Preço do azeite vai continuar a subir num ano que será médio em termos de campanha

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Ter, 14/11/2023 - 11:10


Espanha está em apuros. A campanha não é boa. Sendo este o maior produtor mundial, o país marca os preços. Portugal também produz, mas não tem grande capacidade de ditar valores. Na região espera-se uma campanha “média” só que não dá para respirar de alívio, depois do desastre do ano passado

Chamam-lhe ouro líquido e, na verdade, parece que o termo “ouro” nunca fez tanto sentido. O azeite está a um preço nunca antes visto. Não tarda, vai rondar ou ultrapassar os 10 euros por litro e isto deve-se à situação de seca em Espanha, o país que mais azeite produz no mundo. Ora, assim sendo, Espanha marca o preço nos mercados e os custos vão disparar. O cenário já foi admitido pela Fenazeites. A secretária-geral desta entidade, Patrícia Falcão Duarte, em declarações ao Jornal de Negócios, referiu que Espanha é responsável por 75% da produção mundial e que lá o azeite já custa, o litro, 10 euros. Aqui, segundo disse, pode atingir o mesmo preço em breve. No país vizinho, as primeiras previsões de produção para esta campanha dão conta de um aumento de 15%, em relação ao ano passado, ainda assim, Espanha está mais de 30% abaixo da média dos últimos anos e, por isso, o cenário mantém-se de subida.

Azeite foi o bem essencial que mais subiu de preço

De acordo com a DECO Proteste, o azeite foi o produto que mais aumentou de preço, no último ano, de entre o cabaz de bens essenciais que a associação monitoriza. Uma garrafa de azeite virgem extra, de 750 mililitros, custava, em média, há um ano, 5,49 euros. Hoje custa, em média, 9,56 euros. É uma subida de 74%. O aumento não se deve, acima de tudo, à inflação, mas sim à falta de produção. E, sendo Espanha o maior produtor mundial e estando novamente em apuros, o preço continuará a subir. Portugal também produz azeite, é verdade, mas não tem grande capacidade de influenciar preços e também não vai conhecer grande campanha este ano. O azeite Terra do Sabor, estando a marca sediada em Santulhão, no concelho de Vimioso, não fugiu à escalada de preços. Adrião Rodrigues é o responsável pela marca, sendo que há cerca de 800 produtores que lhe dão origem, resultando de azeitona provinda de Santulhão, Carção, Matela, Junqueira, Izeda, em Bragança, e outras aldeias do concelho de Miranda do Douro, e disse que não havia outro remédio se não subir. “O azeite mais vulgar e barato que temos, que é um azeite bom, virgem extra, está esgotado. Ainda assim, estava a vender-se o garrafão, de cinco litros, entre os 40 e os 45 euros. No início de campanha de há dois anos, o preço mais elevado que tivemos foi 19 euros, os cinco litros. Depois foi sempre subindo. No ano passado, no fim da campanha, chegou aos 26 euros e depois passou para estes valores”, esclareceu Adrião Rodrigues, que vincou que “a lei da oferta obriga a aumentar” e que “o preço aumenta ao não haver azeitona ou haver pouca”. Esta marca tem azeites mais caros, até porque também os tem de “alta gama”, nomeadamente azeites verdes ou de extração a frio, mas este é o mais comum. Quem também subiu ao preço do azeite que comercializa foi Hugo Santos, do Azeite Distintus, produzido em Campo de Víboras, no concelho de Vimioso. “O Distintus nunca foi um azeite barato, sempre se distinguiu pelo preço e qualidade. Neste momento, aumentou-se dois euros à garrafa de meio litro. Vendia- -a a 18, agora custa 20”, clarificou o produtor, sendo que de produção própria tem seis hectares e trabalha ainda com produtores locais de Vimioso, de Mogadouro e de Miranda do Douro. O azeite, cuja marca entrou no mercado em 2014, ainda não é certo que este ano aumente de preço. Depende. “Ainda não comecei a campanha, por isso ainda não sei que custos de produção que vou ter. Já se prevê um grande aumento de electricidade e o maior consumo de um lagar é água e electricidade. Só depois de saber o custo disso é que posso saber o que fazer”, rematou, assinalando que, quem produz, tem de vender “para ganhar dinheiro” e, assim, se se vende um produto a um custo inferior ao custo de produção “o negócio não vai durar muito tempo”. Já João Menéres, da Quinta do Romeu, também assume que é normal que o preço suba. “Tem vindo a subir fruto da má campanha do ano passado. Esta campanha é média e a do ano passado foi péssima, não dá para equilibrar. Espanha teve problemas, de clima, este ano, e, por isso, o preço no mercado internacional continuara a subir. Assim, o nosso preço também sobe porque há também muitos custos de produção, que têm vindo a subir recentemente”, explicou.

