Da inauguração do maior Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) no Porto são muitas e variadas as referências e os destaques dados pela imprensa visionada, falada e escrita. Desde a forma professoral como o Presidente da República se referiu à nova instituição pronunciando a sua sigla lentamente e espaçando os três caracteres (I...3...S) ou como se referiu ao excessivo otimismo do primeiro Ministro, até ao investimento superior a vinte mihões de euros e aos perto de mil investigadores que ali desenvolverão a sua atividade. Houve quem realçasse a inédita cooperação entre os três grandes laboratórios de investigação da capital nortenha, o IBMC de Alexandre Quintanilha, o IPATIMUP de Manuel Sobrinho Simões e o INEB de Mário Barbosa ou ainda as várias valências e áreas de pesquisa, desde o Cancro à Neurobiologia. Também foi realçado o facto de esta cooperação ter acontecido no Porto e a justa homenagem ao antigo Ministro da Ciência José Mariano Gago que tem um dos auditórios com o seu nome (o outro foi batizado com o nome do médico e investigador Mário Corino de Andrade). Obviamente que todas estas notícias me sensibilizaram e, sobretudo, agradaram. Porque são uma boa notícia para a comunidade científica nacional. Porque representarão um acréscimo competitivo do país e do Norte esperando o benéfico contágio regional. Porque é gratificante constatar a gratidão humana para com os que se dediam à causa pública e ao bem comum nisso empenhando as suas melhores capacidades e competências.
De todas as notícias que me chegaram (das já referidas e algumas outras mais) uma há, contudo que sobressai e que requer o devido realce. No meio da euforia dos participantes sobretudo muitos dos novos ocupantes deste largo espaço de perto de vinte mil metros quadrados de construção, no meio da alegria dos novos laboratórios e das salas de reunião e auditórios para os necessários seminários e conferências que mantêm atualizados os diferentes grupos que ali trabalham, uma investigadora, Ana Tomás ao que julgo, queixou-se da falta de um bar.
Não conheço o novo edifício mas se, segundo relatam, não foi construído nenhum espaço com essa finalidade é indesculpável. É de grande importância a existência de um local para uma bebida, um café um bolo ou outra comida rápida que alivie a tensão do esforço e concentração constantes e muito stressantes. Mas também, como refere a investigadora citada, “num bar, descontraidamente também se trabalha e podemos saber muita coisa sobre o que se faz aqui” Com toda a razão e disso sou testemunha. Em ciência, nos tempos modernos, já ninguém trabalha sozinho. Independemente da competição, que também existe, a cooperação é fundamental para chegar aos resultados esperados ou mesmo inesperados. Aconteceu há alguns anos no Instituto Gulbenkian de Ciência que Joaquin Leon e José feijó publicaram uma descoberta de relevo. O relevo deste feito vem da circunstância de um ser especialista em desenvolvimento animal (nomeadamente embriões de galinha) e o outro ter créditos reconhecidos em vegetais (em concreto na polinização). Nada os aproximaria... a não ser uma conversa “casual” no bar enquanto bebiam uma cerveja.
A maior estranheza, neste caso, vem do facto de este empreendimento acontecer por causa e para promover a cooperação entre unidades científicas já existentes.
Por José Mário Leite