Isabel Gordo, investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência, tinha, já há algum tempo, descoberto que as bactérias tinham uma capacidade de adaptação mil vezes superior ao que até então era tida como certa e adequada. Esta situação causou-me uma enorme preocupação pois queria dizer que as bactérias multirresistentes tinham condições para se desenvolverem enquanto se multiplicavam e assinalavam o início da morte dos antibióticos tal qual os conhecemos. Contudo as suas pesquisas recentes vieram descobrir que mau grado essa capacidade, as novas entidades pagam como preço por essa super adaptação, uma dependência do fármaco ao qual ganharam resistência. As mutações que se efetuam para conferirem a resistência acabam por lhes serem prejudiciais na ausência do antibiótico. Para sobreviverem estas adquirem outras mutações compensatórias e isto justifica que apesar da tal adaptabilidade, inicialmente referida, nem todas se desenvolvem com sucesso. O que os novos medicamentos terão de fazer é atacar, modificar, bloquear ou, eventualmente destruir, as proteínas que estão envolvidas no mecanismo compensatório. Diz-nos a investigadora que: “Se conseguirmos bloquear as proteínas agora identificadas talvez possamos matar bactérias multirresistentes, uma vez que estaríamos a eliminar este mecanismo compensatório que favorece o seu crescimento na população.” – E como fazer isso? – é a pergunta que se impõe. “Não sei, isso agora já não é comigo. Agora é com os químicos. Talvez no Instituto Técnico de Química Biológica haja alguém que possa agora pegar nisso e desenvolver um medicamento que use adequadamente as descobertas do meu grupo”
Esta conversa veio, a talho de foice, num encontro casual de corredor a propósito da reação que a divulgação deste tipo de notícias frequentemente provocam. Há várias pessoas que lhe telefonam a oferecerem-se para, voluntariamente, serem cobaias para que a investigadora possa por em prática as descobertas que vai fazendo. “Não é fácil dizer-lhes que eu não chego tão longe e que agora há que esperar que outros colegas peguem nisto e façam algo que possa ser usado em futuros medicamentos. Sentem-se frustrados... mas para que eu possa continuar os meus trabalhos de investigação é necessário que eu páre por aqui, nesta linha”. Presente a também investigadora Karina Xavier confessou que muitas vezes se sentia impelida a continuar para lá do estrito objeto da sua investigação porque, como lhe dizia o marido, se calhar com mais algum esforço poderia aprofundar as experiências e talvez contribuir, quem sabe, para mais facilmente curar doenças ou mesmo salvar vidas. “É verdade que eu própria me sinto muitas vezes empurrada nesse sentido, mas tenho de ter a noção que ao ir por aí estou a trilhar um caminho onde não sou especialista. Haverá alguém o fará melhor que eu que me devo concentrar no que melhor conheço e sei.”
Por um lado é importante divulgar este tipo de desenvolvimentos e descobertas científicas entre outras razões para que seja apresentada a devida justificação dos dinheiros públicos que são, em grande parte, o suporte financeiro desta atividade. Por outro, sem diminuir a importância dos resultados obtidos, é necessário igualmente acautelar o excesso de expetativas que este tipo de notícias acaba por despoletar a quem sofre de doenças de uma qualquer área focada e cuja cura não seja ainda possível.
Situação idêntica se passou recentemente na Fundação Champalimaud após o anúncio de uma metodologia nova e revolucionária no tratamento de alguns tipos de cancro e cujos telefones foram completamente inundados de chamadas de doentes a quem, infelizmente, esta nova terapia não se aplicava.