25 de Abril: Golpe e revolução

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O dia 25 de Abril de 1974 já é uma data relevante na História Universal, que não apenas na História de Portugal, porque assinala a queda do último império colonial, que também fora o primeiro a nascer na velha Europa. Também porque, na circunstância, novos Estados ganharam expressão no contexto internacional.
Importa distinguir, todavia, o golpe militar da revolução que se lhe seguiu, porque as causas de um e de outra, não coincidem em absoluto.
Tanto assim é que apenas alguns protagonistas do golpe se comprometeram abertamente, e a posteriori, com a revolução, sobre a qual pairou, desde muito cedo, o espectro da tentação totalitária.
O golpe militar encontrou “elan” em razões corporativas, sobretudo na insatisfação de jovens oficiais que viam as suas carreiras ameaçadas, porque o esforço de guerra obrigava ao recrutamento de quadros superiores à margem da tradição.
Também porque a situação militar na Guiné era desesperada e no norte de Moçambique se agravava dia a dia, ainda que em Angola, Cabo Verde e Timor as Forças Armadas portuguesas tivessem domínio absoluto da situação.
Já as razões para a revolução, traduzida numa mudança desordenada da estrutura económica, social e política, prendem-se, principalmente, com a ausência de liberdade política e o ostracismo a que o regime salazarista era votado na Europa e no resto do mundo.
Não se estranha, portanto, que ainda haja muitos episódios do golpe militar desconhecidos do grande público.
Como sejam a libertação dos presos políticos de Caxias por uma força de fuzileiros que saíra da Base do Alfeite com a missão de tomar de assalto o Cristo Rei ocupado por tropas revoltosas de Vendas Novas, a rendição das forças da GNR que recolheram a quartel depois do confronto com as tropas de Santarém no Terreiro do Paço, ou o papel da esquadra da Nato que estava fundeada no Tejo.
Certo é que o golpe militar foi conduzido por líderes ocasionais, sem prestígio e competência bastante, que se constituíram em Comissão Coordenadora só porque estavam colocados em unidades da capital. Assim se compreende o percurso anárquico e antidemocrático do processo revolucionário, bem como a tragédia magna da descolonização.
Por isso os democratas mais convictos lamentam, hoje em dia, que o Estado democrático enferme de males idênticos ao do ditador Salazar. Criticam, sobretudo, o despesismo, a desigualdade, a corrupção e o ermamento do interior. Sem esquecer o nepotismo partidário e a pobreza que continuam a manchar a democracia.
Será a História a mostrar a verdade e a fazer justiça.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico por vontade do seu autor.

Por Henrique Pedro