Recebo, com alguma regularidade, comentários, opiniões, críticas e análises sobre os textos que, semanalmente, publico na imprensa regional. Porém, nenhuma das minhas crónicas recentes teve tanto impacto como a que foi dada à estampa por este jornal, sob o título “Os Feitores da Quinta”. Para além de algumas referências feitas em páginas de internet, foram muitas as pessoas que me abordaram na minha última viagem ao nordeste, para me manifestarem a concordância com a tese defendida no meu texto. Vários me repetiram a pergunta que eu deixara no ar: quem investiu os edis de poderes para disporem livremente do que lhes não pertence? Outros foram mais longe, apontando-me exemplos de outros casos que, igualmente justificariam análise e publicidade. Aceitando o repto decidi abordar, genericamente esta temática com base em casos concretos para melhor me poder pronunciar, com conhecimento de causa. A água é um recurso precioso, indispensável à vida, em todas as suas formas e, desde tempos imemoriais, causa de disputas e propiciadora de ganhos e preciosas mais-valias. A sua disponibilização ao domicílio em condições sanitárias certificadas é um dos melhores índices de desenvolvimento dos tempos atuais. Esta benfeitoria foi encarada por todos, com especial realce para as populações rurais, como um benefício comum. Tanto assim que muitos foram os que contribuíram, livremente, na medida das suas possibilidades e a troco de contrapartidas meramente simbólicas, para a rápida e eficiente implementação desta infraestrutura. São vários os casos em que os utentes, cientes da melhoria que a água canalizada, ao domicílio, representava, se uniram para darem do que era seu em proveito desse desiderato. Uns cederam materiais, muitos ofereceram mão de obra, alguns facilitaram a passagem de tubagens e outros permitiram a instalação de depósitos, casas de bombas e lugares de captação, de forma graciosa e benemerente. Será legítimo que a autarquia, demitindo-se de levar a cabo a função que esteve na origem destas doações, as ofereça de mão beijada e a troco de nada, a uma empresa que em vez de servir, explora a mesma população? Porque há de uma empresa que, com taxas, tarifas e regras draconianas, muito além do razoável, tendo abandonado o móbil do serviço público, apenas procura maximizar o seu lucro com base numa “oferta” que a Câmara Municipal lhe fez? Que razão moral assiste ao edil para reclamar o que quer que seja, daqueles que, mais do que ele, serviram a comunidade, a si lhe competia servir, em vez de ajudar quem a explora e dela beneficia, que lhes apresenta faturas de valor crescente e lhes corta a água sempre que se atrasam nos pagamentos? Se, por acaso, no final do mandato, o líder autárquico, como algumas más-línguas, injustamente querem fazer crer, vier a assumir qualquer cargo executivo na empresa privada gestora dos recursos hídricos públicos então a falta de moralidade fica ainda mais prejudicada com a possibilidade de pré-existência de óbvio conflito de interesses! À custa do erário público. Com prejuízo do eleitorado que lhe confiou os destinos concelhios para os gerir e proteger. À revelia da vontade de quem, de boa- -fé, voluntariamente deu do que era seu para beneficiar o bem comum.