A barrela

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Ao longo dos anos tenho neste jornal e em outros dedicado atenção ao predador de negócios Joe Berardo porque na minha opinião é um cuco sempre à espreita da oportunidade de vazar os olhos a empresários e empreendedores competentes recorrendo a múltiplos estratagemas e truques sejam de alto coturno ou ao estilo dos vendedores e compradores de recheios de casas no momento de angustiantes aflições dos seus proprietários. Em Bragança amassaram-se fortunas provenientes de empréstimos a juros onde a escandalosa usura era a prática habitual. O «capitalista» Berardo teve êxito no despudorado ataque a várias empresas, resistiu a Sogrape porque a família sua proprietária soube resistir já que dinheiro para tais maquinações nunca faltou ao madeirense dado a ser o porta-estandarte de furiosas investidas financeiras muito ao modo do senhor Mário Conde o famigerado banqueiro espanhol máximo actor do golpe filibusteiro contra o banco Banesto. Em Espanha na época do pelotazo até um governador do Banco de Espanha entrou no baile do golpe ao sistema financeiro inspirando portugueses de colorações partidárias diferentes (BANIF, BPN, etc.) inspirando os aprendizes de feiticeiro como é o senhor da centenária Quinta da Bacalhoa. Um cientista escreveu Deus não joga aos dados, só que dados relativos a negociatas de tomo colocaram em risco o sistema financeiro, sendo conhecedor das teias de interesses que levaram à concessão de vultuosos créditos a revelarem a possibilidade a uma os mais que uma mão invisível tivesse inventado uma estratégia da aranha a recordar o celebrado filme de Bertolucci com o mesmo título cujo tema central é a conquista do poder. Ora, a conquista do poder provocou feridas ainda a sangrar (Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, etc.), alinhamentos e alianças impensáveis, intrigas próprias dos filmes de acção, traições á la carte, conflitos familiares ainda em curso (Ricciardi e o dono disto tudo) num novelo emaranhado que temos (pagamos) direito a conhecer. Esse desejo de sabermos onde a meada se inicia e até onde vai só é passível de total revelação caso se leve a cabo uma enorme barrela, tal e qual eram as barrelas da roupa de cama das pensões brigantinas dos anos cinquenta do século antecedente. Ora, se não for seguida a frase lapidar do senhor de Lampedusa podemos aquilatar a esperança da dita roupa suja ser lavada e corada a pontos dos contribuintes perceberem as artes e manhas utilizadas no sumiço dos milhares de milhões vindos uma determinada banca capturada na opacidade dos gabinetes e restaurantes dotados de salas privadas e acolchoadas, não vá o Mafarrico gravar e filmar comparsas e palavras proferidas. Se quisermos ser miméticos pois abundam situações semelhantes em Itália, os pagantes (nós) aplaudiriam uma operação ‘Mãos Limpas», mesmo limpas de ambições desmedidas e espúrias. O pior é o Senhor de Lampedusa

Armando Fernandes