Pedra que caiu da fachada da Igreja de Santa Maria há 10 anos continua por colocar e paróquia teme desgraça

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Ter, 06/02/2024 - 11:09


Câmara de Bragança recebeu orçamento de mais de 45 mil euros para requalificação da fachada, mas até agora obra não foi feita

Há cerca de uma década, uma pedra da fachada da igreja de Santa Maria, situada na cidadela do Castelo de Bragança, caiu e aquilo que se podia ter transformado numa tragédia, acabou por não passar de um susto. Uma pedra, com algumas centenas de quilos, caiu devido à “erosão do tempo”. A paróquia e a mordomia da igreja quiseram resolver o assunto, mas nunca pensaram que a situação se viesse arrastar por tantos anos. Dez anos depois e a pedra continua por colocar e a fachada da igreja por requalificar. A mordomia vem agora denunciar a situação, porque está farta que nada se faça e teme que mais alguma pedra volte a cair e que desta vez seja uma desgraça. Jorge Martins está há mais de duas décadas na mordomia da igreja e, por isso, lembra-se bem do dia que tudo aconteceu. “Tivemos a sorte não estar ninguém em baixo. Se fosse a um sábado e houvesse ali um casamento, tínhamos ali uma desgraça”, contou. Contou que foram encetadas várias diligências e que contactaram “o IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico) e passado meia dúzia de meses apareceu uma equipa de seis elementos”. “Viram o que se passava e disseram que iam fazer um lançamento de isto e estivemos para aí cinco anos à espera que o IGESPAR fizesse o levantamento de uma pedra. Passados cinco anos contactámos uma empresa de Bragança para pintar a igreja, compor o telhado e deu-nos um orçamento na ordem dos 6 mil euros para pôr uma pedra igual, com granito velho. Entretanto, passado um mês e meio apareceu uma equipa do IGESPAR, do Porto, a dizer que não podíamos fazer nada e tínhamos que esperar que fosse feito o levantamento”, contou. Mais uma vez, a mordomia viu-se obrigada a esperar. Veio a saber que o IGESPAR apresentou um orçamento de cerca de “45 mil euros” à câmara municipal, para que fosse requalificada a fachada, o que Jorge Martins é um absurdo, tendo em conta a disparidade entre o orçamento que apresentaram e o que foi apresentado pelo IGESPAR. “Vieram cá três equipas, uma de Lisboa e duas do Porto. O valor que essa gente quer gastar para fazer o levantamento, dava para compor a igreja, por fora e por dentro”, vincou. A mordomia disse não ter esse dinheiro para requalificar a fachada e, por isso, pediu ajuda à autarquia, mas passaram dez anos desde que tudo aconteceu e até agora nada foi feito. “A mordomia não pode avançar com a obra, sem ter um suporte, que assumam os custos da obra”, disse. Jorge Martins disse já ter contactado, por telefone, várias vezes o IGESPAR, mas que nunca ninguém atendeu. “A pedra continua por pôr. Estamos neste impasse e já estamos nisto há 10 anos”, afirmou, salientando que “é uma falta de respeito por quem manda no IGESPAR”. A mordomia receia que mais pedras possam cair. “O problema é que aquilo pode estar em derrocada outras pedras que estavam juntos com aquela. Pode cair amanhã, como também pode estar outros anos sem cair nada, mas estamos dependentes disso”, disse. Segundo Jorge Martins, na igreja de Santa Maria “entra mais gente no mês de Agosto, do que em todas as igrejas no distrito de Bragança num ano”. “Se no Museu Militar, no mês de Agosto, entram 40 mil pessoas, há muita gente que não sobe ao castelo e vão para a igreja e para a Domus. É uma igreja que devia ser bem preservada”, referiu. A igreja de Santa Maria, também conhecida por igreja da Nossa Senhora do Sardão, é um dos tempos religiosos mais antigos de Bragança. A sua construção terá começado nos séculos XI e XII. A arquitectura é predominantemente barroca e advém das sucessivas obras levadas a cabo ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. A fachada da igreja, de onde caiu a pedra, remonta ao século XVI. Contactada a Diocese Bragança-Miranda, disse que não teve qualquer reunião sobre o assunto e esclareceu que a igreja de Santa Maria é da responsabilidade da Paróquia de Santa Maria. Adiantou ainda que o dossier deste projecto está na Câmara Municipal de Bragança e que foi feito um pedido à autarquia para ajudar a financiar as obras, mas, até agora, a paróquia não recebeu qualquer resposta. O Padre Calado, responsável pela Paróquia de Santa Maria, disse que não iria prestar declarações. Referiu apenas que todos os 15 de Agosto, data da celebração da padroeira Nossa Senhora do Sardão, apela à câmara municipal para que se resolva o problema e alerta ainda para o perigo de ruína da fachada. Segundo a paróquia, os peritos municipais, depois de uma avaliação, concluíram que não haverá possibilidade de voltar a cair mais pedras da fachada. Já a Câmara Municipal de Bragança disse estar disponível para resolver o problema. Paulo Xavier, presidente da câmara em exercício, admitiu que a autarquia recebeu um orçamento para a requalificação da fachada da igreja. No entanto, salientou que “não foram dados os passos certos” e atribuiu responsabilidades às entidades competentes, uma vez que “a câmara municipal não é proprietária”. “Estamos a falar de um património classificado e esta intervenção carece de um parecer da CCDR-N (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte). Por isso, estas instituições devem coordenar- -se entre sim. O município como está sempre ao lado da solução está disponível para apoiar a solução que virá a ser encontrada”, referiu, acrescentando que o município mandou fazer um estudo. Paulo Xavier destacou ainda o investimento que a câmara municipal tem feito no património religioso do concelho, nomeadamente na igreja de Santa Maria, tendo recentemente financiado, com “34 mil euros”, obras de melhoria, nomeadamente para pintura e recuperação do telhado da infra-estrutura. No entanto, a CCDR-N, em resposta ao Jornal Nordeste, referiu que a Igreja de Santa Maria “não é monumento classificado”, contrariando as declarações de Paulo Xavier, explicando que está “apenas abrangida pela zona especial de proteção do Castelo de Bragança”. Acrescentou ainda que o imóvel “não é propriedade Estado Português” e, por isso, a responsabilidade das obras é do proprietário da Igreja, ou seja, a paróquia de Santa Maria. Concluiu explicando que o IGESPAR “sucedeu a Direção Geral do Património Cultural e não a Direção Regional de Cultura do Norte”, o que significa não têm responsabilidade sobre qualquer parecer.

Jornalista: 
Ângela Pais