Tempo quente faz cair produção de cereja para mais de metade

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Ter, 09/05/2023 - 12:27


As temperaturas baixas durante a noite e as temperaturas muito altas durante o dia estão a condenar as produções agrícolas e nem as cerejas conseguiram escapar

Em Maio, já se esperam as cerejas de Alfândega da Fé. A primeira apanha costuma acontecer no fim do mês, mas este ano até vai ser antecipada devido ao calor que veio mais cedo. No entanto, são esperadas quebras significativas. Maria Beatriz Reis tem dois hectares de cerejal, na Trindade. Dentro de uma semana espera já estar a apanhar cerejas, mas não na quantidade de que gostaria. “Estava carregadinha de flor, mas não limpou bem, ficou com pouca cereja. Foi como se a flor secasse”, disse, adiantando que espera quebras de “50 ou 60%”. “Se chegar aos três mil quilos podemos dar graças a Deus”, acrescentou. A produtora queixou-se das oscilações das temperaturas e, principalmente, do calor das últimas semanas que “queima mesmo” a flor. E essas temperaturas fizeram adiantar a apanha da fruta. “O calor de dia fez- -lhe muito mal. Era previsto vir mais tarde e ser maior, mas este ano fica madura rápido, não fica tão docinha e não cresce o suficiente”, disse. A seca está a preocupar os agricultores, que se vêem obrigados a regar as árvores para que as quebras não sejam tantas. Maria Beatriz Reis admitiu que terá que regar as cerejeiras, daqui a uns tempos, para que “a fruta cresça um bocado” e tenha menos quebras. Outro dos produtores que este ano vê pouca cereja nas árvores é Luciano Silva. Na cereja do “cedo”, aquela que se apanha agora neste mês de Maio, espera quebras de “50%”, mas nas restantes variedades a quebra pode ultrapassar os “80%”. “Penso que foi o calor. Na floração aqueceu muito. Tenho variedades que estavam em flor e depois não apareceu o fruto”, disse. Tem a produção em Bornes e costuma colher mais de 40 toneladas de cerejas. Este ano não espera colher mais de 6 toneladas. “Não tem chovido, as cerejeiras estão afectadas do ano passado e tudo ajuda. Choveu muito no inverno, mas precisaram de água e no Verão todo não choveu e agora também não tem chovido, está complicado”, referiu. E se as cerejas são poucas, já se espera que o preço suba, até porque se não for assim “estamos tramados”. Ainda assim, Luciano Silva espera que a qualidade e o tamanho da cereja se mantenham, já que a árvore tem poucas. A Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé também tem essa expectativa, mas se vier “uma chuvada” ou “granizo”, a produção fica comprometida. O presidente da cooperativa, Luís Jerónimo, também admite haver quebras nas várias variedades. “Na cereja do cedo, que já devemos ter dentro de duas semanas, temos uma quebra na ordem dos 40 a 50%, depois temos a cereja de meia estação, em que as quebras não são muito significativas, entre a 10 e 15%, e na cereja do tarde também temos quebras entre 40 a 50%. Estas quebras devem-se principalmente as condições climatéricas na altura da floração da cereja”. A Cooperativa de Alfândega da Fé tem cerca de 35 hectares de cerejal. Apesar das quebras, este ano, vão ter mais produção, devido à reconversão que estão a fazer para cerejal biológico. Se na última campanha, a produção rondou as “10 toneladas”, este ano pode chegar às “25 toneladas”. A seca do Verão passado a juntar-se à pouca chuva dos últimos meses e ainda as oscilações das temperaturas durante o dia comprometeu a produção de cereja de Alfândega da Fé.

Jornalista: 
Ângela Pais