A estrela maior da Geringonça que, como se sabe, é uma coligação desconchavada, pouco fiável, embora funcional, constituída pelo Partido Socialista, de centro-direita e pelos seus satélites de extrema-esquerda (Partido Comunista, Bloco de Esquerda e Os Verdes), é Mário Centeno, ministro das finanças de Portugal que acumula com o cargo de presidente do Eurogrupo. Estrela que começou a luzir, pequenina, ao cair da tarde, quando o governo de Passos Coelho entrou no ocaso e foi aumentando de brilho até se transfigurar num pequeno sol.
De facto, é a estrela Mário Centeno que ilumina o governo da Geringonça desde que anunciou a boa nova do fim da austeridade, na alvorada duma inédita governança de esquerda. Só outra estrela, composta de ininterruptos flashes de selfies, que cintila nos céus de Belém, se lhe compara.
Ao invés a estrela meã do primeiro-ministro António Costa foi-se desvanecendo nas trevas de sucessivas tragédias, escândalos e crises, entrando em eclipse total com a recente interposição dum buraco negro partidário centrado na deslumbrada família socialista governamental.
Não admira, portanto, que assalariados, pensionistas e demais bafejados pela sorte inesperada, cedo tenham começado a incensar o ministro Centeno, a tal ponto que a maioria absoluta do partido Socialista foi, durante longos e luminosos dias, um dado adquirido.
O talentoso e sortudo ministro Mário Centeno teve o condão e o mérito de esmagar sistematicamente os melhores argumentos da inteligência financeira, economicista e política nacional e internacional, para gáudio do próprio primeiro-ministro António Costa que esfregava as mãos de contente e impava de vanglória.
Enquanto Rui Rio, seu principal opositor (ou parceiro, mais tarde se verá!) arengava aos peixes no deserto, a inefável Assunção Cristas se diluía em bravatas com António Costa e Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, famintos de poder, se lambuzavam sofregamente com as migalhas da mesa do orçamento.
E assim foi que o taumaturgo Mário Centeno, à luz da doutrina oficial que estabelece que tudo o que de bom tem acontecido à economia nacional nos últimos tempos se lhe deve, se converteu num herói (como há poucos), num Salazar democrático (update do original).
Mário Centeno que, espicaçado pelos fariseus do PCP e do BE, com o seu sorriso afável abençoa o pão e os peixes e os multiplica para saciar as multidões esfaimadas, num ágape alucinogénio à base de pescadinhas de rabo na boca e arroz malandrinho.
É com estupefacção, portanto, que os portugueses constatam que a economia nacional não vai assim tão bem quanto Costa e Centeno fazem crer, agora que as condicionantes conjunturais externas dão sinais de não serem as mais favoráveis.
A austeridade aliviou, mas poucochinho, a dívida pública continua a ser uma bomba em potência, a economia faz que anda mas desanda e a governança socialista é um regalo. Ponto final.
Mário Centeno, hábil a baralhar e a tornar a dar, vê agora a sua estrelinha empalidecer. Resta aos portugueses fazer figas e manguitos para que não se apague de todo.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.