Preços de energia disparam e lenha volta a estar na moda

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Ter, 15/11/2022 - 12:58


Com o Inverno a aproximar-se, as pessoas já começam a fazer contas aos gastos que vão ter para tentar suportar o frio

Com a inflação, este ano aquecer as casas vai ficar mais caro, sendo que o aquecimento pode ser variado, desde a electricidade, gás, lenha, pellets ou até gasóleo.

No que toca à electricidade, houve um aumento de 3% na factura mensal da electricidade. Desde Outubro que, para uma família com dois filhos, que tenha uma potência de 6,9 kVA e um consumo de 5 mil kWh por ano, o aumento é de 2,86 euros.

Já o aumento do gás depende dos fornecedores de serviços. No caso da EDP Comercial, a mesma família, com dois filhos, que tenha o segundo escalão e um consumo anual de cerca de 290 metros cúbicos vai ter um aumento mensal de 87 cêntimos na factura mensal.

Se optar por aquecer a casa com pellets, este ano, o valor quase triplicou. Se no início do ano um saco, de 15kg rondava os quatro euros, neste momento já passa os 10 euros.

A lenha também não fugiu à regra, mas o aumento não foi tão significativo.

 

Lenhadores recuperam clientes que perderam para os pellets

À semelhança de todas as outras alternativas, no que ao aquecimento diz respeito, a lenha também está mais cara. Contudo, como a subida parece não ter sido assim tão abrupta, este ano os lenhadores têm mais que fazer porque estão a receber mais encomendas e porque há várias pessoas que, há meia dúzia de anos, se tinham rendido aos pellets e agora, com medo de gastar tanto dinheiro, voltam a procurar a lenha.

Bruno Coutinho, que vende lenha no concelho de Bragança, de onde é natural, e no de Vinhais, explica que a tendência é o retorno de alguns compradores. "Em 2015/16 perdi alguns clientes, que mudaram para os pellets, e agora já voltaram a telefonar, à procura de lenha", esclareceu.

Quem assina por baixo é Francisco Pires. O lenhador, natural de Vinhais, que vende lenha um pouco por todo o distrito, diz que também voltou a reencontrar compradores. "Tenho clientes que já há uns sete ou oito anos não gastavam lenha e este ano estão-me a procurar de novo. Dizem que não conseguem suportar um aquecimento a pellets, que o ordenado não lhes dá para isso", esclareceu.

No geral, tenham ou não sido utilizadoras do aquecimento a pellets, as pessoas, este ano, estão a procurar muito mais a lenha. Bruno Coutinho, que realiza outros trabalhos agrícolas, prestando vários tipos de serviços, criou, há uma década, a "Lenhas Coutinho" e este ano não tem mãos a medir para as encomendas. "Este ano já vendi quase o dobro, comparando com o ano passado", assumiu.

Já o vinhaense Francisco Diz assume que, no que toca a vendas, para já, "estão em números normais". Ainda assim, mesmo que quisesse, assume que também não daria para atender a mais pedidos. "Sempre vendi muita lenha", esclareceu, dizendo que devem ser os 34 anos de experiência e trabalho que o tornam conhecido e, por isso, bom vendedor.

E finalmente, perceba-se então quanto é que a lenha subiu. Afinal quanto custa agora aquecer uma casa se se optar por esta alternativa?

Bruno Coutinho subiu 20 euros a cada carga. Com 31 anos, sendo que de tenra idade arregaçou as mangas para se dedicar à actividade, explicou que agora cada carga de lenha, dos tipos mais vendidos e de preços intermédios, carvalho e freixo, custa entre 420 a 430 euros. "Quando eu comecei a trabalhar, uma carga custava 350 a 370 euros. Em 10 anos penso que não seja uma subida assim tão grande", explicou, assumindo que, com tudo a aumentar, também não lhe restou alternativa se não pôr o produto mais caro. "O preço do combustível e o material para os equipamentos, como motosserras, aumentou... também há sempre material que se parte e estraga e as os arranjos também estão mais caros. Tive mesmo que aumentar", justificou.

Francisco Diz, de 51 anos, que emprega quatro pessoas para o ajudar, fez precisamente o mesmo aumento que Bruno Coutinho: 20 euros. "Vendo vários tipos de lenha mas o mais procurado é o carvalho e o freixo. Se for à carrada, antigamente vendia a 400 euros, agora vendo a 420 por causa do aumento do preço da gasolina e do gasóleo", esclareceu o lenhador, que acrescentou que para se "ir ganhando algum", já que tudo está a subir, não restou grande alternativa que não esta.

Para já, as encomendas para Francisco Diz estão mais ou menos a rondar os números de outros anos, ainda assim, perante o cenário de aumento do custo dos pellets, o lenhador acredita que vai vender, este ano, mais. "Acho que os pedidos vão aumentar até porque a lenha até está barata demais. Penso que a carrada devia custar 500 euros", vincou.

Bruno Coutinho, que diz que, "no que toca aos trabalhos da aldeia, este é o mais lucrativo", até porque "na castanha há sempre altos e baixos, o feno tanto há como não há e a lenha, muito ou pouca, no Inverno, sempre se vai vendendo", tem a mesma opinião: melhor que esta alternativa não deve haver. "Acho que a lenha vai continuar com muita procura. Tenho alguns clientes de padarias que gastavam pellets e agora estão a gastar carvalho, que nem é assim tão barato, mas compensa mais que pellets", afirmou o empresário, que tem um funcionário para o ajudar e que diz que tem vendido muitas cargas mais pequenas e "mais económicas", em carrinha de caixa aberta, muito procuradas por quem tem garagens mais pequenas e pelos estudantes do politécnico de Bragança. A verdade mesmo é que ninguém quer passar frio...

