Estima-se que 850 milhões de pessoas em todo o mundo apresentam doenças renais de várias causas. Tanto a doença renal crónica como a lesão renal aguda contribuem para o aumento significativo da morbilidade e mortalidade e surgem maioritariamente nos grupos de maior risco que incluem doentes com diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, obesidade, doenças autoimunes ou com história de doenças renais.
Em Portugal, a prevalência de doentes sob tratamento substitutivo da função renal tem vindo a aumentar anualmente e a incidência de doentes em diálise é das mais elevadas da Europa. A Word Kidney Day apela a todos para que mantenham e melhorem a saúde renal. A adoção de um estilo de vida saudável (evitar o tabaco, praticar exercício físico e ter uma alimentação saudável e equilibrada – com boa hidratação e com redução da ingestão de sal, açúcar e gorduras), fazer rastreios da doença renal nos grupos de maior risco e garantir que os doentes recebem os cuidados de saúde de que necessitam para atrasar a progressão da doença renal. Por outro lado, este ano existe um apelo a tomar medidas de forma a melhorar os cuidados de saúde dos doentes renais (em tratamento de substituição da função renal), promovendo a melhoria da sua qualidade de vida.
Mais de 40% dos doentes em hemodiálise apresentam desnutrição proteico-energética, que se associa a um aumento da morbilidade e da mortalidade desta população. Baixas ingestões proteico-energéticas condicionam a hipoalbuminémia (albumina baixa) e a desnutrição proteico-energética. A maioria dos doentes são idosos (média de idades 67,1 anos) e diabéticos (55% dos doentes em hemodiálise são diabéticos). As recomendações proteicas para os doentes em hemodiálise são de 1,2g/kg/dia e podem estar aumentadas dependendo do estado nutricional e clínico. A qualidade da proteína também é importante, sendo recomendados 50 a 80% de alto valor biológico, com o objetivo de assegurar a ingestão adequada de aminoácidos essenciais. As recomendações energéticas para estes doentes são de 30 a 35 kcal/kg/dia, dependendo da idade e da atividade física.
A alheira é uma iguaria muito apreciada na Região e no País. É um alimento de fácil confeção, apetitosa e com grande facilidade na mastigação. No entanto, apesar de ser uma fonte proteica acessível e muito apreciada, a alheira tradicional apresenta um elevado teor de sódio e gordura. Além disso, o seu teor proteico não satisfaz as necessidades proteicas dos doentes em hemodiálise. Surge assim o projeto de fazer um enriquecimento proteico da alheira tradicional. Com este projeto pretende-se tornar a dieta do doente hemodialisado adequada, mas sem perder o prazer de saborear uma boa refeição, de acordo com as suas preferências culturais e individuais.
O que é a alheira
com clara de ovo?
Nesta adaptação aumentou-se o teor de carnes de aves (frango e peru). O pão de trigo regional foi utilizado sem sal e com um teor reduzido de fermento. A inovação desta alheira foi o seu enriquecimento proteico com clara de ovo.
Assim, o produto final foi uma alheira com alto teor de proteínas (> 20% do valor energético total), um teor médio de gordura saturada e um alto teor de gordura monoinsaturada. Reduziu-se o teor de sal em 64,7% em comparação com a alheira tradicional, obtendo-se um alimento com um teor médio de sal.
Alheira tradicional vs. alheira com clara de ovo
Porquê com clara de ovo?
A clara de ovo é uma proteína barata, bem tolerada e versátil. É constituída por água e proteínas, principalmente ovoalbumina, uma proteína de alto valor biológico, que contém os aminoácidos necessários para a formação da massa muscular, tal como a leucina. Tem baixo teor de gordura, colesterol e fósforo. É o constituinte alimentar com menor rácio de fósforo-proteína: 1,4 mg/g de proteína. Apresenta uma alta digestibilidade (97%) em relação ao leite/queijo (95%) ou carne/peixe (94%).
Pode substituir a carne/peixe
ou mesmo um suplemento proteico?
å A alheira com clara de ovo poderá substituir a fonte proteica dos doentes em hemodiálise.
å Nos doentes com desnutrição proteico-energética, a alheira com clara de ovo poderá ser utilizada como suplemento.
Autoria do projeto:
• Dr. Nunes Azevedo – Nefrologista TECSAM/ULS do Nordeste
• Dr. Pedro Azevedo – Nefrologista TECSAM
• Prof. Doutora Flora Correia – Nutricionista no CHSJ
• Dra. Rosária Rodrigues – Nutricionista da ULS do Nordeste
Empresa: Eurofumeiro
Apoio: Câmara Municipal de Mirandela