Mais azeitona que no ano passado mas o ano não é espectacular

A campanha, este ano, que, para alguns produtores, já começou e para outros está prestes a arrancar, não será famosíssima. Adrião Rodrigues admite que será uma “campanha com pouca azeitona”. Ou seja, “não vai ser uma campanha muito forte, será parecida à do ano passado”. “Esperamos que seja melhor mas não temos muita expectativa”, vincou, explicando ainda que, como as máquinas não entram no terreno, devido às condições climatéricas dos últimos dias, os azeites verdes serão “tardios” e há azeitona a cair, devido ao vento forte que se tem feito sentir. Em termos de qualidade… a história muda de figura. “A qualidade será boa. Vamos ter um bom azeite”, explicou Adrião Rodrigues. Hugo Santos também está pouco animado. Segundo frisou, no ano passado “a campanha foi má”, em quantidade e em qualidade, ainda que não se tenha produzido mau azeite, e este ano não será estrondosamente melhor. “Este ano prevê-se, a nível de quantidade, um bocadinho melhor do que o ano passado, mas também vai ser de pouca quantidade. A nível de qualidade ainda é muito cedo para saber. Nós só vamos começar a campanha no fim do mês. Só nessa altura consigo saber se a qualidade é boa ou não”, esclareceu. João Menéres está mais ou menos na mesma. Para este produtor também não há muito a celebrar, mas a campanha não será um desastre. “O ano passado foi a nossa pior campanha de sempre e este ano estamos a arrancar. É um ano médio mas, comparando com o ano passado, é excelente. Prevemos ter boa quantidade”, assinalou, esclarecendo que “a chuva de Setembro foi boa, assim como a de Junho também, permitindo que o olival tivesse água para o Verão”. Nos olivais de João Menéres, o calor de Maio, um pouco fora de tempo, não causou mossa porque ocorreu uns dias antes da floração. “No ano passado, isso mesmo teve um impacto muito mau, este ano felizmente correu bem”, explicou, salientando que, em termos de qualidade, a azeitona “está muito bonita, com bom tamanho, está saudável” e, por isso, estão reunidas as condições para ser um “ano de excelente qualidade”. 

Gato por lebre

No mês passado, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) de Mirandela apreendeu cerca de 4 300 litros de óleo de bagaço de azeitona, que estava a ser vendido como azeite virgem extra, num valor de 18 200 euros. Foram ainda apreendidos mais de 1 300 litros de azeite que estavam a ser vendidos em mercados e feiras locais, pelo mesmo embalador. Esta apreensão é uma das várias que já se fizeram, no país, nos últimos anos. O azeite não é propriamente barato e há quem tente lucrar com a sua venda, uma vez que há muitas pessoas que, sendo este um bem essencial, não querem deixar de o comprar e, por isso, tentam procurar o mais barato possível. Contudo, muitas vezes, acabam por ser enganadas e comprar algo que pode ser muita coisa menos azeite puro e duro. Adrião Rodrigues não vê grande novidade no que toca às fraudes que tem sido noticiadas porque acontecem “desde sempre”. “Quem sofre somos nós, os lagares”, sublinhou, reclamando que “há falta de fiscalização” pois “há muitas pessoas que vendem azeite virgem extra que não o é e as autoridades deviam ser mais fiscalizadoras”. Já Hugo Santos também não está muito surpreso e “isto não é preocupante, porque sempre existiu”. “Não sei qual é a admiração de ver azeite falsificado. Se temos um garrafão a 50 euros e se vê um a 10… algo não está bem. Quando um produto caro está barato, ou foi roubado ou é falsificado”, assumiu, dizendo que, muitas vezes, “as pessoas são enganadas porque querem”. Para João Menéres “fraude há em todas as actividades económicas” e “cabe às entidades competentes fazer as devidas fiscalizações”. “Confesso que não estou a aperceber-me que haja um problema grande de contrafação e duvido que haja assim tantos operadores ou produtores a correr o risco. Não me parece que seja um risco que compense”, vincou o empresário da Quinta do Romeu.

Roubo de azeitona ainda não é problema na região

Nos últimos dias também foram conhecidos alguns casos de roubo de azeitona. Os roubos começaram em Outubro e foram registados no Alentejo, sendo que estão a aumentar devido ao preço elevado do azeite. Por cá, ainda não soaram os alarmes. Adrião Rodrigues diz que não sabe de nenhuma situação que tenha acontecido, recentemente, no distrito e afirma que, por cá, “nem gente há para trabalhar quanto mais para roubar”. “Não é um problema que se sinta muito. As pessoas da nossa região são maioritariamente idosas e não há grandes aglomerados por isso também não há esse tipo de roubos”. Quem também não considera a situação alarmante é Hugo Santos, mas o empresário reconhece que “isso vai acontecer sempre” e assume que “a culpa é de quem compra”. “Se não houvesse mercado não se roubava. Como há muita gente que compra, porque quem rouba vai vender a um preço mais barato, isto continua a acontecer. Já me tentaram vender azeitona e recusei porque só a compro às pessoas com quem já trabalho. Se assim fosse não havia tantos roubos”, rematou ainda. João Menéres diz que não se tem apercebido que, nos últimos anos, tenham havido grandes roubos na região e assume que esse problema ainda não deve chegar aqui, pelo menos este ano. “Acho que isso tem acontecido mais no sul do país e em Espanha. Parece-me que a escala das produções e proximidade de populações, aqui, inviabiliza roubos”, frisou. Os olivicultores, no Alentejo, estão em alerta e têm que vigiar os seus olivais. Por cá ainda não há preocupações no que a essa matéria diz respeito.

Jornalista: 
Carina Alves