Cada carga de lenha, das grandes (reboque), custa então 420 euros. A média, um pouco pela região fora, é esta. E, segundo explicou ainda Bruno Coutinho, que vai comprando árvores e touças para abater e continuar o negócio, por Inverno podem gastar-se dois tractores de lenha. Mas, "para isso, já é preciso passar muito tempo em casa". Ainda que se gastem, contas feitas, falamos de 840 euros.

Optando pelos pellets, sendo que o saco de 15kg custava cerca de quatro euros no começo do ano e agora pode chegar aos 12, a despesa pode ser de 1200 euros. Para chegarmos a este valor estamos a considerar que se gaste um saco de pellets por dia, durante 120 dias, ou seja, apenas quatro meses, e que esse mesmo saco custe 10 euros.

 

Pellets três vezes mais caros

Nos últimos anos, o sistema de aquecimento o pellets entrou na moda e muitas famílias substituíram o aquecimento que tinham por este novo método.

O saco dos pellets, de 15 kg, rondava os quatro euros, em algumas superfícies comerciais podia até ser mais barato, mas com a inflação tudo mudou. Actualmente, esse mesmo saco pode custar entre 10 a 12 euros.

A empresa F. Pereira, em Bragança, vendia uma palete, de 65 sacos de pellet 100% pinho, cada um com 15 kg, a "285 euros", mas agora a mesma quantidade está a vendê-la a "650 euros".

Segundo a gerente, Manuela Abreu, as famílias com "meios financeiros mais estáveis" e que costumavam comprar a palete, "continuam a comprar". No entanto, os clientes que "costumavam compra 20 a 30 sacos", agora estão a comprar "5 ou 6" devido ao aumento do preço.

Este aumento do preço poderá estar relacionado com a crescente procura pelo produto. Além disso, as importações de pellets de madeira da Rússia estão proibidas, o que significa que a oferta pode não ser suficiente.

Nos últimos dias tem havido uma procura "muito grande" de pellets na empresa, no entanto devido à falta do produto no mercado, só esta terça-feira é que chegará um carregamento de 30 paletes. Mais de metade já estão reservadas. "Nós temos lista de espera em relação à próxima carga que vamos receber. Vou aceitando as encomendas e quando chega contactamos o cliente e fazemos a venda", explicou.

Mas se o preço continuar a aumentar, a quebra de compra de pellets "vai ser um facto". "Quem utilizava o sistema de recuperador ou tenha lenha nas aldeias, que possa ser em termos de matéria-prima uma solução mais económica, vai deixar de utilizar pellets ou então diminuir a temperatura que tem normalmente em casa", frisou a gerente.

Vamos imaginar que para aquecer uma vivenda relativamente grande são precisos dois sacos de pellets. No final do mês, isso traduz-se em 60 sacos. Se o sistema de aquecimento for utilizado de Dezembro a Março, são 240 sacos. Se cada caso custar 10 euros, a família vai gastar 2400 euros. Se a casa for mais pequena e utilizar apenas um saco, durante o mesmo período de tempo, são 1200 euros.

Será que compensa? "Mesmo assim o pellet continua a ser a solução mais económica, relativamente ao gás, que está a subir", na opinião de Manuela Abreu.

 

Ar condicionado "mais eficiente"

Se até aqui, os sistemas de aquecimentos o pellets eram os mais procurados para serem instalados nas casas da região, agora este cenário parece ter mudado.

Na empresa Sofrinor, também em Bragança, a procura por ar condicionados e bombas de calor disparou. Segundo o proprietário, João Machado, a procura está a ser “muito intensa”, ao contrário dos pellets. "Nos outros anos, a compra de equipamento de pellets era brutal, este ano devido ao preço, as pessoas estão a procurar muito pouco essa solução", referiu.

Com o aumento da luz, o ar condicionado pode ser uma boa opção? Para João Machado é a solução "mais económica", "mesmo tendo em conta o aumento da electricidade, porque nunca acompanha o aumento dos combustíveis".

"É a única coisa que consome energia para o seu trabalho, mas multiplica em quatro ou cinco vezes em poder calorifico. Todas as outras energias, como o gás ou pellet, se consumirem 1 KW produzem directamente 1 KW de energia calorifica, logo a eficiência não é tão boa", explicou, frisando que estes aparelhos "não aquecem com a energia eléctrica, eles usam a energia eléctrica para o seu trabalho".

Em Outubro, o uso de ar condicionado num mercado livre custava, a mais na factura da electricidade, entre 20 a 35 euros, consoante o tipo de tarifa. Já no mercado regulado, variava entre os 18 e os 31 euros, também dependendo da tarifa, simples, horas de ponta ou horas de vazio.

Ainda assim, os equipamentos de aquecimento subiram de preço. Instalar ar condicionado pode ser adequado aos bolsos dos brigantinos. O preço varia consoante o número de aparelhos, marca e o tamanho de área que vai ser aquecida.

 

Qual a melhor opção?

Segundo um estudo da Deco Proteste, "para se conseguir aquecer uma divisão durante cinco meses, um termoventilador irá gastar 225,96 euros anuais, já com uma salamandra o pellets a despesa baixa 54 euros por ano e, com ar condicionado, a poupança pode ascender aos 164 euros".

Jornalista: 
Carina Alves e Ângela Pais