Unidade Domiciliária de Cuidados Paliativos da Terra Fria já acompanhou mais de 200 famílias

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A Unidade Domiciliária de Cuidados Paliativos (UDCP) da Terra Fria já acompanhou 227 doentes e respetivas famílias, desde março de 2015, altura em que se iniciou este projeto que abrange os concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais.

Esta iniciativa, resultado de uma parceria entre a Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste, as três Câmaras Municipais dos concelhos abrangidos e a Fundação Calouste Gulbenkian, tem contribuído para que um maior número de doentes com patologias crónicas, progressivas e incuráveis possam permanecer nos seus domicílios, durante o maior tempo possível, acompanhados por uma equipa multidisciplinar, disponível 24 horas por dia, que assegura uma assistência clínica especializada nas suas próprias casas.
A importância deste projeto para os doentes e para as suas famílias é explicada no Olho Clínico pelo Dr. Duarte Soares, médico especialista em Medicina Interna e Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde do Nordeste, e pela Enf.ª Ana Gonçalves, Enfermeira coordenadora da Unidade Domiciliária de Cuidados Paliativos da Terra Fria.
Este projeto assegura a proximidade dos cuidados em três concelhos do distrito de Bragança que têm uma população muito envelhecida, que se encontra muito dispersa, e que, devido à dispersão geográfica, tem dificuldades em deslocar-se aos serviços de saúde. “É uma população que está muito isolada e que necessitava efetivamente deste tipo de cuidados”, realça a Enfermeira Ana Gonçalves.

Apoio multidisciplinar

A equipa multidisciplinar da UDCP da Terra Fria é composta por um médico, um enfermeiro, um psicólogo, um fisioterapeuta e uma educadora social e conta ainda com o apoio das Unidades de Cuidados na Comunidade destes três concelhos.
Após a referenciação dos doentes, que pode ser feita através dos Cuidados de Saúde Primários ou dos Cuidados Hospitalares, esta equipa efetua uma avaliação global não só do doente, mas também da sua família, no sentido de assegurar o acompanhamento adequado a cada caso. “É feita uma avaliação dos principais sintomas do doente e da sua família, não só físicos, mas também sociais e psicológicos, para assim podermos delinear o plano de acompanhamento”, sublinha a coordenadora de enfermagem deste projeto.
A aceitação deste tipo de cuidados por parte das famílias tem sido positiva, assegura o Dr. Duarte Soares. “As famílias não tinham apoio e nós viemos dar-lhes esse apoio de que elas tanto necessitavam”, assegura o médico especialista na área de Cuidados Paliativos da ULS Nordeste.
Os números alcançados por este projeto desde o seu início demonstram precisamente o seu sucesso junto da comunidade.
Só nos últimos seis meses, estes profissionais efetuaram 2.393 visitas domiciliárias, tendo totalizado, desde o início do projeto, 4.359 visitas a casa dos doentes, o que se traduz numa média de 9 visitas diárias, repartidas pelos cinco elementos da equipa. Foram ainda efetuados por esta equipa um total de 1.868 contatos telefónicos, 855 dos quais nos últimos seis meses. Neste período também foram acompanhados 87 novos doentes e respetivas famílias.

Referenciação mais célere e mais óbitos em casa

O número médio de dias de referenciação para a primeira consulta também diminuiu relativamente ao primeiro ano de projeto, passando de 4,5 para 4,3 dias.
A maioria dos utentes acompanhados no seu domicílio tem doença oncológica, apesar de também haver casos relacionados com outras patologias, como por exemplo vítimas de demências, Acidentes Vasculares Cerebrais, insuficiência cardíaca e insuficiência respiratória.
De realçar que 80 por cento dos dias dos doentes acompanhados por esta equipa foram passados no domicílio, o que significa que necessitaram de menos internamentos em Hospital de Agudos.
De destacar ainda o contributo da equipa multidisciplinar da UDCP da Terra Fria para o aumento do número de óbitos no domicílio. Nos últimos seis meses, dos 52 óbitos registados na área de abrangência desta Unidade, 24 (46,2%) aconteceram em casa, 10 (19,2%) na Unidade de Paliativos de Macedo de Cavaleiros, 11 (21,2%) em lares, residências ou Unidades de Cuidados Continuados e apenas sete (13,4%) aconteceram em Hospital de agudos.
“Antes de existir este projeto, a percentagem de falecimentos em Hospitais de Agudos era superior a 60 por cento (dados da região Norte). Neste momento, a média de doentes a morrer nos hospitais situa-se nos 14 por cento. Há um decréscimo enorme, que tem implicações positivas para os próprios doentes, mas também em termos de diminuição de custos para os próprios hospitais”, sublinha o Dr. Duarte Soares.
O trabalho desta equipa permite assim evitar internamentos, que podem expor os doentes a infeções hospitalares, através de cuidados de proximidade devidamente planeados, que contribuem para antecipar problemas de saúde que podem surgir na sequência do seu estado clínico. “O nosso trabalho incide muito em ensinos, quer da medicação, quer da alimentação, da hidratação, posicionamentos, prevenção de úlceras de pressão. Também são disponibilizadas, em regime de empréstimo, ajudas técnicas aos doentes e seus familiares. Se estes tiverem alguma dúvida ou situação inesperada têm um contacto, disponível 24 horas por dia, e podem pedir apoio”, explica a Enfermeira Ana Gonçalves.
 
Unidades domiciliárias são uma “referência” a nível nacional

Este projeto, que se encontra atualmente em fase de consolidação clínica, surgiu da replicação de um outro projeto análogo - pioneiro a nível nacional - em curso no Planalto Mirandês, que abrange os concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro.
Neste momento são abrangidos por esta valência de prestação de cuidados paliativos no domicílio seis dos doze concelhos do distrito de Bragança.
As Unidades Domiciliárias da Terra Fria e do Planalto Mirandês, consideradas “uma referência” a nível nacional, estão integradas no Departamento de Cuidados Paliativos da ULS Nordeste, do qual fazem também parte a Unidade de Cuidados Paliativos com 17 camas disponíveis para internamento, no Hospital de Macedo de Cavaleiros, bem como as Equipas Intra-Hospitalares de Suporte em Cuidados Paliativos existentes nas três Unidades Hospitalares que integram esta ULS (Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela).