A reflexão filosófica conduz-nos a uma aventura fascinante do devir do pensamento e a um percurso ímpar que vai da família, à aldeia e à cidade. Paulatinamente o mito vai dando lugar à filosofia e à política. Platão fala-nos da cidade ideal. Aristóteles vai alicerçar a génese da filosofia política no poder paternal da família. Várias famílias dão origemA a uma estrutura mais complexa que é a aldeia. Por seu lado as aldeias dão origem à cidade, à “polis” de grande complexidade que já exige um poder político que tende ao bem comum. E assim, com Aristóteles há uma importante sistematização da política como ciência, partindo dos seguintes pressupostos: “Primeiro, procuraremos rever o que foi dito pelos nossos predecessores que investigaram este assunto. Depois, com base na nossa recolha de constituições, consideraremos o que preserva e o que destrói as cidades bem como as respetivas constituições e quais são as causas de que umas sejam bem governadas e outras não. Estudadas estas questões, podemos compreender melhor qual a melhor constituição, como cada uma deve ser ordenada e de que leis e costumes carece.”
E é por isso que cada vez mais me fascina a política enquanto repositório de saberes antiquíssimos que o devir humano vai completando, vai aperfeiçoando, no sentido de tornar a ação política numa prática tendente ao bem comum e ao bom governo da cidade.
Isto é política, a mais nobre ação humana e de novo ouvimos o grego Aristóteles: “o homem é, por natureza, um animal político.”
Regressando aos nossos dias e à nossa ação política, facilmente se confunde política, com política partidária que sem dúvida é essencial para garantir a democracia, entendendo que, como diz Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todos os outros já experimentados ao longo da história.” E infelizmente a história está cheia de maus exemplos do aproveitamento político-partidário. Todos nos lembramos, horrorizados, como o Cabo Hitler chegou a líder do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialistas Alemães e mais tarde acumulou os cargos de chanceler e presidente dando origem à criação do “Terceiro Reich”, da polícia secreta “Guestapo” e ao extermínio desumano, entre outos, de milhares de judeus, ciganos e opositores. “Se existe um Deus, ele terá que implorar pelo meu perdão.” Foi esta a frase escrita na cela por um prisioneiro judeu. Horrores em nome da política.
Claro que hoje a política partidária, aparentemente, no nosso meio, é mais civilizada, mais afetiva, mais pluralista, embora seja no seio dos partidos que muitas vezes renascem os antigos tiranos que facilmente quebram o verniz: Quem não é por mim é contra mim. E assim, fiéis seguidores vão catapultando, numa dinâmica de clubismo, políticos que não estudam e exibem qualificações e títulos que não possuem.
É por isso que dentro do espírito da velha máxima atribuída a Sócrates, o grego: “só sei que nada sei”, continuo a estudar a ciência política com devoção. Participo na vida partidária em liberdade. Aprendi o máximo que pude com os meus antecessores, a quem respeito e venero. Ensino humildemente os mais jovens. Leio Platão e Aristóteles, pioneiros do pensamento político e acredito, convictamente, que a política é o dom maior do homem ético que tende à felicidade.
Da filosofia e da política
Fernando Calado