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“Túnel dava para 10 quilómetros de IP4”

Ter, 13/09/2005 - 15:03


O candidato do CDS-PP à Câmara Municipal de Bragança, Carneiro Gonçalves, dá nota negativa à maioria das obras levadas a cabo pela autarquia.

Naquela que é a primeira entrevista aos candidatos de cinco partidos à CMB, o cabeça de lista acusa Jorge Nunes de ter aplicado milhões de euros em obras desnecessárias.

Jornal NORDESTE (JN) - O que o levou a candidatar-se à Câmara Municipal de Bragança?
Carneiro Gonçalves (CG) – Candidato-me pelas mesmas razões que levaram o Eng. Jorge Nunes a candidatar-se há 8 anos contra o Dr. Luís Mina. Na altura, o Eng. Nunes acusava o Dr. Mina de não ter feito nada, de gerir mal as receitas da Câmara e de cobrar taxas de lixo. Hoje, não só pagamos a taxa de recolha de resíduos sólidos urbanos, como ainda nos é cobrada uma taxa de tratamento de esgotos e ainda levamos com os cheiros da ETAR em cima.
O Eng. Nunes fez obra, é evidente, mas em vez de aplicar as receitas em obras desnecessárias, deveria ter investido na satisfação das necessidades básicas da população, porque muitas aldeias do concelho ainda não têm saneamento, nem água em quantidade e qualidade.

JN – O que considera obras desnecessárias?
CG – É inaceitável que, num espaço de 500 metros à volta do centro da cidade, se tenham gasto milhares e milhares de contos, quando noutras zonas não se fez praticamente nada. Devo dizer que o Eng. Nunes fez obra, mas nem toda é da sua responsabilidade. O concurso para a urbanização da Quinta da Braguinha já tinha sido lançado pelo Dr. Mina, ao passo que a construção do Parque do Eixo Atlântico já tinha começado. A partir daqui temos o PROCOM e o Polis, que foram altamente financiados pelo Governo e pela União Europeia.
No que respeita ao Polis, as verbas foram mal aplicadas. Devia-se ter aproveitado para requalificar as margens do Fervença em todo o curso que atravessa a cidade, desde a Ponte do Jorge até ao Campo Redondo. Em vez disso, apostou-se num projecto com custos de manutenção altíssimos, porque os corrimões, o pavimento e os bancos em madeira não resistem ao nosso clima e vão custar muito dinheiro.

JN – Para não fugir ao tema do Polis, o que pensa da Praça Camões?
CG – Tem os mesmos defeitos das margens do Fervença. A iluminação é deficiente e peca pela falta de árvores e sombras. Julgo que a solução de transferir o Mercado não resultou. Deveria ter-se encontrado uma solução provisória para alojar os comerciantes, enquanto se construísse um novo Mercado na Praça Camões. Tinha-se feito o parque de estacionamento na mesma, mas o Mercado ficava ali, com o aparcamento por baixo, como acontece noutras cidades.
O Mercado dava movimento à Zona Histórica, do mesmo modo que poderiam dar os serviços da Câmara Municipal, se fossem transferidos para o centro da cidade. A obra do Centro Cultural e da Biblioteca estão bem concebidas, mas no antigo Ciclo deveriam ficar os serviços da Câmara, para darem vida ao centro da cidade. Se fosse assim, a Praça Camões já não seria o deserto que se vê.
Não se compreende que nas outras cidades se tente atrair as pessoas para o centro e em Bragança se esteja a fazer o contrário.

JN – Vejo que tem uma visão muito negativa das últimas obras da Câmara Municipal…
CG – Tenho, porque o valor duma obra deve corresponder à sua utilização e rentabilidade ao nível económico-social. Vejamos a questão do túnel de prolongamento da Av. Sá Carneiro: com o que ali se investiu faziam-se 10 quilómetros de IP4, com obras de arte e tudo. Recordo que os 20 quilómetros de IP4, que ligam Bragança a Quintanilha, custaram 5 milhões de contos, sem as pontes do Sabor e da Ribeira do Porto.
As últimas adjudicações da Câmara davam para fazer o saneamento em 136 aldeias, mais do que aquelas que o concelho tem. No estado de desenvolvimento em que se encontra Bragança, poderia ter-se feito uma obra mais económica que o túnel, capaz de resolver os mesmo problemas. Não adianta dizer que isso ia interferir com a Central de Camionagem, porque o túnel passa-lhe ao lado e há muita área da Estação Rodoviária que era dispensável. Que adianta ter lá um parque infantil se não tem sombras, mas tem arbustos com espinhos que são um perigo para as crianças?

