A Plataforma transfronteiriça RIONOR (Rede Ibérica Ocidental para uma Nova Ordenação Raiana) e cuja atuação se desenvolve nos territórios de Trás-os-Montes, Alto Douro, Galiza e Castilla León vai concluir em Mirandela, no próximo dia 15 de dezembro, na Escola Profissional de Carvalhais um Conselho Raiano iniciado recentemente em Zamora. Foram ali levantadas várias questões sobre um novo paradigma educacional, ibérico, coerente e consequente com os ideais da Associação com sede na aldeia comunitária luso-espanhola.
Após o sucesso que foi a jornada castelhana e perante, não só as teses, propostas, relatos, conceitos e exemplos ali apresentados mas, sobretudo, pelas perguntas, sugestões, inquietações e propostas que a centena de delegados, dirigentes e participantes ali trouxeram, é enorme a expetativa que se criou à volta da jornada a acontecer na Terra Quente Transmontana. Bem andou, precisamente, a direção da RIONOR ao adiar o acontecimento para meados do último mês do ano, permitindo assim uma melhor, mais atenta e mais adequada intervenção dos participantes que já se comprometeram a rumar à Princesa do Tua em mais de uma centena.
Numa altura em que, não só no nordeste, mas também no nordeste, como em todo o mundo se questiona a melhor forma de investir nas novas gerações para garantir um futuro melhor e, porque não, para concretizar e até banalizar o que hoje, muitas vezes, é visto como inatingíveis utopias.
Longe de mim querer antecipar-me ao promissor conteúdo que vai brotar em quantidade e, sobretudo, em qualidade em Carvalhais. Permito-me, porém, fazer uma pequena reflexão sobre formação e educação. Vivemos um tempo em que estão já adquiridas, entre muitas outras, duas verdades incontestáveis: ninguém sabe ao certo quais vão ser as profissões do próximo futuro (sabemos todos que serão distintas das atuais) e que tudo o que possa ser feito por uma máquina, haverá, seguramente, uma máquina para o fazer, melhor e mais rápido que qualquer ser humano, por mais genial que seja! Será contudo precipitado e mesmo perigoso confundir dois conceitos que, sendo semelhantes, não são iguais. Havendo muitas tarefas que as novas gerações não precisam saber fazer, não devem nem podem ignorar como fazer.
Porque os computadores têm uma capacidade enorme e crescente de processamento mas a sua memória é sempre temporária, direta e objetiva. Por contraponto, a nossa é duradoura, sentimental e associativa. As máquinas, cada vez mais poderosas e inteligentes, tomarão conta e dominarão toda a tecnologia conhecida e repetitiva mesmo que complexa. Contudo, à saída de fábrica, as máquinas são todas iguais, ao contrário dos seres vivos que não há dois que o sejam.
Mesmo assim o trabalho humano, se rotineiro tenderá a desvalorizar-se. O mundo que nos espera é global e pequeno. O que eu faço aqui, se nada de intrinsecamente meu tiver, alguém, em alguma parte do mundo o vai fazer melhor ou mais barato.
Cabe-nos pois valorizar, adequadamente, a arte, o sentimento, a memória! Este facto torna a sustentabilidade futura mais democrática porque à desvalorização natural dos recursos tecnológicos vai corresponder um acréscimo dos valores baseados na imaginação, sensibilidade e tradição... em que os territórios interiores pedem meças aos do litoral!