Ter, 13/12/2022 - 11:19
O primeiro caso de Xylella Fastidiosa na região foi detectado num viveiro em Alvites, no concelho de Mirandela. Segundo o proprietário, Amândio Esteves, as plantas não aparentavam sintomas da doença. A bactéria apenas foi detectada, porque todos os anos o viveiro é obrigado a fazer análises de detecção da Xylella para obter certificados para conseguir comercializar as plantas.
Depois de os resultados terem dado positivo, o empresário contou que foram feitas mais análises às restantes plantas, visto que também vende amendoeiras e castanheiros.
O problema é que, tendo em conta que não há tratamento para a doença, a produção deste ano vai ser toda destruída. “Preocupa-me, porque eu vou ser obrigado a destruir as plantas que tenho no viveiro”, afirmou, explicando que não pode “comercializar nenhuma das plantas” que tem no local. Um prejuízo que prejuízo que ronda entre os “60 e os 70 mil euros”.
Neste momento aguarda mais indicações da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, para saber quais os procedimentos a tomar, mas não tem dúvidas de que mais casos podem aparecer na região. “Quando houver mais prospecções é normal que surjam mais casos”, referiu Amândio Esteves, frisando que alguns casos detectados no país são em viveiros, porque é onde são as feitas as análises obrigatórias.
A DGAV já emitiu um despacho a determinar as zonas afectadas, abrangendo das freguesias de Mirandela e Macedo de Cavaleiros, referindo que será feita “a destruição imediata, após realização de um tratamento adequado contra a população de potenciais insectos vectores, dos vegetais infectados, bem como dos restantes da mesma espécie” e que é proibida “a comercialização, na zona demarcada, em feiras e mercados, de qualquer vegetal, destinado a plantação”.
Sabe-se que no raio de 50 metros do viveiro vai ser tudo arrancado e no raio de 2,5 quilómetros não se podem fazer plantações das plantas sensíveis à bactéria.
Paula Baptista é professora no Instituto Politécnica de Bragança e investigadora no Centro de Investigação de Montanha e já esteve envolvida num projecto europeu sobre a bactéria.
Quando questionada sobre o impacto que a Xylella Fastidiosa na região, admite que pode ser “particularmente grave”, porque a bactéria afecta “espécies que são muito importantes em termos económicos”.
No entanto, salienta que é “preciso ter noção que não podemos entrar em alarmismo”, visto que já há medidas que europeias para controlar a doença. “A nível europeu já há conhecimento sobre a bactéria, o modo como ela se transmite, já se conhece o principal vector que transmite esta bactéria e, portanto, deve ser tudo visto com cautela, mas não com alarmismo”, afirmou.
Através do projecto, Paula Baptista, conseguiu concluir que há oliveiras que são resistentes à bactéria, mais concretamente italianas. Percebeu ainda que quando um insecto se alimenta da ceiva de uma planta doente e se desloca para outra planta sã, se se alimentar dessa planta pode transmitir a bactéria. Estudou ainda alternativas de luta directa contra a bactéria, mas até ao momento, “não há nenhum que seja 100% efectivo”.
Por isso, a mitigação da bactéria só pode ser feita com a adopção de um conjunto de medidas usadas de forma combinada, como a criação de uma zona tampão e a destruição das plantas.
A dificuldade em combater a Xylella Fastidiosa está relacionada com o facto da bactéria se poder “colonizar e crescer no interior das plantas e essas plantas não desenvolvem sintomas e nesses casos pode constituir um foco para a dispersão para plantas que sejam susceptíveis”, o facto de ser transmitida por um insecto permite ainda “a sua dispersão a maiores distâncias” e o facto de crescer no sistema vascular da planta torna difícil “arranjar produtos que consigam penetrar na planta é mais complicado”, aliado ao facto de ser “uma bactéria bastante resistente”.
A Associação de Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro, APPITAD, está já agir em consonância com a Direcção geral de Alimentação e Veterinária e a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte e disponibilizou-se para trabalhar em soluções de monitorização da bactéria.
O presidente, Francisco Pavão, realçou que “não nos devemos alarmar com esta situação”. “Neste momento não há problema, o insecto vector não actua neste momento e, portanto, temos que estar atentos, monitorizar e acompanhar de perto esta situação”, referiu.
O responsável espera que Estado português aplique o regulamento europeu que prevê compensações aos agricultores afectados, não só ao proprietário do viveiro, mas aos olivicultores que têm produção perto e que vão ser a suas oliveiras arrancadas. “A nossa preocupação também é garantir que os agricultores que tiverem prejuízos directos com o arranque de plantas que sejam indemnizados desta situação”, afirmou.
A Xylella foi identificada pela primeira vez em Itália, em 2013, e chegou a Portugal, mais concretamente a Vila Nova de Gaia, em 2019. Este ano, foram detectados os primeiros casos em Mirandela e Fundão.
O que é a Xylella Fastidiosa?
É uma bactéria que é transmitida por insectos picadores-sugadores, que se alimentam da ceiva das plantas e que quando infecta as plantas vai obstruir o sistema vascular, que vai impedir a absorção de água e nutrientes à parte aérea da planta, culminando com a sua morte.
Tem tratamento?
Para já ainda não há uma cura. A bactéria está presente em vários continentes e sobre a qual se tem vindo a procurar soluções, mas até ao momento nenhuma é eficaz. Está-se a estudar a nível Europeu alternativas, nomeadamente no controlo do vector, mas também directamente contra a bactéria e na procura de variedades de plantas que mostrem alguma resistência à bactéria.