Transmontanos combatem o frio com aquecimento com consumo energético mais baixo

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Ter, 14/12/2021 - 10:04


Quando o frio aperta nem todos conseguem manter as casas quentes

Portugal é o quarto país da Europa em que a população tem maior dificuldade em aquecer as habitações durante o período de maior frio, por falta de dinheiro para o aquecimento. Cerca de 17% dos habitantes não são capazes de manter as suas casas confortáveis a nível térmico durante o Inverno, quando a média europeia é de cerca de 7%. Segundo dados do Eurostat, atrás de Portugal surgem apenas a Bulgária, a Lituânia e o Chipre. Na região transmontana, onde as temperaturas são muito baixas nos meses de Outono e Inverno, há uma preocupação crescente para optar por sistemas de aquecimento que impliquem menos despesas. Já que a dificuldade de manter as casas aquecidas não é alheia ao facto de Portugal ser o 8.º país da União Europeia com os preços da electricidade mais elevados, ainda segundo o Gabinete de Estatística da União Europeia. Também o aumento acentuado do preço do gás, dos combustíveis fósseis e até mesmo tem levado as pessoas a procurar outro tipo de aquecimentos. Pedro da Garcia, da Loja da Energia, em Macedo de Cavaleiros, que trabalha no ramo há 24 anos, afirma que “de há oito ou nove anos para cá houve um ‘boom’ dos pellets, agora ainda se vão instalando alguns equipamentos, mas nos últimos anos começou-se a investir na parte eléctrica, nas bombas de calor, principalmente, e ar condicionado, mas 95% das instalações que fazemos têm acoplados painéis fotovoltaicos de auto-consumo”, ao passo que, “até há 10 anos, 70 a 80% era aquecimento central com gasóleo” e “via-se pontualmente alguns sistemas a lenha, mas eram pessoas que a tinham”. Assim, actualmente “o mercado está um bocado dividido entre pellets e a parte eléctrica”, o que se deve também “ao incentivo que houve da parte do Estado, de há cerca de um ano e meio para cá, para as energias renováveis”, ao abrigo de um programa do Fundo Ambiental. Com os apoios estatais, a procura por parte dos clientes tem aumentado, já que a aquisição de equipamentos de aquecimento são financiados em 85%, até ao máximo de 2500 euros no caso das bombas de calor, tal como acontece com painéis fotovoltaicos. A procura no âmbito dos apoios do Estado tem sido alguma, mas entende que as pessoas não estão muito informadas. “Temos de ser até nós a informar as pessoas que têm estes benefícios, tenho feito alguns serviços e depois é que digo aos clientes que há esses apoios”, afirma. O comerciante da área da climatização considera que deveria haver apoios para os próprios consumos energéticos para a população de regiões como Trás-os-Montes. “Aqui não se pode olhar para o aquecimento como no Litoral, no Interior é uma necessidade das casas e no Litoral é quase considerado um luxo, porque as temperaturas não têm nada a ver. Se tivéssemos um benefício, por exemplo, nos combustíveis líquidos as pessoas continuariam a optar pelo gasóleo, porque a electricidade também é uma inconstante, não se controla muito o preço”, afirmou. Apesar de a maioria dos aquecimentos da região instalados nos últimos anos serem a pellets, o preço deste material tem vindo a subir. O saco já chegou a custar 2,80 euros, agora ronda os 3,60. No entanto o maior aumento tem-se registado mesmo no gasóleo, que “tem sido um absurdo”, segundo Pedro Garcia. “Cheguei a vender gasóleo de aquecimento a cerca de 40 cêntimos, neste momento está a 1,30 euros, é uma coisa exorbitante. Vai chegar a um ponto que vai custar tanto uma caldeira de aquecimento a gasóleo ou encher um depósito de mil litros, é insustentável assim”, afirma. Por isso quase não tem tido pedidos para instalar novos equipamentos a gasóleo, a não ser caldeiras mais modernas e com consumo mais baixo. “Para novas instalações de aquecimento central completas raramente aparecem pedidos”, afirma. Há também quem tenha sistemas com combustíveis mais caros e troque, passando de gás, gasóleo ou lenha para pellets ou bombas de calor. Nuno Morais, da empresa de climatização APJ, em Bragança, também afirma que os clientes estão a apostar sobretudo nas bombas de calor, associadas a painéis solares. Apesar de reconhecer que as pessoas, em especial as de mais idade, “aqui na zona ainda gostam de ver o lume a arder” e optam assim por pellets, mas “cada vez mais as pessoas têm-se virado para as bombas de calor”. “Apesar de ser um investimento maior, são máquinas que não dão trabalho de limpeza, não é preciso comprar nem carregar lenha, nem pellets, nem de manutenção”, afirma, por isso, os “pellets têm reduzido cada vez mais”. O técnico refere que as bombas de calor podem custar o dobro de uma caldeira de pellets, no entanto, poderá ser vantajoso já que são eficientes, “porque um terço da energia é eléctrica e o resto é energia do meio ambiente”. Quando surgiu este sistema, a empresa vendia sobretudo para novas instalações, no entanto, há também pessoas que optam por comprar bombas de calor para substituir o aquecimento a gasóleo.

Venda de lenha diminui

Com a diminuição da utilização dos aquecimentos a lenha e das lareiras tradicionais, a venda de lenha tem diminuído bastante. Paulo Trigo, de Alimonde, Bragança, refere que “há menos procura, porque também há as máquinas a pellets e as pessoas optam mais por isso, porque é mais limpo e dá menos trabalho”. Mas com a subida do preço dos pellets, já tem ouvido lamentos de antigos clientes que deixaram de lhe comprar lenha. “Com o tempo vai ser como o gasóleo, vai aumentar”, afirma. Ainda assim tenta angariar clientes novos para compensar a quebra e explica que o preço se tem mantido, vendendo a carga a 400 euros. Num ano normal, vende em média 50 reboques de lenha. Também José Manuel Pires, de Izeda refere que a venda de lenha tem diminuído nos últimos dois a três anos, “devido aos pellets e outro tipo de aquecimento” e porque “não há gente nos povos, muitas pessoas têm morrido”, já que a maioria dos clientes são mais idosos. “O forte são as pessoas de idade” e não há muitos novos clientes, que optam por outros tipos de aquecimento nas habitações. Apesar dos custos, nomeadamente com o gasóleo, terem aumentado, opta por não mexer no preço há vários anos “senão não compram”. 

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro