No tocante ao abrangente tema da Máscara guio-me pelo aprendido nas obras de Claude Lévi-Strauss, Mircea Eliade (que trabalhou na Avenida Marquês de Valbom em Lisboa), Marvin Harris e Roger Callois. Eu sei que existem centenas de outros especialistas e putativos especialistas, no entanto, prefiro confiar nos Mestres que sabem, a gastar os olhos nos do pouco pensado, reflectido e vivido em cavalgadas em vez do percorrido a pé, porque o caminho faz-se caminhando, assim o assinalou o poeta que morreu nos braços da burguesia após jornadas em caminhos que o seu opositor Camilo José Cela calcorreou de lés a lés de toda a Espanha franquista que nos legou Mazurca para dois mortos que vale por toneladas de títulos de antropologia. Esta obra do galego passa-se na Galiza e nela surgem como fantasmas risonhos, pícaros, obscenos, glutões e excessivos os nossos avós do Nordeste transmontano. No tocante a máscaras há quem a afivele todo o ano, excepto no Entrudo, há quem possua várias a fim de as usar conforme as circunstâncias por isso as mulheres astutas das nossas aldeias os crismaram de pantomineiros, há quem as coloque no intuito de mascararem as pulsões negativas – estupidez congénita, impostura, ingratidão, inveja, ódio – ao modo de figurantes repulsivos das grandes tragédias gregas – prometeu, antígona e as bacantes – só para citar as mais referenciadas, a não significar serem mais lidas e interpretadas. Já o escrevi, o Nuno, Nuno Álvaro Vaz, sócio da Livraria Cristal concedeu-me crédito, pagava os livros de acordo com as minhas possibilidades (que eram escassas, ele conhece as causas), uma das primeiras obras adquiridas foi o romance Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas (a história regista ser o eclético autor dumas de outras). Os leitores leram a triste sorte do personagem O Homem da Máscara de Ferro, lembra que até do ferro se fazem máscaras, a significar ser possível a produção de máscaras conforme nos dá na real ou republicana gana. Neste tempo de virulenta pandemia as televisões exibem artefactos destinados a protegermos narizes mesmo os ranhosos e as bocas, até as impregnadas de aviltantes halitoses. As máscaras não são só signo/significante de luxúria, engodo, engano; aos as vislumbrarmos logo ficamos inteirados sobre o que uma mulher ou um homem estão ou deviam estar a praticar acções relativas aos seus conhecimentos e profissões, a torto e a direito verificamos incongruências tendo como elemento primacial a máscara, concedendo acuidade à sentença: bem prega frei Tomás, faz o que ele manda, não faças o que ele faz, este anexim já é conhecido antes do Professor Marcelo ser aguadeiro de António Costa, para lá das diferentes directrizes sobre o mesmo problema de Marta Temido e Graça Freitas. As duas senhoras ainda não convocaram uma conferência de imprensa a pedirem desculpa por que confundem máscara com mascarilha. Ao menos podiam ir à Interne ler as significações de máscara e mascarilha. Se as senhoras tivessem tido a sorte como eu tive de ver os filmes A mascarilha de Zorro o vingador, ou o Prisioneiro do Castelo de Zenda, verificavam as diferenças entre máscaras e mascarilhas. Bem sei, tais filmes não obedeciam ao cânone da actualidade – palavrões de fazerem corar a boca imunda de Aretino, em vez do sugestivo tapa-destapa dessa época de mulheres opulentas aparecem actrizes anorexias ambrientas e escanzeladas. Embora as comparações sejam odiosas, porém vejam as actrizes dos dois filmes nas versões de Zorro e do Prisioneiro, (a lindérrima Madeleine Carrol, espero mão me ter enganado no apelido) e depois vejam as diferenças. No que tange a mascarados volto, novamente, a Bragança não no sentido serôdio do fado coimbrão Coimbra dos meus amores, sim no referente à visão de futuro da cidade. Os leitores recordam-se de um candidato numas eleições autárquicas ter apostrofado Jorge Nunes e Hernâni Dias, o primeiro na justa e operativa medida de ter uma visão cultural da cidade apostando na criação de museus, o segundo continuou e continuará (assim espero) na mesma senda a demonstrar ao candidato a sandice do por ele pensado e proferido. O tempo dos pafós vale como recordação de um passado ancorado em tristeza, conformismo bafiento e estagnação pois no salazarismo tudo se concentrava na letra da canção é uma casa portuguesa (façam o favor de ouvir), no vinho carrascão e carapau do gato. O Museu da Máscara repleto de semióforos a perpetuarem vinculações é exemplo de antecipações do futuro escorado em sedimentações culturais capazes de contribuírem para o revigoramento da região. Os mascarados do presente são cínicos, plagiadores, logo miméticos. O Museu da Máscara ora trazido à colação pelas piores razões para lá de instrumental e separador do referido mimetismo oportunista e pescador em águas turvas a possibilitar a mantença de burocratas da cultura que não usam manguitos dado não estarem na moda, assume-se no quadro das estruturas e super-estruturas daquilo que é lícito esperar numa cidade cujo passado é (deve ser) âncora de fixação de massa crítica geradora de riqueza e emprego. A pandemia eivada de venenos civilizacionais teve o condão de motivar mobilidades que o pouco educado Secretário de Estado da dita cuja ou doença de S. Vito não conseguiu, ou por defeito de incompetência sem descurar a hipótese de raivosas ciumeiras de índole local serem a mãozinha fechada a movimentá-lo da mesma forma que xarabaneco das festas da cidade movimentava as marionetas. Lembram-se? Alguns do meu tempo sabiam fazê-lo destramente, assim soubesse o significado e substância de MORE. Hei-de saber!