Ter, 04/07/2023 - 12:19
Nos próximos dias, os concelhos do distrito de Bragança vão estar em risco muito elevado de incêndio rural e alguns chegam mesmo atingir o risco máximo, o mais grave da escala do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. O risco de incêndio rural é calculado com base nas temperaturas, vento e humidade no ar e precipitação. Em dias de risco de incêndio muito elevado e máximo as queimas e queimadas só podem ser feitas com uma autorização prévia, ainda assim são desaconselhadas. Quanto ao uso de maquinaria, há cuidados a ter e algumas são mesmo proibidas de usar neste período. De acordo com o Major Vítor Romualdo “há uma série de maquinaria que está previsto no diploma que é proibido de utilizar sempre que tivermos dias de perigo de muito elevado ou máximo”, como motorroçadoras, “excepto aquelas que usam cabeça com dispositivo não metálico, como por exemplo o fio de nylon”, corta-matos, destroçadores, motosserras, rebarbadoras ou qualquer máquina com sem “tapa chamas”. Máquinas agro-florestais e respectivas alfaias só podem ser usadas depois do pôr-do-sol, a partir das 21h, até às 11h. No entanto, adianta que há excepções. “Sempre que temos trabalhos associados à alimentação, abeberamento e gestão de animais, tratamentos fitossanitários, regas, podas, transporte de culturas agrícolas que têm que ser de carácter essencial e inadiável também é uma excepção”, afirmou. Esclareceu ainda que é obrigatório o uso de um ou dois extintores, consoante o peso da máquina, se for inferior a 10 toneladas deve usar um, se for superior deve usar dois.
Mas os agricultores podem ou não segar nesta altura?
Segundo o Major Vítor Romualdo, uma vez que estamos numa “época de recolha deste tipo de produto podemos considerar que é algo essencial e inadiável e podem fazer o uso de maquinaria, a qualquer hora”. Mas os agricultores dizem que não é bem assim. Rafael Pires tem cereais em Outeiro, concelho de Bragança. Nesta altura anda já nos “fenos” e na “enfardagem de verde”. Para já ainda pode usar as “segadeiras” e as “enfardadeiras”, mas os “destroçadores” só depois do pôr-do-sol até às 11h. Mas o ano passado foi mesmo obrigado a parar. “A GNR foi ter connosco e mandou-nos parar. Estava alerta vermelho e mandou-nos regressar a casa com as máquinas. Estivemos cerca de três ou quatro dias parados”, contou, dizendo que é “complicado” parar, porque é nesta altura que têm que fazer a colheita. “Já estamos prevenidos com extintor, já nos mandam fazer tudo e mais alguma coisa e obrigam- -nos a parar. Eu acho mal, porque os agricultores não têm outra alternativa senão fazer nesta altura este tipo de colheitas”, afirmou. O agricultor lembra que se o cereal não for colhido no tempo certo fica “ressequido” e “torrado” e a palha “não presta”, porque fica “seca demais”, salientando que se acontecer um incêndio, no cereal propaga-se mais rápido. Por isso, considera que a solução não passa por mandar parar os trabalhos, mas “deslocar equipas dos bombeiros para as zonas onde estão as máquinas a trabalhar”. “Não tenho qualquer lembrança de uma máquina ter pegado fogo, uma debulhadora, uma segadeira, na nossa zona, sempre trabalharam na altura do calor antigamente e nunca houve um fogo provocado por uma máquina agrícola aqui na nossa zona”, frisou Rafael Pires. O produtor de cereal Ernesto Marrão, de Deilão, também partilha da mesma opinião. “Toda a vida se malhou em tempo quente e durante o dia. É verdade que às vezes há risco de incêndio nas máquinas, mas não é só nas máquinas, o incêndio pode ser provocado por qualquer coisa. Eu não concordo com isto, os agricultores têm que fazer as suas colheitas”, reclamou. O ano passado, eram “nove da manhã” quando foi abordado por uma “brigada da GNR” que o obrigou a parar de segar. “O ano passado proibiram-nos de segar, porque diziam que era risco elevado de incêndio, tínhamos que parar”, contou. Mas considera que deveria haver alternativas, para que os agricultores não tivessem que parar as colheitas. “Eu acho que há sapadores com carros de tanques de água, então era mais fácil porem uma brigada perto de máquinas e se houver alguma coisa irem logo lá”, sugeriu. Até porque os agricultores consideram que não “malharem a terra” só será pior, no que toca aos fogos. “Hoje em dia o cereal está mais encostado ao monte, se o monte começa a arder, não deixaram malhar a terra, a terra vai à vida”, disse Domingos Afonso. O agricultor de Carragosa, também no concelho de Bragança, tem centeio, trigo e aveia. Sabe bem dos cuidados a ter nos dias de risco de incêndio muito elevado ou máximo e, por isso, traz sempre o extintor nas máquinas e tem cuidado para “não bater muito com os ferros nas pedras”, para não “causar incêndio”. No entanto, considera que o extintor não será suficiente para apagar o fogo se a máquina começar arder. “Nas minhas máquinas trago sempre o extintor, mas confio mais em cinco ou 10 litros de água do que num extintor. Onde haja muita moinha, que é o que uma máquina debulhadora apanha, o extintor pouco faz, a moinha continua a arder”, disse. Ainda assim, apesar de ter todos os cuidados, receia que este ano aconteça o mesmo que no Verão passado. “Em vez de andarmos uma semana à segada, andamos um mês e isso ainda provoca mais risco de incêndio, porque andamos mais tempo nas terras e o cereal depois de colhido menos risco de incêndio há”, explicou. Para saber qual o nível de perigo de incêndio no seu concelho e os cuidados a ter, as pessoas devem consultar o site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. A GNR de Bragança está a tentar criar uma linha telefónica para facilitar o acesso a toda esta informação, para as pessoas que têm dificuldade em aceder à internet. No distrito há 11 postos de vigia fixos, que permitem detectar precocemente todas as ocorrências relacionadas com os incêndios florestais. Estão colocados consoante a área florestal e os perigos nas localidades.