Há razões que a razão desconhece é frase finalização de conjecturas elaboradas em torno de decisões que nos parecem despropositadas, abstrusas, torpes ou inclassificáveis, as quais mais tarde mesmo os seus autores as classificam de veemente asneira embebida em algodão em rama, a consciência do ensinamento contido no provérbio nem tudo o que reluz é ouro, responde a razão dizendo: agora torce a orelha, mas ela não sangra, fica entregue ao remordimento impotente do que não tem remédio remediado está. Podemos apontar vários exemplos das razões desconhecidas pela razão, seja no domínio do amor, seja na área profissional e académica, seja ainda no tocante às afinidades electivas (tão bem descritas e vincadas polo poeta, filósofo, anotador de costumes e paixões de mulheres e homens), no entanto, as asperezas da vida, as desilusões porque nos iludimos muito, o progressivo conhecimento da fiabilidade do prometido, obriga-nos a adoptarmos os cuidados dos gatos (felinos que escaldados pela água quente da fria têm medo) agora feitos personagens da campanha eleitoral em curso dando azo a um tropel de inanidades de vários comentadores da CNN Portugal, com excepção de Maria João Avilez e Carlos Magno, a fim de não cairmos na esparrela de votar com o coração esquecendo os registos ponderados e reflectidos do cérebro que também toca os instrumentos das emoções categoricamente definidos pelo professor António Damásio. Ora, o nosso voto não pode (não deve) ser desperdiçado ao sabor das razões desconhecidas pela referida razão, não sendo necessário recorrermos a um qualquer gestor de momentâneo entusiasmo em função da propaganda seja da banha da cobra, seja da cantata de estar a surgir a cornucópia dos milhões, seja ainda da distribuição dos votos ao modo do bondoso e exímio mestre da língua portuguesa (de leitura obrigatória) que foi o Padre Manuel Bernardes autor de Pão Partido em Pequeninos, no caso em apreço em votos. Sim, eu sei, o pluralismo partidário deve existir, de qualquer modo desperdiçar o voto num partido sem qualquer possibilidade de eleger deputados ou de ganhar arreganho de forma a alterar a governação no meu entendimento só favorece quem exerce o poder na justa medida da dispersão o favorecer. Obviamente, inúmeros pensadores defendem a referida dispersão, longe da bondade e da doutrina do ínclito Padre Manuel Bernardes, alimentam utopias tão utópicas como as do Senhor Pangloss quando visitou Lisboa após o terramoto. As sondagens dizem não estar previsto nenhum terramoto eleitoral, nesse campo apenas Ventura pode esperar uma maior migalha, daí não votarei desvalido da intenção de contribuir para a alternância do poder, por nás e nefas, com duas máscaras, cautela e distanciamento exercerei o direito de votar desprovido da fátua ilusão (a grande e obra-prima filmou-a em 1937 Jean Renoir) , sim atento ao desenrolar e desvendar dos resultados de um prélio de enorme importância para o futuro deste Portugal ainda a vender resquícios dos fumos da Índia, sempre interessado no gastar acima das nossas posses, exibindo um perecer sem ter, ao contrário das voltas do cordão de ouro daquela senhora de falas francas enquanto ajudava o marido na vetusta praça do mercado de Bragança. Alguém se lembra da saltitante Senhora?