava su sentido.» Desconhecia completamente esta afirmação borgiana, contudo foi exatamente o que eu disse ao saudoso Amadeu Ferreira quando me defrontei com dificuldades para compreender os seus escritos, em mirandês.
Ernesto evidencia algumas das características relevantes de quem António Alçada Baptista disse ser (na altura) «o maior escritor vivo», nomeadamente e a par com a sua cultura enciclopédica, a sua atração pelo infinito, consagrada na incomensurável Biblioteca de Babel, concentrado no Aleph, no Livro Infinito e, mais ainda, no vocábulo sem medida mas de um poder tal que, uma vez pronunciado faz desaparecer o objeto (um palácio) que descreve e é, ao mesmo tempo, uma sentença de morte para quem o pronuncia, pois com essa expressão esgota todas as razões possíveis, para viver!
Revela-nos ainda um estudioso das ciências exatas, explorando alguns paradoxos matemáticos, nomeada e curiosamente o uso do conceito de infinito invocando Zenão no seu célebre Paradoxo de Aquiles e da Tartaruga.
Surpreendeu-me a revelação de uma afirmação feita no Salão Palmela do Hotel Estoril-Sol em 1980 «Os superlativos são uma forma de terrorismo cultural que se prestam à polémica».