Reis de Salsas comemorados com dezenas de caretos a darem cor às ruas da aldeia

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Ter, 07/01/2025 - 09:46


18 grupos de caretos, portugueses e espanhóis, desfilaram na aldeia de Salsas

Dezenas de caretos deram cor às ruas da aldeia de Salsas, num dia cinzento e frio, como é habitual no Inverno transmontano. Este sábado, os Reis de Salsas voltaram a comemorar-se e trouxeram até à localizada 17 grupos de caretos da região, como Grijó, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro, Bragança e Mogadouro, mas também do país vizinho. Luís Cabral é natural de Salsas, mas deixou a terra para ir viver para Lisboa, onde está há mais de 20 anos. Lembra- -se de quando era criança desejar que “o ano passasse rápido até ao dia 1 de Janeiro, que era a primeira noite que se vestia de careto”. Apesar de longe, faz questão de estar presente nestes dias. “Uma tradição que nos faz regressar às nossas origens, à nossa essência da aldeia, da infância que se viveu”, contou. E admite que a sensação de vestir a pele de careto é “única”. “Quando me visto de careto sinto coisas que de outra maneira não as conseguiria fazer e não sou apenas eu, há mais alguma coisa comigo”, sublinhou. Segundo Filipe Caldas, da organização, os Reis de Salsas são “genuínos” e “autênticos”. É esta essência que atrai cada vez mais visitantes à aldeia, para poder ver a tradição. Este ano vieram pessoas de todo o país e de Espanha, tendo superado os anos anteriores. “Este ano em Salsas está muito mais gente do que nos últimos quatro ou cinco anos. O que estamos a mostrar é o que temos de bom e as pessoas gostam e vêm outra vez. É genuíno, não quer dizer que seja como há 100 anos, mas está um bocadinho melhor, porque temos os grupos de fora. Os nossos fatos, as nossas máscaras, a maneira como se mexem, como saltam, como se metem com as pessoas, as pessoas gostam de ver e vêm outra vez. Este ano temos 30 ou 40 caravanas”, contou. Os caretos de Grijó também não faltaram, como já é habitual. André Seca, um dos mascarados, realçou que esta é uma forma de manter a tradição, que começa a ter cada vez menos praticantes. Segundo o responsável, atualmente os caretos de Grijó são pouco mais de 15, podendo ser mais nos dias de festa. Um número que o “preocupa”, porque nascem cada vez menos e morrem cada vez mais. De fora da região, os Caretos de Lazarim marcaram presença. Há cinco anos que participam, por “diversão”, mas também porque querem dar a conhecer os seus mascarados. Manuel Pereira destacou que os fatos são diferentes dos da região transmontana, uma vez que são feitos com restos da agricultura, mas as suas máscaras também são “únicas”. “Somos os únicos que fazemos máscaras em madeira, que não têm nenhum tipo de pintura, são peças únicas”, disse. Do país vizinho participaram três grupos, um deles de Alija del Infantado. Os mascarados eram bem distintos do que se veem por aqui, já que as máscaras dão lugar a cabeças de animais e as vestes também são outras. “Cada localidade tem seu traje, que era o que se usava naquela época. Usamos sapatos de esparto, calças de pele de cabra e ovelha, camisa velha de linho e capa de ovelha natural”, explicou Victorino Bilhar. O desfile dos caretos terminou com a queima de uma figura que simboliza o fim do Ano Velho.

Pretérito Imperfeito

As comemorações contaram ainda com a apresentação do livro “Pretérito Imperfeito”, do professor e investigador António Tiza. Um conjunto de contos que dão a conhecer tradições que ainda se mantêm, como é o caso dos caretos de Salsas, os mascarados de Vilarinho dos Galegos e de Vale de Salgueiro, mas também tradições de organização social, como o comunitarismo em Rio de Onor, as vindimas no Douro e a cobertura da amêndoa com açúcar, um produto típico de Torre de Moncorvo. António Tiza reconhece que há tradições que se estão a perder, mas também salienta que há outras que se estão a recuperar. “O caso dos caretos de Arcas, ao lado de Podence, foi recuperado há meia dúzia de anos, com o apoio da Academia Ibérica da Máscara, e está num momento de grande pujança. Antes havia seis caretos, neste momento já são mais do dobro”, frisou.

Jornalista: 
Ângela Pais