JN – Na sua perspectiva, a Câmara Municipal deve indemnizar a FDO devido ao impasse na concessão dos parques de estacionamento?
CG – O que vou dizer já o disse na Assembleia Municipal. Só o facto da Câmara ter dado o terreno aos investidores e eles terem ficado com a exploração da parte comercial e habitacional já é muito bom. Não fizeram nada demais em construir a sede da Junta de Freguesia da Sé e não fariam nada demais de dessem o parque de estacionamento à Câmara. Só o terreno vale 800 mil contos!
Sendo assim, a indemnização de 380 mil contos, que é proposta pelo estudo de Daniel Bessa, não faz qualquer sentido.

JN – Acha que o Teatro Municipal está a ser bem aproveitado?
CG – Essa obra foi feita por ajuste directo e aí também se cometeram muitos erros, que foram visados pelo Tribunal de Contas. E não adianta o Eng. Nunes dizer que a obra não custou mais do que aquilo que estava previsto…
Se qualquer director de serviços do Estado fizesse uma obra de 1,5 milhões de contos por ajuste directo, ia imediatamente para a rua!
É mais um investimento sem rentabilidade, porque a média da assistência é de 100 espectadores por espectáculo, numa sala que leva quase 500 pessoas. Há dias em que estão 10 ou 20 pessoas, quando no Teatro de Vila Real estiveram 33 mil pessoas num mês com 43 espectáculos.
O projecto do Teatro Municipal de Bragança foi concebido para ter restaurante, que poderia ser um café concerto, mas foi pena que a Câmara tivesse feito a Sala de Actos no seu lugar. O nosso programa prevê a criação do restaurante e a retirada da Sala de Actos daquele local, que é muito especial, dada a vista que proporciona sobre a cidade.

JN – Quais são os seus projectos para o mundo rural, em particular para a vila de Izeda?
CG – Ao nível do mundo rural fez-se o matadouro, mas é pena que não esteja a funcionar devidamente e que haja criadores e talhantes de Bragança que prefiram o matadouro de Vinhais. Algo está mal!
Em relação a Izeda, é preciso elaborar o Plano de Urbanização da vila, construir uma Variante à EN 217 e um pólo industrial. Além disso, é imperioso garantir o abastecimento de água em quantidade e qualidade, construir uma ETAR e arborizar os largos que foram construídos recentemente, bem como requalificar toda a vila, que não é só o centro.

JN – Pensa que Bragança vai conseguir atingir o estatuto de Eco Cidade?
CG – Bragança só será uma Eco Cidade se aproveitar os seus recursos devidamente. Em colaboração com as Juntas de Freguesia é possível aproveitar os resíduos florestais para aquecimento, por exemplo. Esse aproveitamento pode ser feito em conjunto com os resíduos sólidos da cidade e isso só é possível através da criação duma Central de Compostagem. Antes de se falar em Eco Cidade, a Câmara tem de pensar no aproveitamento dos resíduos florestais e dos resíduos sólidos urbanos para produção de energia.

JN – Defende a transferência da ETAR de Bragança?
CG – Sim. A questão não são só os cheiros, mas o impacto visual e ambiental numa zona nobre da cidade. É uma obra que tem que sair dali obrigatoriamente. Construir a ETAR naquele local foi duma prepotência e duma teimosia inaceitáveis, tal como foi a decisão de investir milhões de euros na sua ampliação, em vez de se fazer uma nova ETAR noutro sítio. Aquilo é um crime.

“Se qualquer director de serviços do Estado fizesse uma obra de 1,5 milhões de contos por ajuste directo, ia imediatamente para a rua!”