Sim, é com um enorme sorriso e imensa alegria que escrevo esta crónica num momento único para o desporto nacional.
Não é todos os dias, nem todos os anos, nem todas as décadas que se conseguem os êxitos que o desporto português tem conseguido nestas últimas semanas.
E tão ou mais glorioso que as vitórias foi ver, finalmente, as pessoas a reconhecerem o esforço, a dedicação e o trabalho dos atletas de várias modalidades e não só do futebol e mais ainda esse reconhecimento vir do mais alto magistrado da nação tratando todos como merecem.
Como é óbvio se antes não eramos os piores do mundo (embora às vezes muitos tivessem esse sentimento) também agora não somos os melhores, mas somos bons. Por outro lado se nem tudo estava mal antes também nem tudo são rosas agora.
Os resultados são e serão sempre fruto de muita dedicação, muito trabalho, muita perseverança, muitos sacrifícios, algum (ou muito) talento e um pouco de sorte.
A sorte pode ajudar a ganhar mas que ninguém se convença que é só com sorte que se conseguem as grandes vitórias. Sem talento e sem trabalho não há sorte que nos valha.
Ninguém ou quase ninguém esperaria tamanho sucesso nos Campeonatos da Europa de Atletismo mas o trabalho feito deu resultados.
Por outro lado estes êxitos não nos podem cegar e fazer pensar que está tudo bem e que daqui para a frente é tudo nosso. Há que ter os pés bem assentes no chão e analisar o que está a ser feito bem e menos bem.
No sector onde temos vindo a perder influência a nível europeu e mundial foi onde conseguimos estes grandes êxitos.
No meio fundo e fundo já não somos os dominadores dos tempos do Carlos Lopes e do Fernando Mamede e a tão famosa “Escola Portuguesa de Meio Fundo e Fundo” já foi “chão que já deu uvas”.
As quatro medalhas obtidas nas corridas de fundo (Sara Moreira ouro na Meia-Maratona, Dulce Félix prata nos 10 000 m, Jéssica Augusto bronze na Meia-Maratona e ouro coletivo na mesma prova) são fruto da qualidade das atletas e do seu excelente trabalho.
Em boa hora a Meia-Maratona passou a fazer parte dos Campeonatos da Europa, primeira vez que há Meia-Maratona e são logo sete medalhas. Sim sete, as duas individuais e as cinco da equipa (para além da Sara e da Jéssica, são campeãs a Dulce, a Marisa Barros e a Vanessa Fernandes.
Fica uma nota para refletir: se é verdade que há cada vez mais gente a correr (e ainda bem) e a quantidade de corridas iguais ou superiores a 10 kms é cada vez maior porque é que a qualidade do nosso meio fundo e fundo tem vindo a decrescer, salvo raras e honrosas exceções?
Os sucessos desportivos projectam a imagem de qualquer país além-fronteiras e são um excelente meio de promoção a nível europeu e mundial, para além disso fazem-nos muito bem ao ego tornando-nos mais optimistas, confiantes e orgulhosos de quem somos.
Por tudo isto e muito mais, muito obrigado a todos os que tanto trabalharam e trabalham para nos dar estas alegrias, bem hajam e muitos parabéns.
Que sirvam de exemplo e incentivo para que os que ainda não chegaram lá continuem o seu percurso sem desmoralizar.
Escrito por: Carlos Fernandes – Professor de Educação Física e técnico de atletismo