Triagem de doentes garante atendimento eficiente na Urgência

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Os serviços de urgência são confrontados diariamente com um grande número de doentes que apresentam uma vasta gama de problemas. A sobrecarga de trabalho destes serviços sofre grandes variações de hora para hora dependendo diretamente do número de doentes que aí acorrem e do estado clínico com que se apresentam. A ausência de triagem destes doentes constitui um enorme obstáculo ao funcionamento adequado dos serviços de urgência. Ora, é por isso absolutamente essencial que exista um sistema de triagem implementado para assegurar que estes doentes sejam atendidos por ordem de prioridade clínica e não por ordem de chegada.

História
Já passaram mais de 20 anos desde que um grupo de médicos e enfermeiros do serviço de urgência se reuniram na cidade inglesa de Manchester, pela primeira vez, para debater soluções para combater a desorganização que se vivia então nos serviços de urgência. Nem nos seus sonhos mais arrojados imaginariam que a solução para o seu problema local seria suficientemente pertinente e oportuna para se tornar não só a solução para todo o Reino Unido como viria a ser adotada em centenas de hospitais em vários países do mundo como a Áustria, Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia, Finlândia, Espanha, Brasil, México entre outros.
Em Portugal a implementação do método que ficou conhecido como Sistema de Triagem de Manchester aconteceu em Outubro de 2000, simultaneamente, no Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, e no Hospital de Santo António, no Porto. No Hospital de Bragança esta metodologia foi implementada em Março de 2007 facto que mereceu honras noticiosas nos media locais e nacionais.
O sistema de triagem de Manchester, nos dias de hoje, já se encontra em vigor em todas as unidades hospitalares do Sistema Nacional de Saúde e também em alguns serviços de atendimento da rede privada.

O que é?
A triagem de Manchester é um protocolo de avaliação de risco clínico que é efetuado na admissão do doente no serviço de urgência. Ou seja, é um sistema que serve para classificar a gravidade e a prioridade dos doentes através de protocolos clínicos, atribuindo pulseiras com cores (vermelho, laranja, amarela, verde e azul) que correspondem a diferentes prioridades clínicas de atendimento.

O que significam as cores
das pulseiras de triagem?
O sistema de triagem de Manchester é constituído por cinco cores, consoante o grau de gravidade e o tempo previsto para o atendimento do doente. Aos doentes com problemas mais graves é atribuída a cor vermelha, que corresponde a um atendimento imediato. Essas cores são utilizadas nas pulseiras atribuídas ao doente.
Os casos muito urgentes recebem a cor laranja, para serem atendidos num espaço de tempo de dez minutos, enquanto a cor amarela significa um caso urgente, sendo estimado o atendimento no prazo de uma hora.
As cores verde e azul são atribuídas às situações que apresentam menor gravidade (pouco ou não-urgentes) e, como tal, são os casos que demoram mais tempo a serem atendidos, podendo levar entre duas a quatro horas, respetivamente.

Quem faz a triagem?
A triagem de Manchester é feita, habitualmente, por enfermeiros que estejam habilitados com formação específica para o efeito (Curso de Triagem de Manchester) e inscritos na bolsa nacional de triadores no Grupo Português de Triagem. Também pode ser feita por médicos desde que possuam a formação atrás referida.

Metodologia de triagem
A metodologia de triagem baseia-se na identificação da queixa de apresentação (os fluxogramas de apresentação) e na procura posterior de um número limitado de sinais e sintomas em cada nível de prioridade clínica. Os sinais e sintomas apresentados fazem a discriminação entre as diferentes prioridades e são, por isso, chamados discriminadores. Ou seja, trata-se de colocar cada doente numa das 250 hipóteses, numa matriz de apresentação-prioridade 50 x 5 alternativas que estão disponíveis numa plataforma informática.
Assim, ao contrário do que acontecia antigamente, na chegada à urgência hospitalar e após a inscrição no respetivo guichet, todos os doentes são observados na sala de triagem onde um enfermeiro faz uma primeira observação e algumas perguntas sobre o motivo da sua ida às urgências. Estas questões, que fazem parte do Protocolo de Triagem, permitem atribuir uma pulseira com uma cor correspondente a um grau de prioridade e a um tempo de espera espectável até à primeira observação médica.
Depois da inscrição, o enfermeiro regista de forma clara o motivo da vinda à urgência através da identificação da queixa de apresentação. Depois seleciona um quadro, entre 50 disponíveis, que seja o mais adequado entre vários possíveis para aquela queixa.
Esses quadros – ou fluxogramas – contêm várias questões que devem ser colocadas ao doente pela ordem apresentada e podem ser específicos para a situação em causa – como por exemplo, um episódio oftalmológico, de dispneia (falta de ar) ou de dor abdominal – ou gerais: perigo de vida, dor, hemorragia, estado de consciência, temperatura ou agravamento da situação clínica. Cabe ao profissional que realiza a triagem escolher o fluxograma que melhor se adequa à queixa principal do doente.
O enfermeiro percorre, então, a lista de questões, realizando a medição de parâmetros fisiológicos sempre que seja necessário e quando identifica uma resposta positiva (ou parâmetro fisiológico) é atribuída a prioridade respetiva e registadas todas as avaliações efectuadas. Se, após a triagem inicial, existir agravamento do doente durante o período de espera, o doente pode ser reavaliado (retriado).

Auditoria da triagem
A Triagem de Manchester é hoje em dia, provavelmente, o procedimento clínico mais sujeito a auditoria no Serviço Nacional de Saúde. Este sistema é sujeito, sistematicamente, por determinação expressa da Direção Gera de Saúde, a dois tipos de avaliação; auditorias internas e auditorias externas. As auditorias são feitas por auditores internos e externos à ULSNE certificados pelo Grupo Português de Triagem.

O futuro
A prioridade clínica dos doentes é um dos marcadores dos múltiplos casos que acorrem contínua e persistentemente a um serviço de urgência. Acredito que num futuro não muito distante este item venha a ser utilizado como parâmetro de qualidade em contratos de qualidade e como variável não despicienda na contratação financeira..

Norberto Silva
Enfermeiro Chefe do Departamento de Urgência, Emergência e Cuidados Intensivos e do Serviço de Urgência Médico-
-Cirúrgica da Unidade Hospitalar de Bragança
– ULS Nordeste