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PALAÇOULO sega à moda antiga

Ter, 02/08/2005 - 16:17


Longe vão os tempos em que a região do Planalto Mirandês era conhecida por ser um dos “celeiros de Portugal”, dada a elevada produção de trigo e centeio desta região transmontana.

Naquele tempo, há cerca de meio século, no início de cada Verão, as aldeias do Planalto eram invadidas por grupos de segadores que tentavam ganhar a “jeira”, já que as condições de vida eram difíceis e as pessoas como menos recursos tinham que se agarrar aos trabalhos mais árduos.
Para não deixar morrer esta tradição, a Caramonico – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro, deitou mãos à obra e recriou uma segada à moda antiga.
Esta iniciativa tem como principal objectivo dar a conhecer aos jovens este ritual, que caracteriza esta região e, ao mesmo tempo ensiná-los a segar, visto que alguns deles também participaram nesta tarefa.

Segadores andavam
de terra em terra

Domingos Martins, um dos participantes nesta tarefa, é industrial de cutelaria e garantiu que “esta recriação foi feita com a mesma pureza com que esta faina era feita antigamente”.
Apesar deste trabalho ser muito duro, já que tem de se começar a trabalhar muito cedo, está carregado com um forte simbolismo de inter-ajuda entre os habitantes da mesma região, numa espécie de trabalho comunitário.
“Noutro tempo era a partir da ceifa que se arranjava o pão para os filhos e a palha servia de alimento para os animais durante os Invernos rigorosos que se viviam na região”, salienta Domingos Martins.
Manuel Martins tem de 84 anos e recorda como eram as segadas de antigamente. “Comecei a segar ao 13 anos e, naquela altura, ganhava sete e quinhentos, mas tinha que lhe pegar ao nascer do sol e só parava quando o sol se punha”, lembra este popular.

A música aliviava
o cansaço

Após as primeiras quatro ou cinco horas de trabalho, havia uma pausa para almoçar onde o prato principal, eram as famosas “sopas de segadas”, confeccionadas à base de pão, alho e ervas aromáticas e temperadas com água de cozer carne, que naquele tempo era considerado um petisco.
Depois desta pausa seguia-se a “carreja”, ou seja, o transporte do cereal para a eira num carro puxado por mulas ou vacas, para depois ser malhado e “estrilhado”, onde se separava a palha do trigo.
O trabalho era duro, mas cada um tinha funções no terreno bem definidas. As mulheres faziam a ceifa e o atar dos molhos era coisa para os homens.
Durante esta actividade árdua, a música ao som do realejo era a maneira encontrada pelos trabalhadores para aliviar o cansaço no final da segada.