Caciquismo ao mais alto nível. O voto de cabresto

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Muito badalada foi a visita triunfal do presidente Marcelo a Angola, apenas maculada pela omissão de um elementar laivo de respeito, uma palavra que fosse, para com os soldados de Portugal lá sepultados: negros, brancos e amarelos.

Nenhum político da era colonial teve recepção tão empolgante, o que só prova que a secular simpatia que liga os povos de Angola e de Portugal continua viva e que o colonialismo português não foi assim tão mau como certos vende pátrias maldizentes pretendem fazer crer, muito embora em nenhuma circunstância se deva silenciar factos históricos desfavoráveis.

O futuro das relações entre estes dois países irmãos mostra-se assim altamente prometedor. Oxalá os políticos saibam e queiram valorizar os laços históricos e culturais agora evidenciados em ambiente de independência e fraternidade.

Outros acontecimentos não mereceram, todavia, a devida atenção, apesar da importância que inegavelmente têm, com destaque para as já célebres listas eleitorais de António Costa e de Rui Rio, um tema recorrente que bole com a própria essência da democracia.

Listas que dariam fitas emocionantes se um qualquer Spielberg ousasse levar tais histórias à cena, parodiando A Lista de Schindler que, como se sabe, é um filme norte-americano de 1993 sobre Oskar Schindler, um empresário alemão que salvou a vida a centenas de judeus vítimas do Holocausto, com o argumento de que seriam mais úteis nas suas fábricas.

É por demais óbvio que António Costa e Rui Rio não elaboram listas para salvar judeus das câmaras de gás. Bem pelo contrário, escolhem, a dedo, os mais fiéis servidores para terem a certeza de que o partido os não ejecta a eles, seguros que estão de que o crédulo e pacato povo português não se amotina no campo de concentração em que o mantêm encurralado, fustigado pela corrupção e pela falsidade política. Nada lhes garante, todavia, que a bomba da Justiça não lhes estoure nas mãos quando menos se espera e que o Regime não entre em parafuso.

Quanto ao PCP nada se sabe, o secretismo é total. As suas listas são atiradas para a opinião pública prontinhas a ser impressas nos boletins de voto, depreendendo-se que são elaboradas em paz e harmonia, com inspiração do espirito santo marxista-leninista. O BE e o CDS também não têm dado nas vistas pelas mesmas ou por outras razões. Não é o caso do PS e do PSD, pedras de amolar da democracia, em que os amuos, as desforras e traições são públicas e notórias.

O problema fundamental, porém, não está na batalha campal em que os machuchos de PS e do PSD se engalfinham. Reside no facto das listas serem cozinhadas pelos directórios respectivos nas costas dos eleitores em geral e dos militantes em particular, o que constitui uma verdadeira afronta aos mais elementares princípios democráticos.

A isto os brasileiros chamam, ironicamente, voto de cabresto porque, à partida, os caciques partidários amarram os eleitores a quem eles muito bem entendem. Trata-se duma forma de caciquismo ao mais alto nível, portanto.

Esta a principal razão pela qual a maioria se abstém.

 

Este texto não se conforma com o novo

Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro