Ter, 09/05/2023 - 12:26
Que o diga Diana Remondes Baptista, que vive em Mirandela e, estando grávida pela terceira vez, tem que recorrer ao serviço de saúde privado para conseguir perceber como se está a desenvolver o bebé que espera. Com as duas gravidezes anteriores, no que toca a acompanhamento, não houve problemas. Mas a terceira está a ser, no que a esta matéria diz respeito, um pouco mais atribulada. Diana Remondes Baptista, de 36 anos, contou que foi pedido o acompanhamento da obstetrícia, da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste, e “esse pedido demorou imenso tempo a chegar”, sendo que, para sua surpresa, foi marcada uma primeira consulta para o dia 14 de Setembro. Nessa altura já estará grávida de oito meses, o que já não servirá de muito, em termos de acompanhamento. “Isto não é nada contra a nossa ULS. Contudo, penso que há apenas três obstetras, que fazem a cobertura do Nordeste Transmontano todo, só que eles têm o serviço, urgências e consultas e é natural que alguma coisa vá ficando para trás”, esclareceu a grávida, que disse ainda que “os sucessivos governos e ministros têm deixado esta unidade”, apesar do “esforço” que acredita que estes três médicos estejam a fazer. A Unidade Local de Saúde do Nordeste foi questionada sobre esta matéria. Quisemos compreender se, de facto, a primeira consulta para esta grávida foi mesmo marcada apenas para Setembro; a que se ficou a dever esta demora na marcação; se há aqui algum erro ou, de facto, não há como dar resposta a esta utente mais cedo; quantos obstetras estão, neste momento, afectos à ULS do Nordeste; quantas grávidas estão a ser seguidas no distrito neste momento; se se considera que o número de médicos chega para dar resposta a estas mulheres; e se, tendo já feito alguns exames no serviço de saúde privado, se houver algum erro, esta mulher poderá ser reembolsada. Respondeu dizendo que “assegura o acompanhamento a todas as mulheres grávidas no estrito cumprimento das normas e programas de vigilância em vigor, de acordo com a avaliação clínica individual” e que as mulheres que se integram no Programa Nacional de Vigilância para a Gravidez de Baixo Risco “são devidamente acompanhadas nos Cuidados de Saúde Primários, com agendamento de consultas periódicas e dos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT ́s) preconizados - de acordo com a avaliação clínica individual efectuada durante o período de gestação - e encaminhamento para consulta pré-natal hospitalar”. Assim, no caso concreto, esclarece a ULS do Nordeste que “estão a ser cumpridos todos os procedimentos do Programa Nacional de Vigilância para a Gravidez de Baixo Risco, estando a ser garantido o devido acompanhamento nos Cuidados de Saúde Primários, incluindo consultas com o Médico de Família, tendo sido agendados os MCDT`S preconizados (três ecografias trimestrais) e a consulta pré-natal hospitalar”. Explicou ainda, em comunicado, que ali exercem funções 10 médicos especialistas em Ginecologia e Obstetrícia (três do quadro de pessoal e sete em regime de prestação de serviços). Diana Remondes Baptista contou ainda que o pedido para a primeira consulta foi feito para Vila Real, tal como é possível às grávidas de Mirandela. Vila Real não respondeu e foi pedido o seguimento a Bragança, que, para dar esta resposta, para Setembro, demorou mais de um mês a responder. O que aconteceu ainda no caso de Diana Remondes Baptista foi que o primeiro rastreio da gravidez, que acontece entre a 11ª e a 13ª mais seis dias, foi marcado para a 14ª semana, ou seja, já “notoriamente fora de tempo”. A grávida diz compreender a situação, assumindo que “isto tem a ver, possivelmente, com o excesso de trabalho que os médicos estão a ter”, mas, o que é certo, é que teve que recorrer ao privado. Diana Remondes Baptista tem um seguro de saúde, o que a está a ajudar neste acompanhamento, mas diz que, como profissional de saúde, resolveu dar voz a quem não tem dispõe de um. “A minha principal frustração é ver que há gente que está a passar o mesmo que eu e não tem um seguro. Porque quem não o tem, e tem até um ordenado até médio-alto, isto representa uma despesa muito grande”, assinalou, vincando ainda que, “supostamente, toda a gente tem direito à assistência à saúde”. A grávida diz que não tentou compreender a situação, junto da ULS do Nordeste, porque o que compreendeu é que, possivelmente, não serviria de muito. “Aquilo que, muitas vezes, me apercebo é que isto é recorrente. Tenho uma colega que tem um filho com um ano e meio e ainda está, hoje, à espera da última consulta e teve sucessivas desmarcações. Sei que não sou caso único. Percebi e percebo que três médicos não são suficientes e, se calhar, muito estão eles a fazer”, rematou.