O governo de Angola tem pleno direito de erguer os museus e de celebrar os feitos históricos que entender. O governo português, porém, não pode, nem deve, em nenhum caso, colaborar com quem quer que seja, no aviltamento da História, da Pátria e dos concidadãos, vivos ou mortos, que bem ou mal representa. O governo a que António Costa continua a presidir e que, pelos vistos, só deixará de fazer disparates a 10 de Março, data em que cessa formalmente funções, acaba de publicar no Diário da República, no dia 22 de Dezembro de 2023 mais precisamente, a Resolução n.º 179/2023 do Conselho de Ministros que diz textual- mente: “Autorizar a disponibilização de um montante extraordinário de 34 000 000,00 EUR para apoio direto ao Orçamento Geral do Estado de Angola, a desembolsar até ao final do ano de 2023, destinado a contribuir para o restauro e apetrechamento da Fortaleza de São Francisco do Penedo, em Luanda, com vista à construção, naquele espaço, do Museu da Luta pela Libertação Nacional de Angola.” Resolução surpreendente, esta, que de pronto nos leva a perguntar: será que Angola ainda é uma colónia portuguesa? Será que a tal luta de libertação não foi travada contra Portugal? Será que os ministros do governo cessante têm vergonha de serem portugueses ou sentem remorsos por tudo que Portugal realizou por esse mundo de Cristo além, durante 500 anos? Importa, desde já, esclarecer, que esta pérfida decisão é justificada com um chorrilho de disparates e omissões que desvirtuam não só a História de Portugal, mas a de Angola, igualmente. Desde logo porque a independência de Angola não é o remate vitorioso das forças armadas de libertação que, à data, estavam totalmente neutralizadas, antes resultando do processo revolucionário de 25 de Abril. Tanto assim é que à tal luta pela libertação de Angola se seguiu uma guerra fratricida muito mais cruel e destruidora. Depois, porque Angola, quer queiram quer não queiram, é obra de Portugal que lhe traçou fronteiras, lhe garantiu unidade territorial e política e a dotou de uma língua internacional unificadora. Ainda que determinante tenha sido a Conferência de Berlim, realizada entre 1884 e 1885, na qual as principais potências europeias dividiram entre si as terras africanas, sacrificando as fronteiras culturais e étnicas ancestrais. Certo é que no território que actualmente constitui o Estado angolano coabitavam, nem sempre pacificamente, distintos povos, com idiomas e culturas diferentes, alguns dos quais, como é o caso dramático dos cabindas, ainda hoje se batem pela independência, aspiração justa e legítima que o governo nacionalista angolano rejeita e o progressista governo de António Costa, mancomunado, despreza. Mas a traição do governo presidido por António Costa vai mais fundo quando, conivente, esquece que a tal luta pela libertação de Angola se iniciou com a chacina de milhares de inocentes cidadãos portugueses, brancos e negros, operada pela UPA em Março de 1961. Foi, de resto, esse horrendo massacre que desencadeou a longa guerra que igualmente vitimou milhares de soldados europeus e africanos que heroicamente defendiam a ideia revolucionária de uma pátria livre, justa e em que todas as raças e credos poderiam viver fraternalmente. Importa ter sempre presente que muitos destes militares africanos acabaram por ser perseguidos e assassinados pelos novos poderes entretanto constituídos. Acresce que Angola, à data da independência, era o país mais próspero e socialmente mais justo de todo o continente africano e hoje se encontra mergulhado na miséria generalizada, o que muito deslustra a tal Luta pela Libertação Nacional de Angola que agora se pretende celebrar. Aspectos que, é o mais certo, não irão ser eviden- ciados no tal Museu da Luta pela Libertação Nacional de Angola. Nada disto obsta, importa realçar, a que haja uma alargado número de matérias em que Angola e Portugal podem e devem cooperar amigavelmente, dignificando a História comum. Mas nunca com o propósito de denegar e denegrir a História de Portugal, que agora o infeliz governo de António Costa está, intencionalmente ou não, cobardemente, a cofinanciar.