Gal Costa e…

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Foi no alfacinha Porão da Nau/Convés que ouvi a voz quente, sensual, arrebatadora de Gal Costa. A partir daí procurei engordar a colecção de discos com as suas admiráveis criações das quais destaco Índia e a banda sonora da famosa telenovela Gabriela Cravo e Canela. Se a voz cálida, coleante, num fundo do tempo a escorrer entre os dedos, tal qual a areia escorre quando enterramos os pés nos areais finos das praias é perenidade para lá da finitude. A baiana musa maior do tropicalismo emparceirava com Caetano Veloso e a sua irmã Maria Betânia feia como os trovões a intonar no estilo da mexicana Chavela Vargas, contribuíram de modo decisivo para a mundialização da música brasileira sem esquecer, antes pelo contrário, a Bossa Nova, Nara Leão e a portuguesa de nascença Carmem Miranda. Ainda adolescente, comecei a trautear canções de cantores brasileiros muito em voga no defunto Rádio Clube Português, a par da oficiosa Emissora Nacional que as difundiam e eu ouvia vibrando das tabernas quando passava nas ruas tal como escutava as notas altissonantes do Pardal sem Rabo a comandar o Terço de corneteiros do Batalhão de Caçadores Nº 3. Cantores do outro lado do Atlântico, as apresentavam nas verbenas estivais, principalmente durante as Festas da cidade no mês de Agosto. Lembro-me do Odir Odilon, da Mara Abrantes a qual ficou e morreu em Portugal. Já de Luís Gonzaga (onde estás coração?) e Caubi Peixoto restam-me fiapos de êxitos seus. A Gal Costa manteve a voz entonação/intonação sem quebras a cimentar a sua aura de cantora até ao fim abrupto dos seus 77 anos, não se sabendo quais foram as causas do desaparecimento do nosso convívio. Resta-me reunir os seus discos em vinil e compactos, escutá-los repetidamente aumentando a saudade como tenho do Marânus (Teixeira de Pascoaes), Montesinho e Nogueira berças do meu orgulho de ser transmontano de raiz telúrica regada com água ribatejana.

Armando Fernandes