Depois de ler com atenção o artigo acerca das estruturas abandonadas na Serra de Montesinho, apetece-me partilhar com os leitores do Jornal Nordeste a minha opinião acerca do assunto.
Muitos de vós perguntarão: que interessa a opinião dela? Em primeiro lugar enquanto cidadã tenho o direito de me importar e opinar. Em segundo lugar, ocupando de certa forma lugares de alguma responsabilidade e tendo sido candidata por Bragança nas últimas eleições legislativas mais obrigação tenho de partilhar com todos a minha opinião, que obviamente vale o que vale.
Há muitos anos atrás, era eu uma jovem, passei bons momentos em família e em grupo com amigos na Casa da Lama Grande.
Alugávamos a casa para fins-de-semana, para semanas, para um dia só, enfim, para a disponibilidade temporal e financeira da altura. E lá íamos. Tratávamos com carinho uma casa que entendíamos de todos nós e quando terminava a estadia, ficava tudo limpo e arrumado para futuras utilizações. Ora como eu, certamente várias pessoas usufruíram dessa estrutura e de outras e têm certamente o mesmo sentimento.
Também me lembro da altura (alguns anos mais tarde), em que as casas do parque estavam todas com ocupação 100%. Digo isto porque, experiencia própria, tentei por várias vezes alugar e não consegui. Ora, concluímos que financeiramente seriam estruturas rentáveis, a menos que, essa ocupação fosse “fictícia” ou sem contrapartida financeira (digamos para os “amigos”).
Houve em Montesinho, um investimento em estruturas de apoio, ou seja, construção de cozinhas junto à casa da Lama Grande, para que a população pudesse usufruir de bons momentos em piqueniques num espaço agradável, com uma beleza que só quem lá está pode descrever. Tudo perfeito, contextualizado, em pedra e madeira, com lareira, mesas e bancos, casa de banho….. Tudo para que todos pudessem usufruir, quer de Verão quer de Inverno.
E hoje, verificamos o estado lastimável em que essas estruturas (quer as cozinhas quer a casa) se encontram.
Já há alguns tempos que não ia à casa da lama grande e no passado mês de Junho, em visita ao Parque com uns professores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa resolvi ir mostrar aquela que considerava a pérola de Montesinho, a cereja no topo do bolo, a Casa e a envolvente. Confesso que as lágrimas assomaram os meus olhos, quando entrei e verifiquei o estado das coisas. Nem queria acreditar. Aliás se me contassem achava que estavam certamente a exagerar. Logo deparo-me com várias perguntas:
De quem é a culpa?
Neste País a culpa por norma morre solteira. Mas aquilo é um crime. É um crime público. Investiu-se dinheiro de “todos” naquela estrutura como noutras e para quê? Para ter aquele triste fim…….
Será melhor ter as casas cedidas a exploração a particulares, já que o estado não sabe ou não quer gerir, ou deixa-las chegar a este estado de degradação?
Será melhor ter um parque natural em que nada é permitido fazer, em que as populações e o parque não se entendem, ou ter um parque onde, como nos outros parques naturais, convive o natural com as pessoas e o investimento?
Será que é tão difícil perceber que quando não há utilização das estruturas ou não há presença humana nos locais, só o vandalismo acaba por triunfar?
Será que não é possível conciliar o investimento, ou seja, a utilização dos equipamentos/recursos e a protecção do parque?
Agora falamos outra vez de recuperar, ou seja, gastar novamente dinheiro de “todos” para compor aquilo que “alguém” deixou chegar àquele estado lamentável. Passamos a vida nisto. Na agricultura houve dinheiro para arrancar o que estava plantado. Depois houve dinheiro para replantar novamente a mesma coisa….. Aqui é quase o mesmo. Diria mesmo, que alguém parece estar a lucrar com esta situação. Primeiro faz-se, depois desfaz-se aquilo que se fez (neste caso por vandalismo) e agora pensamos novamente em fazer…..
Não haverá uma estratégia de longo prazo?
Diz-se por ai que a solução para Bragança passa pelo turismo. Para mim uma das soluções para Bragança passa pelo turismo sim, mas por um turismo estruturado, definido a médio e longo prazo, articulado com as entidades, instituições e empresários que possam ter um papel no desenvolvimento de soluções sustentáveis.
É urgente e necessário que comecemos a pensar no colectivo e não cada um no seu umbigo. É necessário que nos unamos para sermos mais fortes. É necessário que tenhamos a capacidade de ouvir as populações e não termos a pretensão de achar que sabemos o que é melhor para elas.
É necessário que todos, e todos somos poucos, caminhemos na mesma direcção.
Por Anabela Anjos